Introdução: A prematuridade e o baixo peso ao nascer (BPN) são responsáveis por cerca de 60% dos óbitos infantis no Brasil. A produção do cuidado em saúde às crianças nascidas nessas condições exige dos trabalhadores de saúde, um olhar mais atento no que diz respeito às ações de saúde que visam ganhos de peso e de estatura enquanto importantes parâmetros ao crescimento e desenvolvimento infantil. O objetivo deste recorte é refletir sobre os efeitos biopsicossociais à mãe de uma criança que, dentre outras necessidades, também precisa ganhar peso. Desenvolvimento do trabalho: Pesquisa qualitativa com perspectiva cartográfica que utilizou ferramentas como: usuário-cidadão-guia (UCG) enquanto dispositivo para nos conduzir em sua trajetória rumo ao cuidado em saúde e Diário Cartográfico (DC) enquanto recurso para anotações/apreensão dos acontecimentos. O ponto de partida foi o Ambulatório de Estimulação Precoce (AEP) localizado nas dependências do Consórcio de Especialidades em Saúde de um município de grande porte da região sul do país, período de out/2020 a out/2021. A equipe multiprofissional do AEP indicou a família para acompanhamento do estudo e a mãe-guia compartilhou os desafios relacionados à necessidade de ganho ponderal de sua criança com BPN e prematura. Resultados: As narrativas sobre a produção de cuidado com o binômio evidenciam o sofrimento emocional da mãe, pela culpa atribuída a ela sobre o não ganho de peso da criança. Tais evidências surgem nas falas de familiares e amigos, a partir da comparação do peso entre crianças na mesma idade, fragilizando as relações com a rede de apoio. Mas, principalmente, pela cobrança fundamentada na ciência, na qual profissionais de saúde insistem em analisar os resultados apresentados por balanças antropométricas e gráficos analíticos sem considerar: o relato da mãe, o contexto social e até mesmo o histórico de ganho ponderal familiar. Atribuindo a mãe, o “fracasso”, de sua missão no ganho de peso para seu bebê, mesmo que este esteja saudável, como observado na seguinte fala: “Me sinto sem chão. É como se tudo que eu fizesse até agora estivesse errado. É como se eu não cuidasse da criança. Sabe? Saio de lá triste de verdade!” Diante disso, podemos afirmar que há uma redução da potência materna, nesta associação da fundamentação científica com a concepção de saúde que alguns trabalhadores trazem para o encontro com os usuários. Considerações finais: Ressalta-se que os dados antropométricos como peso e estatura são importantes para o DNPM global. Contudo, a análise destes dados deve ser acompanhada de uma escuta qualificada, com olhar integral e focado no contexto familiar, livre de julgamentos sobre a realidade do outro. Sob o risco de uma quebra de vínculos com os profissionais de saúde, a descontinuidade do cuidado e malefícios à saúde mental do binômio mãe-filha. Faz-se necessário apontar essa discussão nos protocolos e nas linhas de cuidados para que a prática do não julgamento materno torne-se rotina/realidade nos atendimentos e não um peso para as mães de crianças com dificuldade de atingir um ganho ponderal tido como “adequado”.