Apresentação: Os Grupos de Pesquisa se constituem a partir das articulações entre movimentos sociais, trabalhadoras e trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS), estudantes, docentes, técnicos educacionais e administrativos, além de pessoas da comunidade que o compõem. Sendo assim, os grupos de pesquisa desempenham um papel essencial na formação de pesquisadores e no desenvolvimento da pesquisa e do país. No caso do Grupo de Pesquisa em Enfermagem, Saúde Mental e Coletiva da Universidade Federal de Pelotas composto majoritariamente por mulheres que se construíram através das relações sociais e de suas construções diretamente ligadas aos movimentos sociais. Suas histórias se entrelaçam na construção de pesquisas que ecoem e que façam sentido para os usuários do SUS, que transformem e construam as políticas públicas através das pesquisas. Neste sentido, a ação da pesquisa se constitui pelo fazer com as pessoas, sejam elas crianças, adolescentes, adultos e/ou idosos. Este trabalho tem por objetivo apresentar reflexões sobre as ações de um grupo de pesquisa interessado em produção de afetos e sentidos em contraponto à produtividade academicista que encerra suas ações em torno de interesses pessoais e ensimesmados. Desenvolvimento e Resultados: Há mais de duas décadas de atividades, o Grupo de Pesquisa em Saúde Coletiva e Saúde Mental em Enfermagem constrói pesquisas a partir das demandas, interesses e pontos de vista dos usuários da rede SUS. Neste sentido, o grupo reafirma ao produzir abordagens e metodologias qualitativas e quantitativas que aproximem as pesquisas das comunidades em questão e da vida cotidiana das pessoas, por meio do entendimento que as mesmas constituem-se em seus territórios. O Grupo reafirma seu compromisso e alinhamento das pesquisas com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), desenvolvendo pesquisas de avaliação de serviços da rede de saúde mental (RAPS), análises de políticas públicas, estudos sobre determinantes sociais da saúde, novas abordagens em saúde mental e com essa perspectiva o grupo também desenvolveu no hall em pesquisas com o público infantojuvenil. Além disso, tem sido foco das atividades do grupo a pesquisa participativa com as comunidades locais e desenvolvimento de métodos de pesquisas que incluam diferentes perspectivas e vozes. A participação popular é fundamental para fortalecimento e funcionamento do SUS, pois permite que as pessoas tenham voz nas decisões. Outrossim, sem desvincular-se dos movimentos sociais das lutas sociais de base e na luta pela saúde mental coletiva, e que garanta os princípios do SUS promulgados pela Constituição Federal, da universalidade, equidade, integralidade, descentralização e da participação popular. As pesquisas são construídas em estreita participação e colaboração das comunidades, famílias e usuários para que haja entendimento sobre as necessidades e que as atividades/intervenções sejam culturalmente adequadas e eficazes para as pessoas que serão beneficiadas. O grupo de pesquisa também realiza atividades como a participação e promoção em eventos científicos, orientações sobre métodos, promoção de disciplinas para a graduação e pós-graduação, que visem novas abordagens em saúde mental na contemporaneidade. É importante destacar que a política de saúde mental é o caminho para o desenvolvimento das pesquisas em saúde mental coletiva. Os desafios para a consolidação da política de saúde mental dependem de ações de pesquisa que estejam engajadas no fechamento progressivo dos manicômios, no aumento da disponibilidade de leitos psiquiátricos em hospitais gerais, no financiamento dos serviços substitutivos (CAPS, residenciais terapêuticos, volta pra casa), além da integração da saúde mental na atenção primária e o fortalecimento das associações de usuários de saúde mental. Devemos destacar aqui a participação dos movimentos sociais, tais como a Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Pelotas (AUSSMPE), Fórum Gaúcho de Saúde Mental (FGSM), Coletiva de Mulheres Ouvidoras de Vozes (COMOV) no grupo de pesquisa, acontece uma vez por mês e que conta com os usuários(as), trabalhadores(as) na apresentação dos temas de relevância no âmbito da Saúde Mental e da Luta Antimanicomial, sua participação se dá também a partir de temas emergentes e pautas relacionadas a composição da participação popular dos usuários(as) no comitê de ética e pesquisa da Faculdade de Enfermagem da UFPel, avaliando projetos de pesquisa e construindo uma ciência com a sociedade civil organizada.
Queremos destacar, que a atuação do grupo de pesquisa sempre foi voltada para os problemas sociais emergentes na sociedade. Neste formato, tivemos a experiência da Pandemia de COVID-19, a partir de um edital emergencial 06/2020 - ciência e tecnologia no combate à Covid-19 consolidamos uma série de atendimentos à população e aos trabalhadores da rede voltados para o cuidado em saúde mental de forma online, imediatamente discutidos no coletivo e construído projeto de pesquisa e extensão de escuta qualificada. Atualmente o estado do Rio Grande do Sul está vivendo a maior catástrofes climáticas da sua história, onde cidades foram destruídas parcialmente ou em sua totalidade. Para contribuir com essa crise também sanitária a Faculdade de Enfermagem montou uma grande equipe de apoio às vítimas da enchente na cidade de Pelotas, onde está sediado o grupo de pesquisa. Os encontros mensais do grupo tem uma participação de aproximadamente 30 pessoas, de maneira aberta ao público e com livre arbítrio para a participação. Considerações finais: Desta forma, o presente grupo de pesquisa está em consonância com a Lei Nacional da Reforma Psiquiátrica e aposta nas pesquisas que reafirmam o lugar dos sujeitos no cuidado em liberdade e garantindo assim seus direitos como pessoa humana. As pesquisas encontram-se nas premissas da constituição de 1988 onde após muita luta dos movimentos sociais e trabalhadores(as) garantiram por lei os princípios e diretrizes do SUS devidamente consolidados com a participação popular a partir das Conferências de Saúde e diretamente ligados ao processo de Reforma Psiquiátrica legitimada no Brasil a partir da Lei 10.216 que prevê o fechamento progressivo dos manicômios/hospitais psiquiátricos que historicamente violaram e ainda violam os direitos das pessoas, conforme referenciais bibliográficos apontam. Na sociedade contemporânea, precisamos garantir a consolidação de uma rede de serviços substitutivos e que, no lugar onde a vida acontece sob a perspectiva da atenção psicossocial fortaleça as singularidades das pessoas e reconstrua o cotidiano em liberdade e ressignifique a vida das pessoas a partir de projetos de vida conjuntamente estruturado e com a participação das pessoas com sofrimento psíquico.