O estado do Rio Grande do Sul vive um de seus momentos mais dramáticos em relação às catástrofes climáticas, que têm se tornado mais frequentes e intensas, impactando de forma significativa a vida das pessoas, especialmente as mulheres em situação de abrigamento temporário. Esta nova realidade, tem sido comparada a um grande terremoto, devido ao poder destrutivo das enchentes que afetam o Estado de forma tão abrangente e intensa que é possível fazer esta comparação, segundo especialistas da área ambiental. A reconstrução de várias cidades será praticamente total, uma vez que os recursos ficaram prejudicados, principalmente a infraestrutura para o transporte, dificultando a locomoção, evacuação das áreas de risco e resgate das vítimas, além da segurança alimentar e energética que também aparecem como dificuldade subsequente, a impossibilidade de levar comida, energia e medicamentos, se tornaram desafios. Neste sentido, para mitigar os efeitos da crise sanitária a Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas montou uma grande equipe de apoio às vítimas da enchente e uma das ações é a realização de rodas de conversa para aliviar as tensões em mulheres que estejam fora de suas casas nesse momento tão crítico, assim o objetivo deste trabalho é: apresentar um relato de experiência sobre as oficinas de cuidados com mulheres em situação de abrigamento devido às catástrofes climáticas no Rio Grande do Sul.
Desenvolvimento do trabalho
Realizou-se o contato com a coordenadora do abrigo temporário para conhecer o perfil das pessoas que estavam acolhidas e as necessidades delas para o momento, além de combinar o dia para início das atividades. Para o desenvolvimento das oficinas, houve uma preparação com a utilização de material pedagógico, com encontros via chamada de vídeo pela plataforma WhatsApp® para os profissionais e estudantes. Foram planejadas oficinas de cuidados específicos para atender as necessidades dessas mulheres, com o intuito de proporcionar suporte emocional, informações sobre saúde e direitos, promover estratégias de enfrentamento dos desafios durante e após as catástrofes climáticas. As atividades foram planejadas e executadas pelas professoras e estudantes dos cursos de psicologia e enfermagem de uma universidade pública do sul do Rio Grande do Sul, promovendo uma abordagem multidisciplinar e integrada. O espaço destinado para a realização das oficinas foram no próprio lugar de acolhimento temporário, proporcionando um ambiente seguro e acolhedor para as participantes.
A proposta das atividades centraram-se em proporcionar apoio emocional, as rodas de conversa tinham como orientação dinâmicas de grupo e sessões de relaxamento, com o objetivo de promover escuta compassiva e acolhimento para que as mulheres pudessem compartilhar suas angústias, medos e dificuldades emocionais decorrentes de catástrofes. A psicologia esteve presente para oferecer suporte individualizado caso alguma das participantes sentisse necessidade e orientações sobre estratégias de enfrentamento e fortalecimento emocional. Também foram oferecidas informações sobre saúde e direitos. Foram promovidas palestras e debates sobre saúde sexual e reprodutiva, prevenção de doenças, cuidados com a saúde mental e direitos das mulheres. Além de tudo, o espaço contava com outros profissionais de saúde: médico, nutricionista, e assistentes sociais que ofereciam informações relevantes e esclareceram dúvidas das mulheres, visando capacitá-las para tomar decisões conscientes e assertivas sobre sua saúde e bem-estar. O trabalho teve como enfoque a promoção de estratégias de enfrentamento: foram oferecidas oficinas práticas, como técnicas de respiração, exercícios de relaxamento, atividades artísticas e culturais, visando promover o autocuidado, a resiliência e o fortalecimento pessoal das mulheres. Estratégias de prevenção e preparação para futuras catástrofes climáticas também foram discutidas, incentivando o empoderamento das mulheres para enfrentar desafios futuros.
Resultados e Impacto:
Devido a magnitude dos desastres climáticos e dos eventos com múltiplas vítimas é preciso considerar novas formas de assistência tanto nos primeiros atendimentos quanto na continuidade do cuidado às pessoas. Considerando o cenário atual, entende-se que o acolhimento e testemunho são dispositivos potentes para a reconstrução das histórias singulares e também de uma história coletiva que refere-se a todos os envolvidos. As oficinas de cuidados com mulheres em situação de abrigamento alcançaram resultados significativos: empoderamento das mulheres, que passaram a ter maior conhecimento sobre seus direitos, saúde e estratégias de enfrentamento, fortalecimento dos vínculos sociais e emocionais, proporcionando um espaço de apoio mútuo e solidariedade entre as participantes, melhoria da saúde emocional e bem-estar das mulheres, reduzindo sintomas de ansiedade, depressão e estresse, capacitação das mulheres para lidar com situações de emergência e catástrofes climáticas de forma a mitigar os danos causados pela catástrofe.
Percebe-se que o contexto do desastre corresponde a um evento traumático que afeta as pessoas individualmente, mas também a comunidade como um todo, por esta razão o acolhimento, o testemunho e a escuta são elementos imprescindíveis para o processo de recuperação e reconstrução. As oficinas promovem o acolhimento de forma a contemplar uma recepção calorosa e solidária às mulheres afetadas pelo desastre, permitindo que elas pudessem expressar suas emoções de forma livre e sem exigir detalhes sobre o que elas presenciaram para que sentissem seguras e protegidas em suas falas. A garantia do testemunho vivenciado pelas vítimas envolveu validar suas experiências, reconhecendo a dor, o sofrimento e o impacto que tiveram em suas vidas, expressando que não foram apenas danos materiais. Evidenciou-se o papel ativo da enfermagem ao ouvir suas histórias, respeitar suas narrativas e dar espaço para expressar sentimentos, medos e preocupações e garantiu-se a escuta ativa e compassiva daquilo que é essencial para ajudar as pessoas a processar suas emoções, reconstruir sua resiliência e encontrar formas de seguir em frente após o desastre. Isso envolve não apenas ouvir o que as pessoas estão dizendo, mas também compreender suas necessidades emocionais, físicas e práticas. A escuta empática permite que as pessoas se sintam compreendidas, valorizadas e apoiadas em sua jornada de recuperação.
Considerações finais:
As oficinas de cuidados com mulheres em situação de abrigamento devido às catástrofes climáticas no Rio Grande do Sul demonstraram ser uma estratégia eficaz e necessária para atender às necessidades específicas dessas mulheres, promovendo apoio emocional, informação, empoderamento e fortalecimento pessoal. Portanto, o acolhimento, o testemunho e escuta são pilares fundamentais do apoio psicossocial em situações de desastre coletivo, proporcionando conforto, validação e esperança às pessoas afetadas enquanto trabalham juntas para reconstruir suas vidas e comunidades. É fundamental continuar investindo em iniciativas como essa para garantir a proteção e o bem-estar das mulheres em situações de vulnerabilidade diante das mudanças climáticas e suas consequências.