Apresentação
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma condição crônica caracterizada por níveis elevados de pressão arterial, geralmente acima de 140/90 mmHg. É um quadro multifatorial, influenciado por fatores genéticos e ambientais, como sobrepeso, ingestão excessiva de sódio e sedentarismo. Embora frequentemente assintomática, a HAS pode resultar em implicações clínicas diversas, contribuindo para um número crescente de óbitos e incapacidades.
Com alta prevalência, a HAS causa um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas afetadas, com estimativa global de 10,8 milhões de mortes evitáveis por ano e uma carga de 235 milhões de anos de vida perdidos ou vividos com deficiência. Contudo, muitos fatores de risco associados à HAS podem ser modificados ou controlados a partir da mudança nos hábitos de vida. Na gestão desses fatores, a Atenção Primária à Saúde (APS) desempenha um papel crucial, proporcionando uma abordagem econômica e eficaz.
Como o primeiro e mais constante ponto de contato com os pacientes, a APS oferece uma oportunidade para reduzir os riscos à saúde e melhorar a qualidade de vida dos hipertensos. Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) são fundamentais nesse contexto, devido à sua proximidade e vínculo com a comunidade, o que facilita o acesso às famílias e a construção de relações de confiança. Esse relacionamento permite que os ACS eduquem e incentivem a adoção de hábitos saudáveis desde a infância, além de realizar intervenções precoces e contínuas. Portanto, é essencial que esses profissionais se mantenham constantemente atualizados sobre as melhores práticas, novas diretrizes e avanços científicos na área.
A partir do exposto, o objetivo deste trabalho é relatar a experiência de discentes na capacitação de ACS do município de Arapiraca, agreste alagoano, destacando sua contribuição na prevenção e controle da HAS e a importância da educação permanente nesse processo.
Desenvolvimento do trabalho
O presente trabalho é um estudo descritivo do tipo relato de experiência, que descreve 2 (dois) encontros realizados com agentes comunitários do IV Centro de Saúde. A experiência ocorreu como parte do Projeto de Extensão “Intervenção educativa no contexto da Hipertensão Arterial Sistêmica: capacitação de profissionais da Atenção Primária à Saúde de Arapiraca - AL”, desenvolvido por acadêmicos e docentes do curso de Medicina da Universidade Federal de Alagoas, campus Arapiraca. Estes elaboraram o “Protocolo de educação em saúde para controle e prevenção da Hipertensão Arterial Sistêmica: subsídios para atividades educativas”, um guia com diretrizes práticas para o manejo da pressão arterial nos cuidados primários, orientando a realização dos encontros.
Nesse contexto, buscou-se promover o aprimoramento dos profissionais de saúde do município para que estejam aptos a atuar na prevenção e no controle da HAS. A princípio, após a chegada dos participantes à sala reservada para a ação, iniciou-se uma dinâmica caracterizada por 4 (quatro) etapas consecutivas, que poderiam ser replicadas tanto com pacientes hipertensos quanto com aqueles em risco de desenvolver a condição em virtude de fatores como sedentarismo, tabagismo e alimentação inadequada.
Na primeira parte do encontro, os participantes responderam a um quiz com 7 (sete) perguntas sobre a HAS, formuladas a partir das Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, para avaliar seus conhecimentos prévios, seguindo-se com debate e entrega de um folder educativo. A segunda etapa enfatizou o papel da alimentação no controle dos níveis pressóricos a partir de imagens de alimentos classificados por cores (vermelho, amarelo e verde), considerando seus malefícios e benefícios; nesse momento, também foi entregue um panfleto educativo.
A terceira fase incentivou a incorporação de exercícios físicos na rotina, com orientações sobre o tipo e a frequência de realização, usando materiais improvisados do cotidiano, além da entrega de um folder autoexplicativo. Na última etapa, foi realizado o jogo nomeado “MI-HAS: Monopólio de Informações da Hipertensão Arterial Sistêmica”, com um tabuleiro e cartões com perguntas e respostas, que destacou a importância da adesão ao tratamento medicamentoso e às Mudanças de Estilo de Vida (MEV) para o controle adequado da pressão arterial.
Resultados
As duas reuniões em grupo, conduzidas por acadêmicos de Medicina da Universidade Federal de Alagoas com profissionais do IV Centro de Saúde, no município de Arapiraca - AL, contaram com a participação de 5 (cinco) e 3 (três) ACS, respectivamente. Em ambas, todos os participantes eram do sexo feminino. A explicação dos 4 (quatro) encontros descritos no “Protocolo de educação em saúde para controle e prevenção da Hipertensão Arterial Sistêmica: subsídios para atividades educativas” foi realizada de forma interativa com as ACS, instigando a sua participação ativa e, assim, simulando como elas devem aplicar o protocolo com pacientes hipertensos. Os discentes também relembraram às participantes como a aferição da pressão arterial e a verificação das circunferências corporais devem ser executadas, obtendo o entusiasmo dessas profissionais.
O quiz sobre a HAS, aplicado durante o debate sobre a primeira etapa do protocolo, avaliou o conhecimento prévio das trabalhadoras e permitiu sanar dúvidas sobre a patologia. No segundo momento, a dinâmica sobre alimentação possibilitou que as ACS classificassem os alimentos em grupos, com base em suas opiniões individuais sobre os benefícios e riscos para os hipertensos. Esse debate permitiu a elas o entendimento de que alguns alimentos comuns na alimentação brasileira podem causar prejuízos aos níveis pressóricos quando consumidos em excesso.
Somado a isso, a inclusão de exemplos práticos dos exercícios físicos na terceira etapa foi fundamental para que as ACS compreendessem como executá-los corretamente. Ademais, como elas mantêm um contato próximo com a comunidade, a discussão sobre a adaptação de materiais domésticos para a simulação de pesos foi essencial para facilitar a execução de exercícios resistidos. Por sua vez, o uso do jogo de tabuleiro na explicação do quarto encontro permitiu a fixação do que foi abordado sobre tratamento medicamentoso e não medicamentoso da HAS. A presença de hipertensas entre as ACS que integraram as reuniões garantiu enriquecimento ao debate coletivo, visto que elas vivenciam o quadro diariamente e têm fortes opiniões acerca dos seus hábitos de vida.
Por fim, embora as modificações no modo como as informações sobre a hipertensão são repassadas aos pacientes tenham gerado certa resistência inicial, todas compreenderam a efetividade do método e se mostraram dispostas a implementar o protocolo. Assim, ficou evidente a importância da educação permanente para os trabalhadores de saúde, especialmente para os ACS, considerando sua atuação na prevenção de doenças e agravos e na promoção da saúde.
Considerações finais
Em virtude da ação realizada, conclui-se que, embora a HAS seja uma condição clínica de surgimento antigo, a sua alta prevalência torna necessária uma educação continuada acerca dessa temática, com o intuito de diminuir os seus índices de acometimento. Sendo assim, vê-se imprescindível a efetivação de intervenções educativas que busquem capacitar trabalhadores de Unidades Básicas de Saúde, a fim de incentivá-los a promover educação em saúde para pacientes hipertensos. Desse modo, evidencia-se a experiência relatada como exitosa, uma vez que contribuiu positivamente para a capacitação de profissionais, bem como para prevenção e controle da HAS.