Apresentação: A Violência contra as Mulheres (VCM) compreende variados determinantes e condicionantes, sejam eles culturais, biológicos, psicológicos e sociais que se relacionam como fatores de risco ou de proteção de sua ocorrência. As normas de gênero vigentes também desempenham repercussões nos casos de VCM, uma vez que a masculinidade hegemônica, construída socialmente, está fortemente envolvida em comportamentos violentos. Nesse sentido, a Lei Maria da Penha, de 2006, e a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, de 2009, incentivam ações que envolvam os homens, inclusive os Homens Autores de Violência (HAV). Entre essas ações, cita-se a atuação dos grupos reflexivos para HAV. Diante disso, objetiva-se apresentar as características de dois grupos reflexivos para HAV enquanto estratégia para superação da VCM. Desenvolvimento: Estudo qualitativo, realizado com sete pessoas atuantes em dois grupos reflexivos para HAV, sendo um no município de Florianópolis e outro em Blumenau, Santa Catarina, Brasil. Coletou-se os dados entre maio e julho de 2023 por meio de entrevistas, analisadas pela Análise Temática. Ressalta-se que a pesquisa não possui o intuito de traçar comparações entre os grupos, mas sim lançar luz para as abordagens grupais com o objetivo em comum a superação da VCM. Resultados: A formação profissional se concentrou nas áreas da psicologia e assistência social. O tempo de atuação no grupo reflexivo variou de seis meses e 20 anos, em que as pessoas atuantes nos grupos assumiram papeis como facilitador, supervisor, coordenador, além de equipe reflexiva, responsável pela observação e compartilhamento das reflexões finais, ao término de cada encontro. Os grupos utilizaram como referencial as teorias feministas, o construcionismo social, a teoria sistêmica e materiais do Instituto NOOS. Nos dois grupos, a participação dos HAV se deu pelo encaminhamento judicial, de modo que os grupos não estabeleceram critérios fixos e pré-determinados para participação dos homens. Em Florianópolis, o grupo reflexivo era fechado e somente presencial, em 12 encontros semanais, com a participação média de 12 a 20 homens. Em Blumenau, por sua vez, o grupo era aberto e apresentava tanto a modalidade presencial quanto online. Os encontros ocorreram de forma semanal ou quinzenal, de seis meses a um ano por ciclo, com a participação de 15 a 20 homens. Tanto em Blumenau quanto Florianópolis cada encontro teve duração média de uma hora e meia. A assiduidade de participação dos homens aos grupos era atrelada à medida judicial que impõe a obrigatoriedade na participação. Todavia, em Blumenau, houve relatos de adesão voluntária de homens ao grupo. Considerações finais: Por sua complexidade, a VCM envolve diferentes necessidades e que, por isso, são essenciais as intervenções dos mais variados setores da sociedade. Além das ações individuais, se faz primordial as ações coletivas, multiprofissionais e interdisciplinares, considerando diversas áreas e públicos, retirando essa incumbência de um único setor, como a segurança. Assim, acredita-se que a atuação dos grupos reflexivos para HAV se caracteriza como uma estratégia potente de enfrentamento e superação da VCM.