A teoria das Transições de Afaf Meleis, uma teoria de médio alcance, foi inicialmente estruturada a partir da vivência do se tornar pai/mãe, isso ainda na década de 1960. Contudo, no seu processo de qualificação, Meleis aprofundou os estudos, incorporando o conceito de transição como um conceito para a enfermagem. O que ampliou significativamente o escopo da teoria, para transições que ocorrem por exemplo de um ambiente para outro, de uma fase para outra, como no período da menopausa, transições de desenvolvimento normativo até as transições imprevistas decorrentes de eventos inesperados, como doenças ou mudanças de vida.
Essa teoria, nos apresenta uma estrutura teórica, reconhecida na enfermagem e que tem avançado em outras áreas da saúde, pois explica o processo de transição que os indivíduos enfrentam ao longo da vida. Essa foi estruturada pela teórica, da seguinte maneira: a partir da Natureza, que inclui - tipos, padrões e propriedades; quanto aos condicionantes, que ela subdivide em facilitadores e inibidores da transição - esses podem ser de caráter pessoal, da comunidade ou da sociedade. Por fim, com padrões de resposta, com indicadores de processos e indicadores de resultados culminando então na terapêutica de enfermagem.
Por se tratar de uma teoria ampla, essa tem sido aplicada em contextos de cuidados de saúde, incluindo enfermagem, medicina, psicologia e assistência social. Na enfermagem é utilizada para compreender e apoiar processos de transição que podem ocorrer de diversas maneiras considerando o lapso temporal.
Considerando a amplitude e as possibilidades de aplicação da Teoria das Transições em diversos ciclos de vida e condições de transição, este estudo tem como objetivo investigar como os programas de pós-graduação no Brasil têm desenvolvido pesquisas baseadas nessa teoria. A questão central da pesquisa é: descrever a aplicação da Teoria das Transições em pesquisas de nível stricto sensu desenvolvidas nos programas de pós-graduação no Brasil.
No intuito de atender ao objetivo deste trabalho, realizamos uma revisão integrativa na literatura, no mês de abril de 2024, mediante acesso virtual à Biblioteca Digital de Teses e Dissertações. Ao realizar a busca optou-se por usar o termo “teoria das transições” com operador booleano OR associado ao nome da teórica “Afaf Meleis”, recuperou-se assim 43 manuscritos, 13 teses e 30 dissertações.
A escolha por buscar teses e dissertações foi feita considerando que a produção nos programas de pós-graduação nem sempre é divulgada por meio de artigos. Além disso, essa escolha ajuda a delimitar as produções realizadas especificamente no âmbito da pós-graduação stricto sensu. Assim, para mapear áreas de aplicação da teoria das transições em pesquisas de nível stricto sensu desenvolvidas no Brasil, optou-se por buscar esses manuscritos.
Como critério de inclusão, adotou-se o uso da Teoria das Transições como referencial teórico nas pesquisas. Inicialmente, foram incluídos 34 manuscritos, sendo 10 teses e 24 dissertações. Esses manuscritos foram organizados em uma tabela no Excel, onde os títulos e resumos foram lidos para avaliar a adequação à questão de pesquisa. Após essa avaliação, 9 manuscritos foram excluídos: 3 teses de outras áreas e 6 dissertações (1 revisão de escopo que incluía um artigo sobre a teoria das transições, 4 de outras áreas que não se referia a teoria das transições de Afaf Meleis e 1 que ainda não estava disponível para consulta).
Essa revisão mapeou a forma como a teoria das transições tem sido aplicada no Brasil, abordagens metodológicas nos estudos que se fundamentaram nela, bem como sua distribuição geográfica. Foi perceptível identificar que a aplicação da teoria das transições em pesquisas no Brasil tem avançado, contudo ainda está concentrada em alguns centros de formação.
Essa informação pode ser confirmada quando se considera a distribuição entre as universidades brasileiras. As pesquisas analisadas foram encontradas em treze instituições públicas e 1 privada, contudo de modo concentrado em 2. São elas a UERJ - Universidade do Estado do Rio Janeiro, num total de doze manuscritos, seguido pela UFBA - Universidade Federal da Bahia, com 7 estudos conduzidos com o referencial teórico sustentado na Teoria das Transições.
Os demais estão distribuídos em universidades, como a Universidade Federal Fluminense (4), Universidade Federal de Juiz de Fora (3), as demais com 1 estudo por universidade - Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Universidade Federal do Pará, Universidade de Brasília, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Rio Grande, Universidade Federal de São Carlos, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Universidade Federal de São Paulo.
Quanto ao tipo de estudo, a grande maioria é de abordagem qualitativa, num total de vinte e cinco. Com predomínio de técnicas de coleta, entrevista e narrativa de vida. Foram encontrados também 3 métodos mistos, com pesquisa documental, entrevistas e aplicação de questionários, além de 4 estudos metodológicos que envolvem construção e validação de banco de dados (termos), diagnóstico de enfermagem e um aplicativo, 1 quase experimental e 1 estudo teórico.
No que tange ao perfil das transições que a teoria foi aplicada, existe um predomínio da transição da internação hospitalar para o domicílio, com envolvimento do cuidador, em sua maioria de pacientes idosos e adultos. Foram encontrados estudos desenvolvidos na área de recém-nascidos prematuros, mulher no período gravídico-puerperal.
Ao avaliarmos as produções considerando o nível de qualificação, percebe-se uma prevalência de produções em nível de mestrado. Dentre os trinta e quatro manuscritos avaliados, apenas 10 são teses.
Um outro fator de destaque nessas produções é que, mesmo a teoria das transições ter sido utilizada como referencial teórico, os termos controlados “cuidado transicional” e “teoria de enfermagem” foram pouco usados como palavras-chaves nos estudos, assim como termos alternativos como “teoria das transições” ou “Afaf Meleis”. Esse fator é um limitador, quando são buscados manuscritos em estratégias de buscas adotadas nas bases de dados para artigos, considerando o recorte do referencial.
Para essa revisão, não consideramos o recorte temporal. Os estudos que estavam disponíveis na biblioteca digital de teses e dissertações, no portal CAPES, foram avaliados e aqueles que atendiam ao critério de inclusão foram incluídos. Com isso, foi possível perceber um crescimento no número de produções desde 2020, especialmente entre 2022 e 2023, demonstrando um aumento no interesse por pesquisadores brasileiros acerca dessa teoria.
Conclui-se que o uso da teoria em pesquisas realizadas nos programas stricto sensu no Brasil tem avançado, mas ainda limitada a duas universidades. No que se refere a abordagem, a qualitativa é a mais presente, com estudos concentrados na transição da internação hospitalar para o domicílio.
Ao considerar as possíveis transições, como as mudanças na adolescência, menopausa, percebe-se uma lacuna de estudos produzidos nessas áreas no Brasil, quando considerarmos a teoria das transições como referencial teórico. Para tanto, estudos que trabalham os diversos tipos de transição, em especial na área da mulher no climatério, quanto na adolescência podem ser desenvolvidos.