O IMPACTO DO USO DE ÁCIDO TRANEXÂMICO E OCITOCINA NA PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES HEMORRÁGICAS PÓS PARTO E MELHORA DA SOBREVIDA DAS PACIENTES

  • Author
  • Lyvia do Prado Pacheco
  • Co-authors
  • Marcelia Andrade Tomaz , Bruna Bavaresco Kaestner , Gabriela Correa Cardoso , Maria Carolina Fitaroni de Moraes , Victória Donatilio Bastos , Julianna Vaillant Louzada Oliveira , Caio Duarte Neto , Simone Karla Apolonio Duarte
  • Abstract
  • Introdução: Os países menos desenvolvidos são responsáveis ??por 44% de todas as mortes maternas a nível mundial, sendo a hemorragia pós-parto (HPP) uma das principais causas de morbimortalidade materna em todo o mundo, o que destaca a necessidade premente de estratégias mais eficazes de prevenção e gestão, principalmente em locais que possuem poucos recursos disponíveis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que todas as mulheres recebam um uterotônico profilático imediatamente após o nascimento para prevenir a HPP, sendo que a principal recomendação para a prevenção é o uso de ocitocina, a qual é bem comprovada e possui um longo histórico de implementação. Porém, em 2017, o uso precoce de ácido tranexâmico (TXA) intravenoso foi recomendado para o tratamento de primeira linha, além do tratamento padrão. Hoje, tanto a ocitocina quanto o TXA estão listados na Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial de Saúde. Esse crescente número de medicamentos disponíveis para a prevenção e tratamento da HPP pode dificultar o trabalho de legisladores, gestores de programas e médicos os quais operam em regiões com recursos limitados, uma vez que cabe a eles a responsabilidade de decidir como e onde investir esses escassos recursos para alcançar o melhor resultado possível dentro da realidade local. O objetivo desse trabalho é compreender os impactos da administração de ácido tranexâmico e de ocitocina na prevenção de hemorragia pós parto, na melhora da sobrevida das parturientes e os desafios de seus respectivos usos de acordo com as limitações do sistema de saúde. Método: Tratou-se de uma revisão integrativa, realizada no período de setembro de 2023 a maio de 2024 no portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, PubMed/MEDLINE e na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). A combinação dos descritores foi feita no portal da CAPES, utilizando os descritores "Maternal Mortality” AND “Postpartum Hemorrhage” AND “Tranexamic Acid” AND “Oxytocin” AND “Survival”, na PubMed e CAPES, utilizando os descritores "Tranexamic Acid" AND "Oxytocin" AND "Postpartum Hemorrhage", e na BVS utilizando os descritores “Ácido Tranexâmico” AND “Ocitocina” AND “Hemorragia Pós-Parto”. As palavras-chave foram definidas na base "Descritores em Ciências da Saúde - DeCS". Inicialmente, foram encontrados 149 artigos com os termos escolhidos. Como critérios de inclusão, foram utilizados artigos com texto completo disponível na íntegra, publicados entre 2018 e 2023, nos idiomas português, inglês e espanhol, excluídos artigos de revisão, artigos com títulos e conteúdo não correspondentes ao tema e artigos repetidos, restando 6 artigos. Resultados: A pesquisa abordou a hemorragia pós-parto através de seis estudos distintos. Um deles investigou o uso de ácido tranexâmico após partos vaginais, não sendo evidenciada diferença significativa na perda sanguínea nas duas primeiras horas. Outro estudo focou na interação entre o ácido tranexâmico e a ocitocina, revelando incompatibilidades potenciais em soluções de infusão intravenosa. Em um estudo envolvendo 4079 mulheres, o ácido tranexâmico não preveniu hemorragia de pelo menos 500 ml, mas reduziu clinicamente a hemorragia e a necessidade de agentes uterotônicos adicionais. Já em uma análise de partos extra-hospitalares atendidos por serviços médicos de emergência, foi indicado que a ocitocina não teve eficácia significativa na prevenção da hemorragia pós-parto, apresentando potenciais efeitos adversos. Em um estudo realizado com mulheres de alto risco, foi mostrada a eficácia do ácido tranexâmico na redução da perda sanguínea vaginal, da incidência de hemorragia pós-parto e da duração do terceiro estágio do trabalho de parto. Além disso, um outro estudo apontou que a recomendação para a prevenção da HPP é que, em locais onde vários uterotônicos estão disponíveis, a ocitocina é o primeiro uterotônico recomendado. Porém, quando ocorre a indisponibilidade da ocitocina, outros uterotônicos podem ser utilizados, como ergometrina/metilergometrina ou misoprostol oral, sendo esse último também indicado em locais onde ocorre a indisponibilidade de profissionais da saúde qualificados para a administração da ocitocina. Com relação ao tratamento, a ocitocina intravenosa é o uterotônico recomendado, seguida do uso precoce de TXA intravenoso dentro de 3 horas após o nascimento, além do tratamento padrão. Também é recomendado em caso de a ocitocina intravenosa não estiver disponível ou se o sangramento não for responsivo à ocitocina, o uso de via intravenosa ergometrina, dose fixa de ocitocina-ergometrina ou misoprostol. Vale ressaltar que o TXA diminui a mortalidade por sangramento em mulheres com HPP, independentemente da etiologia. Além disso, ao contrário da ocitocina, que é sensível ao calor, o TXA tem a vantagem operacional de superar os custos logísticos de um sistema de cadeia de frio, podendo ter um papel importante em ambientes com clima quente, com recursos escassos ou sem acesso ao sistema de cadeia de frio, o que comprometeria a qualidade da ocitocina. Conclusão: O ácido tranexâmico (TXA) mostra potencial na redução de complicações graves pós-parto, enquanto a ocitocina não demonstrou eficácia significativa para reduzir a hemorragia pós-parto fora do ambiente hospitalar. São necessários mais estudos para uma análise comparativa precisa entre TXA e ocitocina. Ambos são recomendados para prevenir e tratar a HPP e podem desempenhar um papel crítico na redução das mortes maternas, especialmente em áreas com recursos limitados. Integrar sua disponibilidade nos sistemas de saúde requer uma compreensão detalhada de suas indicações clínicas e do ambiente local e seus respectivos recursos e limitações. Vale ressaltar que não existe uma solução única que corresponda aos recursos e necessidades de todos os diferentes ambientes e, dessa forma, é importante que cada local considere uma abordagem programática gradual para evitar mortes maternas. Isso pode ter início com a instauração de um processo contínuo de melhoria da qualidade, seja essa de pessoal, materiais, mecanismos de referência ou de desempenho. Dessa forma, é imprescindível que as unidades de saúde possuam os equipamentos essenciais, medicamentos e protocolos e auxílios de trabalho atualizados para tratamento obstétrico de emergência da HPP. Além disso, considerar a inclusão do TXA nos serviços de saúde materna oferece uma oportunidade para abordar desafios e oportunidades do sistema de saúde, sobretudo na questão da saúde materna, incluindo a HPP. Ou seja, propõe-se que sejam implementadas estratégias programáticas adaptadas aos diferentes níveis de cuidados de maternidade e a disponibilidade de profissionais de saúde qualificados, fornecedores e sistemas de cadeia de frio. Esta análise é crucial para informar políticas e práticas que melhorem os resultados de saúde materna globalmente.

  • Keywords
  • Ácido Tranexâmico, Ocitocina, Hemorragia Pós-Parto, Mortalidade Materna, Sobrevida
  • Subject Area
  • EIXO 2 – Trabalho
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