Emergências climáticas no Rio Grande do Sul: as equipes de trabalho no acolhimento às vítimas de enchente

  • Author
  • Mirian Quênia Costa da Rosa
  • Co-authors
  • Ariane da Cruz Guedes , Isadora Oliveira Neutzling , Jéssica Farias Pedrozo D’ Ornellas , Larissa Dall’ Agnol da Silva , Luciane Prado Kantorski , Valéria Cristina Christello Coimbra , Sandra Regina Caldeira Brito
  • Abstract
  • No interior do estado do Rio Grande do Sul, na cidade de Pelotas, a população estimada de acordo com IBGE (2020) é de 325.689 habitantes. Desde abril de 2024, estamos enfrentando a maior tragédia climática e sanitária já vista na história do Brasil. É sabido que as emergências climáticas cada vez mais devastam as cidades diante da falta de planejamento urbano nas cidades das encostas dos rios, lagoas e mares. 

    Segundo os dados, mais de 85% do estado passa por situação de calamidade pública, deixando milhares de refugiados climáticos que hoje encontram-se em alojamentos públicos e privados para minimizar o impacto da situação vivenciada.  Diante deste contexto, os municípios rapidamente se organizaram para auxiliar essas famílias que perderam absolutamente todo seu patrimônio, além das memórias vivas de suas famílias e identidades pessoais e também comunitárias.

    Desta forma, o cenário é devastador e tem sido articuladas redes de apoio à população afetada pela catástrofe, integrando gestores de saúde e assistência em parcerias com as universidades públicas e privadas,  movimentos sociais e voluntários, que trabalhando exaustivamente,prestando a assistência necessária de acolhimento  e apoio às pessoas que encontram-se desabrigadas.  Segundo os dados apresentados pela prefeitura, até o momento, 726 pessoas encontram-se em abrigos de gestão municipal.

    Identificadas as áreas ou zonas de risco, foi necessária a conscientização das pessoas em relação a evacuação nos seguintes bairros de Pelotas: Vila da Palha, Cruzeiro, Umuharama, Charqueadas, Doquinhas, Mário Meneghetti, Estrada do Engenho, Mauá, Quadrado, Lagos do São Gonçalo, Parque Una, Ambrósio Perret, Ceval, Balsa, Fátima, Navegantes, Simões Lopes (fundos), Recanto de Portugal, Laranjal (Santo Antônio e Valverde), Pontal da Barra, Colônia Z3, Marina Ilha Verde, Village Center JK e Pantano. Essas localidades foram consideradas zonas de risco para alagamentos expressivos, sendo criado pelo Serviço de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas juntamente com a Prefeitura de Pelotas um mapa de risco, onde a zona vermelha caracterizava a área crítica.

    Diante dos fatos, os últimos dados apresentados pela Prefeitura Municipal de Pelotas, no dia 28 de maio, informaram que o nível da Lagoa dos Patos encontra-se em 2 metros e 28 milímetros, com dificuldade na medição, visto que o nível do Canal São Gonçalo está apontado em 2 metros e 91 milímetros.

    Nesta mesma data, a Prefeitura de Pelotas divulgou oficialmente a relação de locais e número de pessoas alojadas: Salão paroquial João Paulo 2º, Colônia Z3 - 154 pessoas; Escola Estadual Edmar Fetter, na Rua Cinco, 100, Laranjal - 146 pessoas; Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia (ESEF), na Rua Luís de Camões, 625, Três Vendas - 113 pessoas; Ginásio da antiga AABB, agora da UFPel, na rua Alberto Rosa, 580, Centro – 96 pessoas; Cenáculo, Av. Dom Joaquim, 1618, Três Vendas - 42 pessoas; Terezinha Futebol Clube, R. Santo Antônio, 86 - Três Vendas - 19 pessoas; CAVG, Av. Ildefonso Simões Lopes, 2791: 98 pessoas; Exército da Salvação, Av. Fernando Osório, 6475 (pessoas adultas com deficiência ou acamados): 09 pessoas.

