Apresentação: A Doença de Parkinson (DP) é uma patologia neurodegenerativa e progressiva, que acomete as células dopaminérgicas presentes na substância negra do mesencéfalo, cuja etiologia é desconhecia. Os distúrbios neurológicos são agora a principal fonte de incapacidade no mundo, e a DP é o distúrbio que mais cresce. Em estimativas baseadas na utilização de serviços de saúde, a incidência de DP varia de 5/100.000 a mais de 35/100.000 novos casos anualmente. A incidência aumenta 5 a 10 vezes da sexta à nona década de vida. A prevalência da DP também aumenta com a idade e os homens é o gênero mais acometido por esta enfermidade. A doença foi descrita pela primeira vez, em 1817, pelo inglês James Parkinson e caracteriza-se pelas manifestações clínicas motoras e não motoras, sendo que os principais sintomas motores são o tremor em repouso, bradicinesia, rigidez muscular e instabilidade postural. O conjunto desses sintomas afetam vários aspectos da vida dessa população, inclusive a marcha. Este meio de locomoção é uma atividade fundamental para os seres humanos, visto que permite o indivíduo acessar de forma independente ambientes variados, com o objetivo de realizar as atividades de vida diária e participar da vida social e comunitária. A marcha é definida como a propulsão do corpo para a frente, aliada a coordenação rítmica de todos membros e ao controle do equilíbrio dinâmico do centro de massa do corpo. Pacientes com DP podem apresentar limitações para realizar essa sequência de eventos rápidos e rítmicos, tendo em vista os movimentos incoordenados, a redução da velocidade da marcha, a diminuição do comprimento da passada, e os padrões de caminhada caracterizados pela flexão de joelhos e a anteriorização do tronco. Além disso, diferente dos sujeitos saudáveis que utilizam uma sequência rotacional crânio-caudal, os indivíduos com DP giram simultaneamente esses segmentos ao realizar uma curva, o que dificulta a execução deste movimento ao deambular. Essas deficiências de marcha estão ligadas a incapacidades significativas porque levam a redução da mobilidade, quedas e as consequentes lesões ou fraturas. Nesse contexto, nota-se a importância de incluir na abordagem fisioterapêutica a avaliação objetiva da capacidade de exercício funcional, com intuito de determinar um plano de tratamento mais efetivo e indicar a progressão de perda funcional, a qual é a característica mais evidente na DP. O teste de caminhada de 6 minutos (TC6M) é uma ferramenta que avalia o nível submáximo de capacidade funcional, e pode refletir melhor o nível de exercício funcional para as atividades físicas diárias, as quais geralmente são realizadas em níveis submáximos de esforço. Além disso, o teste combina curvas e caminha em linha reta, simulando ao que é realizado no dia a dia. Outro fator importante, é a possibilidade de predizer o risco de morbidade e morbimortalidade, indicando o nível de saúde desta população. Ela é amplamente usada em contextos clínicos, frequentemente como medida de resultado para avaliar uma intervenção, e é descrito como altamente confiável e clinicamente útil para avaliação motora de pacientes com DP. Objetivos: Avaliar a capacidade funcional em pacientes com doença de Parkinson assistidos em uma clínica-escola de fisioterapia de Vitória – ES. Desenvolvimento do trabalho: Estudo observacional transversal descritivo, realizado no período de março a maio de 2023, em uma amostra de conveniência de 22 pacientes, assistidos no setor de neurologia de uma Clínica Escola de Fisioterapia de Vitória – ES, este estudo foi aprovado pelo comitê de ética da EMESCAM sob o parecer n° 5.783.735 e respeita a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde referente a pesquisa com seres humanos. Adotou-se como critérios de inclusão pacientes com diagnóstico clínico da DP de ambos os sexos, que concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos pacientes que apresentaram outras doenças neurodegenerativas associadas, bem como aqueles que apresentaram no Mini-Exame do Estado Mental uma pontuação menor ou igual a 23 pontos e na classificação de incapacidade para doença de Parkinson Hoehn e Yahr um estágio igual a 5. A coleta dos dados foi realizada em duas etapas, a primeira consistiu em coletar o perfil sociodemográfico e clínico dos participantes e a segunda, em avaliar a funcionalidade por meio do TC6M. Para realização do teste, os participantes foram instruídos a caminhar um percurso de 30 metros durante 6 minutos e antes e após o teste, foram mensuradas a pressão arterial sistólica e diastólica, a frequência cardíaca (FC), a frequência respiratória, a saturação de O2 e a percepção subjetiva do esforço por meio da escala de Borg. Ademais, foram coletados o peso e a altura dos indivíduos, bem como calculada a FC submáxima (85% da FC máxima) e a distância percorrida predita, para mensurar o percurso que os indivíduos deveriam percorrer e classificar o risco de morbimortalidade, graduado em elevado, muito elevado e elevadíssimo. Os dados foram tabulados em uma planilha Excel-Office e analisados pelo programa IBM SPSS Statistics (Statistical Package for the Social Sciences) versão 29. As variáveis de natureza categórica foram analisadas por meio de frequências e percentuais, e as numéricas por meio de medidas de resumo de dados como mediana e mínimo e máximo. Resultados: Dos 22 pacientes selecionados, 11 participantes atenderam aos critérios de inclusão. O sexo masculino representou (54,5%) da amostra, enquanto o sexo feminino (45,5%). Os resultados do TC6M evidenciaram que (36,4%) dos participantes apresentaram elevado risco de morbimortalidade, (45,5%) muito elevado risco e (18,2%) elevadíssimo risco. Além disso, a mediana da distância percorrida foi 280 (80-370) e a predita 538 (452-630). Considerações finais: A maioria dos pacientes estudados apresentaram elevado risco de morbimortalidade, e a mediana da distância percorrida exibiu um valor muito inferior a predita, o que mostrou o déficit na funcionalidade dos participantes e um risco de vida considerável, constituindo fatores que podem estar presentes em diferentes estágios da DP, incluindo as fases iniciais da doença. Dessa forma, a aplicação do TC6M pode ser uma ferramenta útil para identificar alterações funcionais que afetam diretamente a qualidade de vida e monitorar a progressão dessas modificações, a fim de elaborar planos de tratamento mais específicos, incluindo o treino aeróbico, o qual retarda os sintomas motores responsáveis em grande parte pelo acometimento da capacidade funcional.