INTRODUÇÃO
A inclusão escolar de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) perpassa o modelo tradicional da medicina, adentrando na interdisciplinaridade. Além da equipe de saúde, familiares, amigos, professores do Atendimento Educacional Especializado (AEE) e demais professores também desempenham importante papel no processo. O empenho dos profissionais da educação é fundamental em estudos que tratem a respeito da melhor maneira de incluir pessoas com deficiências (PCD), sendo necessária a capacitação docente para além da identificação e manejo do TEA.
O estudo se justifica pela necessidade de ampliar o debate sobre a temática e tem como objetivo analisar as evidências científicas acerca do processo de inclusão escolar de crianças com TEA.
METODOLOGIA
Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura desenvolvida em seis etapas, que buscou responder a questão norteadora: “Quais as evidências científicas acerca do processo de inclusão escolar de crianças com TEA?”.
A busca e seleção dos estudos ocorreu em dezembro de 2023 por meio do acesso às bases de dados Medical Literature Analysis and Retrieval System on-line (MEDLINE), Base de Dados em Enfermagem (BDENF), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Foram utilizados os descritores controlados e não controlados selecionados nos Medical Subject Headings (MeSH) e Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e combinados entre si com os operadores booleanos OR e AND: Child/Children/Criança/Crianças, Mainstreaming, Education/Education Mainstreaming/Inclusão Escolar/Inclusão na Escola e Autistic Disorder/Autism/Transtorno Autístico/Autismo.
A seleção dos estudos foi realizada por dois revisores com auxílio do gerenciador de referências Rayann, seguindo o fluxograma Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analyses (PRISMA). Foram incluídos os estudos primários relacionados à temática, publicados em português, inglês e/ou espanhol, nos últimos 10 anos. Trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses, editoriais e aqueles que não responderam à questão norteadora foram excluídos.
As variáveis título, ano de publicação, país, desenho do estudo e principais resultados foram extraídas. A síntese e análise dos dados foram realizadas de forma qualitativa, descritiva e o nível de evidência (NE) dos estudos foi classificado. As informações obtidas foram apresentadas por meio de quadros.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Sete estudos compuseram a amostra final da revisão, publicados entre 2014 e 2023, seis nacionais e um internacional. Eles foram classificados com NE VI (evidências derivadas de um único estudo descritivo ou qualitativo) e apresentaram como principais resultados a necessidade do diálogo entre a instituição e os familiares da criança com TEA, as limitações relacionadas aos professores e formas de enfrentamento e interações por parte das crianças com outros alunos.
Diante dos achados, emergiram-se duas categorias temáticas.
3.1 Barreiras no processo de inclusão escolar de crianças com TEA
A inexistência da formação específica dos professores em relação ao TEA é uma das principais barreiras no processo de inclusão escolar, o que resulta uma compreensão limitada das necessidades individuais dos alunos com TEA e das estratégias adequadas para apoiá-los. Além disso, os sentimentos de ansiedade e insegurança dos professores em lidar com comportamentos desafiadores dos alunos foram amplamente relatados, refletindo a necessidade urgente de programas de capacitação e suporte emocional para os educadores.
Pesquisa brasileira publicada em 2021 apresentou que cerca de 88% dos professores entrevistados afirmaram que não tiveram nenhuma disciplina sobre TEA durante o período de graduação, resultando em insegurança quanto ao processo de inclusão. Evidencia-se um problema estrutural nos cursos de licenciatura que não trazem em suas grades curriculares disciplinas voltadas à temática. Além disso, menos da metade dos entrevistados (11%) tinham realizado algum curso sobre TEA e inclusão.
Outro estudo apontou que a maioria dos professores entrevistados apresentavam sentimento de medo e insuficiência em relação ao trabalho de inclusão de crianças com TEA. Esses dados apontam para a necessidade da ampliação do debate sobre o tema a fim de conscientizar os profissionais da importância de buscarem aperfeiçoamento.
Segundo a investigação anterior, docentes formados recentemente apresentavam maior segurança e otimismo em relação à inclusão de crianças com deficiências, pois cursaram alguma disciplina durante a graduação. Evidenciando uma mudança significativa, vem ocorrendo nos cursos de licenciatura e bacharelado em ciências da educação, incorporando debates e disciplinas voltadas à inclusão, em suas grades curriculares.
Além do despreparo dos profissionais da educação infantil para promover a inclusão de crianças com TEA, diferentes autores citam outras barreiras como: falta de recurso e material didático nas escolas e carência de acessibilidade nas instituições, especialmente as de iniciativa pública.
Uma das estratégias utilizadas é a redução do tempo de permanência no ensino regular, ou seja, os alunos com deficiências têm a frequência de estudo reduzida com o intuito de adaptação à escola, não há comprovações científicas da eficácia de tal metodologia a fim de comprovar ou contestar essa estratégia.
A falta de diálogo e colaboração entre pais e professores, bem como o estigma e preconceito constituem barreiras no processo de inclusão. Dessa forma, a interação e participação ativa dos pais, professores de sala de aula, professores da educação especial devem ser incentivadas, a fim de prestar uma assistência integral e de qualidade.
3.2 Estratégias facilitadoras da inclusão escolar de crianças com TEA
Crianças com TEA possuem maior dificuldade em formar amizades. A investigação demonstrou que apenas 20% das crianças entrevistadas possuíam amigos na escola, aquelas que possuíam amigos tinham maior facilidade de desenvolverem atividades em grupos e os professores analisados não utilizavam estratégias de facilitação de amizades entre os alunos.
O trabalho colaborativo entre profissionais da educação e da saúde, especialmente fonoaudiólogos, é importante para desenvolver e implementar estratégias. Uma das abordagens fundamentais destacadas é a promoção da comunicação eficaz, considerando as necessidades individuais de cada criança com TEA. Além disso, a criação de ambientes estruturados e previsíveis, com rotinas claras e apoio emocional adequado, emerge como uma estratégia-chave para promover a participação e o bem-estar dos alunos.
A importância da atividade física e do profissional de educação física no trabalho de inclusão dos alunos deve acontecer de forma ideal e a escola deve fornecer os recursos necessários e os profissionais capacitados.
CONCLUSÕES
Salienta-se que, apesar da ampliação do debate acerca da inclusão de crianças com TEA, nos últimos anos, é necessário intensificar as discussões, principalmente, entre os professores em sala de aula, pois a falta de capacitação dos profissionais da educação inicial é uma barreira para a inclusão escolar dessas crianças. A educação continuada e a permanente tornam-se aliadas da causa.