    Neste sentido, as equipes de trabalho, conjuntamente estão organizadas para o acolhimento, cuidado em saúde mental, assistência em saúde e muito além desta, estão recebendo alimentos, produtos de higiene pessoal, roupas e cobertores, os quais  passam  pelo processo de triagem e, após, sendo destinados às famílias, garantindo assim uma ação que supra as necessidades das pessoas no momento.

    O Rio Grande do Sul, além de passar por uma enchente,  enfrenta o frio rigoroso abaixo de 10 graus em diversas localidades. A cidade de Pelotas, conseguiu de alguma forma, realizar um planejamento, pois as águas do Guaiba chegariam ao extremo Sul do estado, posteriormente às proporções da região metropolitana de Porto Alegre.

    Desta forma, precisamos pensar na exaustiva jornada de trabalho dos profissionais que estão atuando na linha de frente nessa crise humanitária e também sanitária. passaram-se quase dois meses e o deslocamento de trabalhadores da saúde e assistência visa que sejam realocados com plantões e reorganização de serviços estruturais na itinerância dos acontecimentos e das necessidades vigentes nesse momento.

    No município de Pelotas, com o adiantar dos acontecimentos, as estruturas da atenção primária foram organizadas e divididas por territórios de abrangências e por um sistema que envolveu inúmeros voluntários, com envolvimento da sociedade civil e das universidades públicas e privadas da cidade e região. Além disso, somam-se  as doações do setor privado que, de forma solidária, contribuíram com as ações de mantimento de alimentação, produtos de higiene pessoal, doação de roupas, colchões e cobertores, considerando a frente fria que  se aproxima.

    O grupo de Pesquisa Enfermagem, Saúde  Mental e Coletiva da Faculdade de Enfermagem da UFPel também disponibilizou um curso de “Primeiros cuidados em saúde mental nas Enchentes”, além das frentes de trabalho necessárias nesse período: grupos de apoio semanais realizados presencialmente ou grupos de apoio virtual de escuta, para os estudantes da UFPel que foram atingidos pela crise climatérica e também, grupos presenciais de apoio para famílias com crianças atípicas deslocadas climáticas.

    É importante destacar, que os refugiados climáticos ou vítimas da enchente necessitam de acolhimento e escuta qualificada, uma vez que os mesmos encontram-se vulneráveis e incertos da possibilidade de retornar  às suas moradias, somando-se os sintomas de ansiedade e traumas relacionados às cenas vivenciadas. Diante dessa situação, o papel das equipes de trabalho é a construção e reconstrução do que as vítimas apresentam como queixa principal nesse momento.

    Outrossim, precisamos reconhecer o papel de toda população voluntária que de alguma forma está à frente de diversas ações nos abrigos e alojamentos disponíveis na cidade. Devemos,também, considerar que além dos procedimentos realizados pelas equipes de enfermagem e assistência, o papel do brincar,foi de suma importância nos espaços de recreação, visto o número expressivo de crianças abrigadas. Assim, contamos com a organização dos profissionais e estudantes das universidades que além da separação dos brinquedos, organizam estruturalmente os espaços para o brincar, que é fundamental para as famílias que ali estão e necessitam de auxílio para enfrentar outras demandas.

     

    Diante de tantos desabrigados, os gaúchos, assim como todos os brasileiros, foram confrontados com a importância da ajuda, de ações de salvamento e resgate ao simples ato de estender a mão ao próximo ou mesmo de exercitar a compaixão pelos animais em situações extremas. Esse exercício de empatia demonstra o potencial humanitário que estamos experienciando neste momento, que cotidianamente fomenta o cerne dos trabalhadores da área da saúde, e hoje se estendeu a toda à população brasileira.

     

  • Keywords
  • emergências climáticas, equipes de trabalho, acolhimento, refugiados climáticas
  • Subject Area
  • EIXO 2 – Trabalho
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