Introdução: As vacinas são as intervenções mais bem-sucedidas e efetivas na promoção da saúde no mundo e para que ofereçam proteção eficiente, precisam atingir altos índices de adesão. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) é reconhecido internacionalmente como um dos programas de maior relevância em intervenção em saúde pública, entretanto desde 2016 vem enfrentando quedas em sua cobertura vacinal. No contexto da pandemia da COVID-19 e infodemia, no ano de 2022, foi iniciado o Projeto Curumim, um ensaio clínico de não inferioridade, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), que teve como objetivo de avaliar a eficácia, imunogenicidade e segurança da vacina inativada contra SARS-CoV-2 (Coronavac) comparada com a vacina BNT162B2/Pfizer, em crianças e adolescentes de 3 a 17 anos. Foram incluídas 1125 crianças e adolescentes no estudo. Desse total, 460 participantes, de 5 a 17 anos, foram elegíveis à randomização, para receber o imunizante inativado ou o imunizante da PFIZER. Destes, um contingente significativo de 119 indivíduos (25%) não aceitou se submeter à esta randomização por recusa à vacina Pfizer e preferência pela vacina inativada. Diante disso, foi estabelecido um braço aberto no estudo, no qual os participantes arrolados receberam a vacina Coronavac, sem o protocolo de cegamento. Os resultados foram analisados de forma independente do grupo randomizado e cego, para excluir vieses. No entanto, esse comportamento de escolha de vacinas, que já era observado na prática cotidiana, foi evidente e influenciou este ensaio clínico envolvendo vacinas contra a COVID-19.
Objetivo: Relatar a experiência dos pesquisadores do Projeto Curumim, sobre a hesitação vacinal, especificada aqui como braço aberto, ocorrida no percurso de uma dada pesquisa com vacina de COVID-19.
Resultados: A hesitação vacinal pode se manifestar de diversas formas, desde a recusa completa, atraso ou recusa parcial, como ocorre com a escolha seletiva de vacinas. Esta última abordagem, muitas vezes chamada de "sommelier de vacinas", reflete uma hesitação específica em relação a determinadas vacinas ou tecnologias de imunização, enquanto outras são aceitas ou preferidas. Os indivíduos que adotam essa postura podem ter uma variedade de motivos para suas escolhas. No caso a vacina contra a COVID-19, o imunizante BNT162b2 da Pfizer, contém nova tecnologia, uma plataforma de mRNA que trouxe preocupação com relação a segurança, danos futuros e outras incertezas, sem evidências científicas. Essa forma de hesitação vacinal pode apresentar desafios únicos para os profissionais de saúde e autoridades de saúde pública. A hesitação seletiva também pode levar a lacunas na cobertura vacinal e aumentar o risco de surtos de doenças preveníveis por vacinação.
Considerações Finais: Para abordar a hesitação vacinal com escolha seletiva de vacinas é importante que os profissionais de saúde ampliem seus conhecimentos em comunicação em saúde e estejam preparados para dialogar de forma aberta e empática. Em última análise, estudar este tipo de hesitação vacinal em participantes de pesquisa será um desafio necessário para garantir a participação, compreensão e aceitação das vacinas em ensaios clínicos e promoção de uma cultura de participação em pesquisas e confiança na ciência.