A cárie dentária é uma das doenças mais comuns na infância, sendo associada principalmente ao aumento de exposição de açúcar às crianças. O presente estudo, tem como objetivo executar uma revisão de literatura a respeito de quando, e por quanto tempo amamentar o bebê, além de instruções de higienização oral e cuidados referentes a nutrição infantil oriunda de leite materno, leite bovino, leite formulado e composições lácteas. Foi realizado consulta no "Guia alimentar da criança brasileira" e uma revisão de trabalhos publicados nas bases de dados da Scielo, PubMed, e Google acadêmico. Foi utilizado palavras chaves como "Child", "Leite", "Cárie", "Early childhood caries".
A cárie é uma doença multifatorial, induzida pela dieta, sendo considerada uma doença infectocontagiosa multifatorial, desencadeada por três fatores individuais primários: microrganismos cariogênicos, substrato cariogênico e hospedeiro (ou dente) suscetível. Esses fatores interagem num determinado período de tempo, levando a um desequilíbrio no processo de desmineralização e remineralização entre a superfície dentária e a placa (biofilme) adjacente, ocasionando na desmineralização de tecidos.
O aleitamento diz respeito a todas as formas que a criança recebe o leite, podendo ser por meio da amamentação ou não, seja por via mamadeira ou sonda, enquanto amamentar, é o ato em si, em que a mãe oferece o seio a criança, sendo considerada a forma mais natural e saudável de alimentar um bebê nos primeiros meses de vida. A importância do aleitamento para o bebê é vasta, incluindo nutrição completa, proteção contra doenças, vinculo emocional e desenvolvimento físico e cognitivo.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), recomenda aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, seguido de amamentação continuada com alimentação complementar adequada por até 2 anos. Qualitativamente, foi demonstrado que o leite humano não é cariogênico, pois a placa dental formada por ele é diferente daquela formada pela sacarose. Ademais, com o leite humano não há perda mineral clinicamente visível no esmalte, contrariamente ao que acontece com a sacarose. Além disso, o leite humano promove a remineralização do esmalte por meio da deposição de cálcio e fosfato na sua superfície, portanto, o risco de cárie dependerá da higiene e da alimentação complementar da criança, e não da amamentação por si só.
Leite materno
O leite materno além de ser essencial para nutrição do bebê, diminui o risco de doenças atópicas, diabetes e risco de gastroenterite, as quais influência na nutrição da criança. Logo, é de se pressupor que o leite materno pode proteger contra a cárie, pelo menor aparecimento das doenças que contribuem para a fisiopatologia da doença e pela menor utilização de medicamentos de risco à cárie.
Leite bovino
O leite bovino é praticamente o mais abrangente e disponível em grande quantidade, sendo de consumo mundial. Este tipo de leite possui fosfoproteínas, dando destaque para a caseína, que em estudos in vitro desenvolvido por Vacca-Smith e Bowen, demonstrou que este tipo de leite reduz a adsorção e atividade da enzima glicósiltransferade, que é produzida pelos estreptococos sobre a hidroxiapatita da pelicula salivar. Este tipo de proteína consegue então ter ação inibitória dos estreptococos orais pois ela consegue interagir com a superfície da bactéria. O leite bovino é cariostático, possui baixa concentração de lactose e alta concentração protéica e mineral quando comparado ao leite materno, no entanto, seu uso antes dos 9 meses não é recomendado, pois pode ocasionar em reação alérgica na criança, além de que este leite não possui os componentes nutricionais e imunológicos que o leite materno oferece.
Leite formulado infantil e "Compostos lácteos"
O leite formulado infantil é elaborado pela indústria a partir de modificação do leite de vaca, com o intuito de criar um produto semelhante ao leite materno e compatível com a maturidade das crianças. Quanto a sua cariogenicidade, existe controvérsias, contudo, as formulações infantis com baixo teor de ferro foram as que apresentaram alta cariogenicidade. É importante se atentar para os "compostos lácteos", estes possuem embalagem semelhante à de fórmulas infantis, porém são produtos produzidos a partir de uma mistura de leite com outros ingredientes, incluindo aditivos alimentares e açucares, sendo que estes têm potencial de cariogenicidade. É relativamente comum em determinadas épocas do ano as mães preencherem as mamadeiras dos filhos com leite formulado infantil ou compostos lácteos. e dentre os fatores inter relacionados com o aleitamento materno temos a chupeta e a mamadeira. A mamadeira é um fator predisponente de Cárie Dentária de Primeira infância (CPI), pois o seu bico bloqueia o acesso da saliva aos incisivos superiores, ao passo que os incisivos inferiores ficam próximos às principais glândulas salivares e são protegidos do conteúdo líquido pelo próprio bico e pela língua. O uso de mamadeiras à noite está associado à diminuição do fluxo e da capacidade de neutralização salivar, o que levaria os dentes a sofrerem estagnação dos alimentos e exposição prolongada aos carboidratos fermentáveis. Apesar do hábito de adoçar a chupeta, não existe associação entre o uso de chupeta adocicada ou não adocicada com o aparecimento de CPI.
Instruções de higiene oral
A primeira visita do bebê ao odontopediatria deve acontecer assim que o primeiro dente nascer ou até o primeiro ano de vida. Isso é importante para que o odontopediatria possa avaliar a erupção dos dentes e orientar os responsáveis quanto a saúde bucal da criança. A escovação deve iniciar assim que o primeiro dente de leite irromper na boca, utilizando escova de cerdas macias com creme dental fluoretado na concentração de 1000-1500ppm, colocando uma quantidade de creme dental na escova do tamanho de um grão de arroz cru, para crianças acima de 4 anos, do tamanho de um grão de ervilha. Deve-se escovar suavemente todas as faces dos dentes com movimentos circulares. Como o primeiro dente geralmente irrompe entre os 4 e 6 meses, e é recomendado pela OMS amamentação exclusiva até os 6 meses de idade, é essencial que a partir dessa idade, comece a introduzir alimentos "sólidos" na dieta da criança, para que ela possa desenvolver a mastigação, ossos e músculos da face. Nessa idade, a criança deve então receber a comida amassada com garfo, e então a partir dos 8 meses evoluir para a comida picada em pedaços pequenos. É importante não oferecer alimentos ricos em açúcar para a criança, como bolos, biscoitos e bebidas açucaradas, pois estes estimulam o paladar doce, influenciando as opções alimentares da criança e aumentando o risco de desenvolver lesões de cárie. É crucial que os responsáveis pelo bebê iniciem uma rotina de cuidados com a higiene bucal, escovar juntos pode tornar o momento da escovação uma rotina da família, que vai ser importante para que a criança possa criar o habito de higienizar a boca.
Considerações finais
O aleitamento materno é uma prática fundamental não apenas para a nutrição e desenvolvimento do bebê, mas também para prevenir uma série de doenças, incluindo a cárie dentária. Apesar dos diferentes tipos de leites e suas propriedades, o aparecimento de lesões cariosas está relacionada com a alimentação rica em açucares e deficiente higienização oral do bebê, sendo que o momento da erupção do primeiro dente decíduo é extremamente importante, já que nesse período o bebê é introduzido a alimentação sólida que se rica em açucares influencia o paladar e opções alimentares da criança, contribuindo para o risco de lesões de cárie