Apresentação: A população ribeirinha vive em situação de vulnerabilidade social, demarcada por aspectos geográficos, econômicos, sociais e educacionais. Esse cenário repercute no letramento funcional em saúde mensurado pela habilidade de ler, interpretar e decodificar informações em saúde, cujas limitações podem comprometer a qualidade de vida. Deste modo, o objetivo deste estudo foi analisar os fatores associados ao letramento funcional em saúde e a qualidade de vida de ribeirinhos da Amazônia paraense usuários da atenção primária à saúde. Desenvolvimento do trabalho: Estudo transversal, desenvolvido com 312 usuários de uma equipe de saúde da família ribeirinha. A coleta de dados ocorreu na unidade de saúde e nos domicílios doa participantes, utilizando dois questionários, o teste de letramento em saúde com os pontos de corte adequado (75 a 100), limitado (60 a 74) e inadequado (0 a 59), e o Study Short Form 12 Health Survey com escore contínuo de qualidade de vida física e mental. De acordo com a literatura, construiu-se um modelo teórico que avaliasse as associações sociodemográficas com os desfechos de letramento funcional em saúde e a qualidade de vida. O desfecho de letramento funcional em saúde foi considerado como duas variáveis dicotômicas (inadequado versus adequado e limitado versus adequado), enquanto os desfechos de qualidade de vida foram considerados como contagens, apresentando distribuição de Poisson. Desta forma, utilizou-se um modelo de equações estruturais para realizar o ajuste. Resultados: Apresentaram letramento funcional em saúde adequado 17% dos ribeirinhos. Com relação ao letramento limitado, o lixo inadequado apresentou associação estatisticamente significativa (p< 0.001). Os ribeirinhos com até ensino fundamental (p= 0.002) e aqueles com idade acima de 60 anos (p= 0.040) tiveram maior associação com letramento inadequado. Os problemas em saúde (p< 0.001), letramento inadequado (p< 0.001), faixa etária de 40-49 (p= 0.004) e 50-59 (p< 0.001) e possuir até um filho (p=0.02) estiveram associados negativamente com a qualidade de vida física. Por outro lado, sexo (p= 0.045) e ensino fundamental (p< 0.001) tiveram associação positiva com a qualidade de vida física. Para a qualidade de vida mental, faixa etária de 40-49 (p= 0.032) e 60 mais (p< 0.001) e possuir bolsa família (p= 0.002) se associaram negativamente, enquanto coleta de lixo inadequado (p= 0.023) se associou positivamente com a qualidade de vida mental. Considerações Finais: O letramento funcional em saúde e a qualidade de vida física foram relacionados com as variáveis sociodemográficas e ambientais de ribeirinhos, de modo, o saneamento básico, baixa escolarização, idades mais avançadas tiveram piores níveis de letramento funcional em saúde. Já a qualidade de vida física dos ribeirinhos foi afetada em problemas em saúde, letramento inadequado, a partir de 40 anos e baixa natalidade, do mesmo modo, que a qualidade de vida mental foi afetada na mesma faixa etária e em beneficiários de bolsa família. Portanto, a atenção primária à saúde junto às comunidades tradicionais carece de reconhecimento dos principais fatores sociodemográficos que interferem nos níveis de letramento funcional em saúde e qualidade de vida para implementar políticas públicas e impactar nas decisões em saúde.