Crianças e adolescentes, em geral, enfrentam vários obstáculos no acesso e acolhimento em saúde, que podem ser exacerbados para aqueles que são transexuais. Frequentemente crianças e adolescentes transexuais enfrentam atitudes preconceituosas e discriminatórias, tanto na sociedade em geral quanto dentro das instituições de saúde. Esse preconceito pode vir de profissionais de saúde, outros pacientes e até mesmo de suas próprias famílias. Neste sentido, este trabalho tem como objetivo identificar os obstáculos enfrentados por crianças e adolescentes e o acesso e acolhimento de crianças e adolescentes transexuais na Rede de Atenção à Saúde (RAS).
Método: Foi realizada uma revisão integrativa da literatura, com análise de artigos disponíveis na íntegra, envolvendo crianças e adolescentes com idades entre seis e 19 anos incompletos. Os artigos considerados foram publicados entre janeiro de 2013 e abril de 2023, nos idiomas português, inglês ou espanhol. Para este trabalho foram considerados apenas os obstáculos identificados nos artigos.
Resultados: Os principais obstáculos identificados foram o baixo conhecimento profissional sobre questões relacionadas à transexualidade, interações profissionais hostis e presunção sexual por parte dos profissionais de saúde. Mas também podemos destacar que existem outros obstáculos que são percebidos de maneira geral como a dificuldade de Acesso Geográfico: Em muitas áreas rurais e/ou periféricas, a distância e a falta de transporte adequado podem dificultar o acesso a serviços de saúde, famílias com baixa renda podem encontrar dificuldades em acessar cuidados de saúde, especialmente quando precisam pagar por consultas, medicamentos ou transporte, a falta de conhecimento sobre direitos e serviços de saúde que estão disponíveis, pode inviabilizar que as famílias consigam o atendimento necessário para suas crianças e adolescentes. Além destas questões o tempo de espera muito longo nos serviços de saúde pública na espera de consultas, exames e tratamentos é prejudicial para a saúde dos mesmos. A exigência de documentação que não reflete a identidade de gênero pode ser um grande obstáculo para o acesso a serviços de saúde. Isso inclui dificuldades na retificação de nome e gênero em registros médicos. A falta de clínicas e profissionais especializados em saúde trans pode forçar as famílias a procurar atendimento longe de casa, com custos adicionais e inconveniências significativas. O medo de serem estigmatizados ou rejeitados por profissionais de saúde ou pela comunidade pode levar crianças e adolescentes transexuais a evitarem buscar atendimento. Crianças e adolescentes transexuais muitas vezes enfrentam problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, exacerbados pela discriminação e falta de apoio, que podem dificultar ainda mais o acesso aos serviços de saúde.
Conclusão: Considera-se que os obstáculos apresentados neste trabalho são todos possíveis de superação. Para que se construa acesso e acolhimento com êxito, na saúde de crianças e adolescentes, especialmente aqueles que são transexuais, requer um esforço conjunto de políticas públicas, capacitação profissional e sensibilização social. Implementar estratégias eficazes pode melhorar significativamente a qualidade do atendimento e a saúde geral dessa população vulnerável.