Apresentação: A territorialização compreende o processo de reconhecimento do território e da população que nele se encontra, buscando entender a realidade dos indivíduos através da coleta e organizando de suas informações. A partir disso, é possível mapear e compreender o perfil socioeconômico, educacional, de saúde e hábitos da comunidade, tornando possível analisar as influências dentro do processo de saúde-doença dos pacientes abrangidos por uma Estratégia de Saúde da Família ou Unidade Básica de Saúde. Como forma de normatizar a atenção dentro dessas unidades, em 2018 foi instituída através da Resolução número 588/2018 do Conselho Nacional em Saúde, a Política Nacional de Vigilância em Saúde norteia como será articulado o serviço em saúde nos mais variados níveis, dialogando entre as três esferas de gestão do Sistema Único de Saúde. A administração da política é exclusiva do poder público, tendo que atuar de forma a assegurar a integralidade e avaliação da atenção em saúde no território brasileiro. Dentro do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), as políticas públicas e outras que a rodeiam são instrumento base para a disciplina “Enfermagem e Vigilância em Saúde” que busca detalhar os por menores dessa ferramenta de Estado e suas repercussões dentro do sistema de saúde, levando os estudantes a elaborar um diagnóstico comunitário ao fim da disciplina, como forma pedagógica de compreensão do conteúdo. Para o primeiro semestre de 2024, o campo prático que serviria de base para o relatório final foi uma Unidade Básica de Saúde recém-inaugurada, localizada em um bairro humilde de Santa Maria que até o fim de 2023 possuía uma grande quantidade de famílias desamparadas pela Atenção Primária em Saúde. Quando proposto para os universitários que cadastrassem as famílias sob tutela da unidade, o principal desafio que surgiu foi localizar os limites do território em questão, organizar quais residências já haviam sido visitadas e onde ainda era preciso fazer isso, foi então que dentro do grupo de estudantes da enfermagem surgiu a ideia de montar um novo mapa do território, o qual todos poderiam atualizar diariamente e deixar registrado o progresso do cadastramento.
Desenvolvimento: A territorialização trata sobre conhecer os recursos, limites e particularidades da área em que se está atuando, e essa foi a primeira tarefa do grupo discente orientado pelos docentes da disciplina de “Enfermagem e Vigilância em Saúde”, para que posteriormente fosse possível estabelecer um diagnóstico comunitário para a compreensão das condições socioeconômicas e de saúde da população abrangida pela Unidade Básica de Saúde. Antes de conhecermos o território, nos foi dado um mapa com imagens de satélite da área de abrangência da unidade, contudo, não era possível observar a existência de construções claramente, devido à baixa qualidade do arquivo quando ampliado e não existir uma forma palpável de registro das residências visitadas sem ler os cadastros preenchidos pelos alunos. Nesse momento o grupo pensou em usar a mesma ferramenta que a unidade básica utilizada para delimitar seu território, o Google Maps, porém em diferente escala e com o modo de visualização padrão, no qual as construções são representadas como quadrados cinzas que poderiam então ser marcados de acordo com legenda pré-definida. Foram feitas várias capturas de tela que posteriormente acabaram juntas e sobrepostas para a obtenção de um grande mapa em mesma escala, contendo pontos de referência, a unidade destacada, nome das ruas e um sistema adotado para marcar as propriedades como cadastradas, não cadastradas por falha no contato com os moradores ou comércio. Construído o mapa, foram feitos testes internos para definir o melhor método de edição coletiva e então gerada uma imagem em formato bitmap para que ao aproximar a qualidade fosse mantida. Uma vez completa a etapa, ocorreu uma breve explicação em sala de aula de como iria funcionar a ideia, bem como debate para melhorias e o arquivo então foi compartilhado junto ao grande grupo através da ferramenta de designe Canva, tornando possível que periodicamente um membro de cada um dos seis pequenos grupos anotasse o progresso no cadastro após o dia de práticas. Ao final da disciplina, espera-se que o material possa ser utilizado pela equipe da Unidade Básica de Saúde e pelos discentes para a construção do diagnóstico comunitário.
Resultados: A avaliação dos resultados ainda está em progresso, visto que a implementação da nova forma de mapeamento do território foi recente. Porém, espera-se que o mapa que está sendo construído coletivamente, ajude no planejamento e disposição dos grupos pela área da Unidade Básica de Saúde para que o maior número de famílias seja cadastrado durante as atividades práticas, sendo possível dividir o território em regiões menores para otimização da tarefa. Também foi levantada a discussão sobre elaborar um material similar para outras unidades, mas com interface interativa que permita acessar as informações sobre os clientes do Sistema Único de Saúde residentes na casa selecionada, de modo a compreender se todas as famílias sob a tutela de uma Unidade Básica de Saúde estão cadastradas e amparadas pelos serviços ofertados.
Considerações finais: O diagnóstico em saúde é parte fundamental da Política Nacional de Vigilância em Saúde, sendo ele o responsável por avaliar a eficácia das medidas adotadas dentro da atenção básica e repensar sobre o que pode ser feito para contornar o problema diagnosticado. Anterior a esse processo, é preciso conhecer o território e as características da população que nele reside, para isso se faz necessário um processo eficiente de territorialização, o que pode ser um desafio quando não há base exceto a área de abrangência da unidade. Contudo, sendo possível empregar as novas tecnologias aos serviços de saúde, esse processo pode ser facilitado. Com isso, o grupo buscou construir a ferramenta em forma de mapa para que nós possamos nos organizar e também visualizar o quanto progredimos, concomitante a isto, pensar estratégias para que as famílias pertencentes à recém inaugurada Unidade Básica de Saúde em um bairro Santa Maria. Durante o processo de elaboração do mapeamento e diálogo com professores e equipe da unidade, notou-se um atraso tecnológico dentro do munícipio de Santa Maria, com um sistema que não permite usar realmente o território para encontrar os clientes do serviço, apenas com muita busca em formulários e organização manual é possível determinar, por exemplo, os pacientes que residem em determinada rua com vários casos de dengue. Tal realidade não era um problema até antes de 2017, ano em que a Política Nacional de Atenção Básica reduziu o número de Agentes Comunitários de Saúde, o que pode ter gerado incoerências nos cadastros do Sistema Único de Saúde que hoje encontramos durante as práticas, inclusive a unidade em estudo possui apenas uma agente que foi realocada para cobrir todo o território do bairro. Esperasse que a ferramenta produzida pelos estudantes de enfermagem possa servir como auxílio para o planejamento das ações de saúde e guia durante o cadastramento das famílias, tarefa que provavelmente será continuada durante o segundo semestre de 2024 com os próximos alunos da disciplina “Enfermagem e Vigilância em Saúde”, além de também poder servir como base para futuras ações e planejamentos municipais.