Apresentação: Os avanços tecnológicos de informação e de digitalização transformaram a forma como as pessoas trabalham, estudam e se comunicam. Consoantemente, as metodologias ativas de aprendizagem ganham um espaço cada vez maior no processo educacional, com novas práticas e formas de abordagem que estimulam a autonomia e independência dos estudantes e potencializam a qualidade do aprendizado. A EIP (Educação Interdisciplinar) é uma atividade realizada em uma instituição de ensino superior em saúde em Vitória-ES, baseada no método de ensino PBL (do termo em inglês “Problem Based Learning”, traduzido em português como “Aprendizagem Baseada em Problemas”) e adaptada de forma a promover a integração entre os alunos dos cursos de saúde existentes na instituição. O PBL é uma metodologia de aprendizagem em que os estudantes, separados em pequenos grupos (grupos tutoriais), são expostos a cenários ou situações problema em sessões de tutoria, nas quais precisam entender os princípios essenciais e coletar dados relevantes do caso apresentado para a definir objetivos de aprendizado, alcançados por meio de posterior estudo autodirigido, que serão discutidos na sessão de fechamento, sendo guiados pelo professor-tutor que age como facilitador do processo de construção do conhecimento. A atividade Educação Interdisciplinar busca então aliar os benefícios da metodologia PBL que transforma o aluno no protagonista do seu próprio processo de formação, desenvolvendo seu pensamento crítico, capacidade de resolução de problemas, proatividade e aprendizagem autônoma, às habilidades necessárias para a atuação em uma equipe multidisciplinar em saúde: trabalho em equipe, colaboração, adaptabilidade, comunicação, planejamento e respeito pelas contribuições de cada profissão. Esse trabalho tem como objetivo relatar a experiência de acadêmicos de medicina com a aplicação da metodologia de aprendizagem baseada em problemas adaptada de forma a simular a abordagem multidisciplinar em saúde, no processo de formação de um profissional médico. Desenvolvimento: Os professores dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Assistência Social e Medicina que estavam responsáveis pelo desenvolvimento dessa atividade se reuniram para escrever um cenário clínico com objetivos de aprendizagem gerais e específicos para cada curso. Esse caso e seus objetivos foram disponibilizados previamente aos alunos, por meio do portal acadêmico, para que pudessem estudar e desenvolver seus próprios materiais de consulta dias antes da discussão em grupo. Vale ressaltar que o conhecimento necessário para os alunos serem capazes de debater e desenvolver o cenário problema fazia parte do conteúdo ministrado no semestre que estavam cursando no momento. No dia da realização do EIP, uma turma de cada um dos cursos de saúde da instituição se reuniu simultaneamente no auditório para divisão dos grupos de tutoria (compostos por 9 a 13 estudantes, sendo: 1 a 2 alunos de Assistência Social, 2 a 3 alunos de Fisioterapia, 2 a 3 alunos de Enfermagem e 4 a 5 alunos de Medicina) e definição dos professores orientadores de cada grupo. A seguir, cada grupo foi direcionado a sua respectiva sala, em que foram selecionados dois alunos para as funções de coordenador e de redator do debate, seguido pelo momento de leitura da situação problema e discussão dos objetivos gerais (que abrangem as quatro profissões de saúde) e específicos de cada curso, guiados pelo tutor que incentivava e avaliava a participação de todos os alunos presentes. Posteriormente ao momento de discussão em equipe, todos os alunos retornaram ao auditório para realização do sorteio dos grupos de cada curso que apresentariam, perante todos os alunos e professores ali reunidos, os pontos principais abordados por seu grupo no momento de discussão anterior. Resultados: A atividade permitiu aos alunos a oportunidade de exercitar o estudo autônomo, a aplicação e a transmissão de seus conhecimentos de forma ativa e o desenvolvimento de raciocínio clínico, de pensamento crítico e de competências que realmente farão diferença na prática clínica, tanto no aspecto social e emocional quanto no profissional. O espaço de discussão exigiu que os futuros profissionais em saúde praticassem o compartilhamento de informações, o planejamento de ações em saúde, a capacidade de resolução de problemas, o trabalho em equipe, o respeito interprofissional, a adaptabilidade, a comunicação eficiente e a habilidade de liderar (sobretudo realizada pelo coordenador do cenário problema). Isso é de suma importância, tendo em vista que, diante de uma situação de atendimento à pacientes no ambiente hospitalar, todos os profissionais de saúde precisam ter um bom entrosamento, comunicação clara e respeito uns com os outros para operarem como uma equipe multidisciplinar eficiente e proporcionar o melhor cuidado em saúde aos seus pacientes. Além disso, a integração entre os cursos de saúde da instituição possibilitou que os alunos pudessem ter uma melhor compreensão dos papéis e da atuação de cada profissional no cuidado dos pacientes e entender como essas profissões se complementam na realização de uma estratégia de abordagem multidisciplinar em saúde. Cabe ressaltar a habilidade de síntese de conhecimentos e de comunicação e oratória para grandes plateias que foi trabalhada com os alunos sorteados para realizarem a apresentação final no auditório. Considerações finais: A aplicação do método ativo de PBL adaptado à multiprofissionalidade por meio da atividade Educação Interdisciplinar representou uma significativa contribuição para o processo de aprendizado dos estudantes de medicina e demais cursos de saúde da faculdade, possibilitando uma abordagem que ultrapassa as barreiras impostas pelo ensino tradicional puramente teórico ou pelo aprendizado centralizado na atuação e nas responsabilidades de sua própria profissão. Tal metodologia promoveu o desenvolvimento da autonomia, independência e confiança dos estudantes em suas habilidades e competências, além de frisar a importância de construir um bom trabalho em equipe como diferencial para o atendimento em saúde eficaz e completo, preparando-os de forma mais completa para os desafios encontrados na prática clínica. Sendo assim, pode-se perceber como a implementação da metodologia ativa é uma estratégia educacional poderosa e essencial para aprimorar o processo de aprendizado dos estudantes das áreas de saúde como um todo, destacando-se como uma abordagem complementar relevante na formação profissional. Recomendamos, por fim, a aplicação desse tipo de atividade interdisciplinar com maior frequência na instituição de ensino, que atualmente realiza o EIP apenas uma vez por turma ao longo de sua formação acadêmica, devido a sua relevância para a formação de bons profissionais em saúde com habilidades interpessoais e de trabalho em equipe, tão importantes para a prática clínica.