A doença falciforme (DF) é a doença hematológica hereditária mais comum no mundo. Caracteriza-se como uma hemoglobinopatia devido à uma alteração genética na cadeia beta da hemoglobina A (HbA). A consequência dessa mutação é a distorção das hemácias, fazendo com que esta tenha formato de “meia-lua” ou “foice”, o que leva à vaso oclusão e desoxigenação dos tecidos, com lesão crônica e progressiva de órgãos e tecidos, e à anemia hemolítica crônica pela destruição precoce das hemácias falcizadas. A DF é um problema de saúde pública no Brasil devido a sua epidemiologia e alta morbimortalidade. Segundo o Ministério da Saúde, a incidência para a doença é de 1:1.000 nascidos vivos, e de 1:35 para o traço falciforme. Por ser uma doença de origem africana, ela é mais prevalente em negros e pardos. O diagnóstico no Brasil mais abrangente é realizado pelo teste do pezinho, na Triagem Neonatal (Portaria GM/MS no 822, de 6 de junho de 2001). Também são realizados testes em outras faixas etárias por exame de eletroforese de hemoglobina, em gestantes na rede cegonha, e na doação de sangue. O referido trabalho constitui parte do projeto de extensão “REORIENTAÇÃO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM ODONTOLOGIA–UFRJ- EXPERIÊNCIAS NO SUS COM ÊNFASE NOS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE E FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS PERIODONTAIS”, e tem como objetivo esclarecer a associação entre doença falciforme e a saúde bucal, informando aos alunos de odontologia sobre as especificidades da doença, sua epidemiologia e suas manifestações clínicas e complicações relacionadas à saúde bucal para um efetivo cuidado em saúde. Para sua execução, foi realizada uma avaliação qualitativa de diferentes fontes bibliográficas: artigos, manuais do Ministério da Saúde e Biblioteca Virtual em Saúde, publicadas entre os anos de 2012 e 2023. A DF se caracteriza como uma doença crônica e progressiva, com lesão e falência de múltiplos órgãos e sistemas, anemia crônica, crises agudas de dor e com intercorrências clínicas severas. Na cavidade bucal pode apresentar como manifestações clínicas a palidez na mucosa, língua despapilada e pálida, atraso na erupção dentária, dentes com opacidades, maloclusões, calcificações pulpares, alterações ósseas, além de maior risco para as doenças cárie e doença periodontal. As complicações bucais mais frequentes são a osteomielite mandibular, a neuropatia do nervo alveolar inferior, a necrose pulpar assintomática em dentes hígidos, além de dor orofacial e dor dental decorrente das crises vaso oclusivas. Assim destacamos a relevância da educação em saúde para o cuidado em saúde bucal e controle do estado inflamatório e de infecções por serem fatores desencadeantes das crises falcêmicas, complicações gerais e hospitalizações. A DF apresenta manifestações e complicações bucais constantes nos pacientes e cabe ao cirurgião-dentista ter conhecimento sobre as especificidades da DF e intercorrências odontológicas com a finalidade de prevenir crises, proporcionar ao paciente uma abordagem qualificada e humanizada, tratamento odontológico adequado com o correto manejo clínico, promovendo assim a saúde, melhor qualidade de vida e longevidade às pessoas com DF.