Apresentação: O dia a dia de trabalho de profissionais da atenção básica envolve vivenciar afetos relacionados ao prazer e ao sofrimento. Em geral, pesquisas na área costumam identificar mais as vivências de sofrimento do que de prazer. No entanto, estas últimas, de acordo com a teoria da Psicodinâmica do Trabalho, são fundamentais para a saúde mental de quem trabalha. O objetivo desta pesquisa foi analisar as vivências de prazer no trabalho de profissionais da Atenção Básica. Desenvolvimento: Nesse sentido, foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória por meio de grupos de escuta no âmbito da Atenção Básica em Saúde na cidade de Belém (PA). Participaram da pesquisa 19 profissionais de saúde de duas unidades básicas da capital. A participação foi de Agentes Comunitárias de Saúdes (16), médico (1), técnica em enfermagem (1) e serviços gerais (1), majoritariamente do sexo feminino. Esses grupos baseados na metodologia da Psicodinâmica do Trabalho visaram promover a mobilização coletiva dos trabalhadores, a partir dos espaços de fala e escuta, tendo por finalidade transformar a organização do trabalho. Foram feitos de 5 a 6 encontros com cada grupo com duração de 1h30 a 2h. Os encontros foram gravados, transcritos e analisados da técnica de Análise de Núcleo de Sentido (ANS). Resultados: Verificamos a partir das falas das trabalhadoras que o prazer está relacionado a sentimentos de gratidão dos usuários pelos cuidados em saúde prestados e ao restabelecimento da saúde da comunidade. As trabalhadoras relataram muita satisfação quando viam que seus usuários conseguiram acessar exames e consultas especializadas. O prazer também veio do vínculo mais duradouro proporcionado pela relação de trabalho com a população na atenção básica. Várias relataram prazer em poder acompanhar diversas gerações de uma família. O reconhecimento no trabalho foi identificado como produtor de significados identitários no sujeito, transformador do sofrimento em prazer. No entanto, foram poucas as expressões dele entre as participantes. Além disso, o trabalho coletivo foi relacionado também como vivências de prazer, já que o convívio com os colegas aliviava a sobrecarga do serviço e acabava produzindo estabilidade nas relações de trabalho. Apesar disso, nem todas as relações com colegas de trabalho puderam ser relacionadas com vivências de prazer, várias delas também envolviam sofrimentos, demonstrando a complexidade das relações humanas no trabalho. Considerações finais: Foi possível perceber que o prazer no trabalho desses sujeitos existe, ainda que em meio a tantas dificuldades, como a sobrecarga de trabalho, as precárias condições de trabalho que envolvem falta de materiais, locais de trabalho inadequados e também relações de trabalho onde há pouco reconhecimento vindo de profissionais nos cargos de gestão das unidades de saúde.