Apresentação: As vivências são atividades facultativas de extensão que, de forma semelhante aos estágios, permitem ao estudante de enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) vivenciar o papel do enfermeiro nos mais diversos setores, seja em ambiente intra-hospitalar ou, como no caso, na atenção básica, realizando as atividades propostas em uma Estratégia de Saúde da Família. Para o discente que acabou de ingressar na graduação, as primeiras disciplinas teóricas dessoam com as expectativas dos alunos, que esperavam por uma grande carga práticas, pautadas na realização de técnicas e procedimentos. O primeiro contato com o cuidado do paciente geralmente vem apenas após o primeiro ano da graduação, quando já se espera que exista uma forte base teórica construída e que ao discente seja possível correlacionar prática e teórica na construção do conhecimento. Contudo, essas atividades continuam sendo simples e focadas em algum eixo específico da enfermagem, dificultando a compreensão do real impacto e articulações dos saberes para a saúde do paciente. Ao optar por realizar uma vivência, o estudante da UFSM tem a oportunidade de aprender junto a um profissional da enfermagem que já está à frente de uma unidade de saúde, experienciando a rotina da profissão e todas as suas responsabilidades, enquanto é orientado de forma individual. Para a realização da atividade de extensão, será necessário ao discente especificar quais habilidades deseja aprimorar durante o período estipulado, preencher os dias e horários em que compareceu ao campo prático e as assinaturas do Núcleo de Educação Permanente em Saúde, além de um professor responsável caso existam dúvidas ou necessidade de intervenção para supervisão durante a vivência, todos esses critérios buscam legitimar as vivências como importante atividade de extensão dentro da formação do enfermeiro, na medida em que este aprimora suas técnicas e correlaciona a teoria com seu impacto para a vida do cidadão.
Desenvolvimento: O currículo do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria é bem amplo, dando oportunidade para que o discente explore os mais diferentes campos de atuação do enfermeiro e escolha a área que mais lhe agradar. Dentro desse processo de exploração das atividades disponíveis ao profissional, estão as vivências, que podem ser realizadas para melhor explorar uma esfera de atuação, sendo uma das possíveis áreas a atenção primária, mais especificamente a Estratégia de Saúde da Família. Ao adentrar esse campo, os estudantes se depararam com a realidade de uma comunidade humilde, com presença de facções criminosas, pessoas vivendo em condições de extrema pobreza e uma unidade com recursos de saúde limitados, ocorrendo inclusive falta de medicamentos ou materiais para realizar os procedimentos. Em meio a essa realidade, é posto à prova a capacidade do discente em analisar as condições do paciente, ao que este está exposto e como fatores externos podem agravar processos biológicos, conectando todos os conteúdos teóricos vistos em sala de aula e alguns que necessitarão de uma busca externa para melhor compreender com o que está trabalhando. Todos esses processos agregam para que o graduando de enfermagem tome posse do conhecimento e também entenda o impacto de suas decisões para a saúde dos indivíduos, responsabilizando-se por seus atos enquanto sob a tutela de um profissional já formado. Ao mesmo tempo, também ocorre o aperfeiçoamento de técnicas e procedimentos exclusivos do enfermeiro, geralmente a maior dificuldade dos discentes no decorrer dos semestres, mas que nesse espaço seguro pode ser treinado. Outro ponto que vale menção é a melhora da anamnese por meio do desenvolvimento de técnicas de diálogo que integrem o paciente ao seu cuidado, trazendo o conhecimento científico de forma objetiva e compreensível, realizando o cuidado simultaneamente com a educação em saúde.
Resultados: Ao fim do período de vivências supervisionadas, observa-se um amadurecimento profissional dentre os alunos de enfermagem extensionistas. Estes tendem a participar mais ativamente das disciplinas, correlacionando com sua breve experiência em ambiente hospitalar ou na atenção básica. Dessa forma, é possível notar a importância da experiência para a formação do enfermeiro, visto que a profissão exige a procura fora do período laboral por conhecimentos e capacitações visando a melhora dentro da área de atuação. Os estudantes precocemente expostos às vivências tendem a compreender o peso de suas decisões, encarando a graduação com maior seriedade e buscando novas oportunidades de aprender junto aos professores e demais profissionais que compõe a sua esfera educativa. Como tarefas de média ou alta complexidade acabam recaindo precocemente sobre os discentes, a ansiedade e nervosismo transformam-se em ímpeto por aprender mais, visando o preparo para o momento em que esses serão enfermeiros frente a uma equipe sob sua tutela.
Considerações finais: O curso de Graduação em Enfermagem da A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) ao incorporar uma carga mínima de extensão para os discentes e incentivar a realização de vivências nos diversos setores de atuação do enfermeiro, criou um ambiente que proporciona aos estudantes, ainda nos primeiros anos de graduação, um crescimento profissional e compreensão da necessidade e aplicação da teoria antes mesmo do início dos estágios, período turbulento no qual dificuldades podem passar despercebidas devido ao maior número de alunos sob a responsabilidade de um supervisor. Além de ajudar no crescimento do graduando como enfermeiro, as vivências também permitem que ele se integre ao curso de enfermagem, sentindo-se parte do processo de aprendizado e reforçando a paixão emergente pela área. A descoberta das várias áreas e formas do enfermeiro atuar enaltece para os próprios discentes uma profissão ainda muito abafada pela medicina. Os estudantes que realizaram a atividade extensionista relataram maior confiança em suas próprias técnicas e saberes, devido a repetição diária dos afazeres e integração do processo de enfermagem a eles. Quem esteve na atenção básica pôde compreender como funciona a gestão de uma unidade e as articulações com as demais ferramentas burocráticas do Sistema Único de Saúde, algo que acaba sendo abstrato até as disciplinas finais da graduação. Perante vários relatos e experiências dos alunos de enfermagem, o resultado final é que mesmo feito de forma facultativa durante a graduação, a integração das vivências como atividade extensionista permitiu aos estudantes um crescimento precoce, sendo benéfico para a formação do enfermeiro e crescimento do discente como cidadão educador, ciente de seus direitos, formas de dialogar com as esferas políticas e funcionamento das ferramentas públicas.