Apresentação: O Brasil é um país no qual furacões não ocorrem, e os abalos sísmicos têm baixa intensidade. Todavia, inundações causadas por enchentes e deslizamentos de terra são alguns exemplos de fenômenos que, frequentemente, afetam os brasileiros. Devido as mudanças climáticas, a regularidade, a gravidade e a duração destas catástrofes têm aumentado de forma preocupante, acarretando uma adaptação governamental por parte do Estado e da sociedade civil. As classes sociais apresentam diferentes graus de vulnerabilidade, de modo que acentuam as situações de violência às meninas e mulheres na ocorrência destes eventos. As recentes enchentes no estado do Rio Grande do Sul (RS) corroboram com o exposto acima. Assim, objetiva-se lançar luz para a Violência Contra as Mulheres (VCM) diante da situação de desastres no Brasil. Desenvolvimento: Trata-se de um ensaio reflexivo acerca da relação entre a VCM e a ocorrência de desastres no Brasil. Resultados: Em 2008, fortes chuvas atingiram 60 municípios por enchentes e deslizamentos de terra no estado de Santa Catarina, resultando em 150 mortes e 80 mil desalojados; em 2011, na região serrana do Rio de Janeiro, deslizamentos e enchentes, ocasionaram 900 mortes e 35 mil desabrigados; as inundações no estado do RS, iniciadas no final de abril, já somam mais de 160 óbitos e dois milhões de afetados, sendo mais de 500 mil desalojados. O Brasil possui, desde 2012, a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDC). Todavia, a PNPDC se mostra sobretudo tecnicista, de modo que não aborda, por exemplo, as questões de gênero para o reconhecimento das singularidades e vulnerabilidades dos grupos populacionais afetados por desastres. A violência e, especificamente, a VCM, neste contexto, surge em diferentes escalas de tempo, didaticamente, nos períodos pré, trans e pós desastre, representados por insegurança habitacional, econômica, alimentar, dependência de álcool e outras drogas, traumas e demais problemas de saúde mental. A ocorrência destes eventos aumenta as tensões e vulnerabilidade para situações de VCM. Além disso, as mulheres são majoritariamente as principais responsáveis por crianças, idosos e outros membros da família ou comunidade, de modo que esse cuidado é diretamente afetado mediante uma catástrofe climática. Considerações finais: Entende-se que, dada a relevância desta temática, carecem os estudos e as políticas para redução do risco de eventos climáticos extremos sensíveis ao gênero, especialmente que levem em consideração a inclusão das mulheres como agentes de mudanças. Apesar das mulheres serem aquelas que mais sofrem neste contexto de risco, o empoderamento feminino opera como importante meio para superação da pobreza, de contextos vulneráveis na busca por cidades resilientes, e para o alcance dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Por fim, serviços de proteção social e de saúde, aliados a projetos educativos, em rede e de forma interdisciplinar, podem auxiliar na construção de uma cultura permanente de prevenção a desastres e gestão de riscos, colaborando com o bem-estar, qualidade de vida e proteção do meio ambiente.