Pessoas que sofreram uma fratura óssea e necessitam de cirurgia traumatológica para realinhamento podem passar longos períodos internadas em hospitais do Sistema Único de Saúde a fim de aguardarem pela intervenção cirúrgica sendo imperativo, por vezes, serem transferidas para outras instituições hospitalares para serem submetidas ao procedimento. Cada indivíduo, a partir do momento que é internado, passa a vivenciar esta espera de forma singular. Esta pesquisa exploratória e descritiva utiliza o método clínico-qualitativo e tem o objetivo de analisar o significado atribuído por pessoas que, enquanto internadas em um hospital da rede pública de saúde do norte de Minas Gerais, aguardaram pela transferência para serem submetidas à cirurgia traumatológica, utilizando para tal, um roteiro de entrevista semidirigida de forma a responder à seguinte pergunta: Como é a experiência dos que esperam hospitalizados pela transferência para realização da cirurgia traumatológica? Os dados coletados foram tratados através da análise de conteúdo clínico-qualitativa e discutidos à luz de referenciais teóricos interdisciplinares comumente usados como base conceitual da Psicologia da Saúde. Participaram 20 pessoas no estudo, sendo 15 homens e 5 mulheres. A idade média dos participantes foi de 40 anos. A maioria deles era casada, com filhos, não havia completado o ensino fundamental e exercia atividades rurais. As fraturas foram causadas principalmente por acidentes no trânsito e no trabalho. Os participantes foram notificados sobre a data prevista para transferência após uma média de cinco dias da internação e permaneceram internados por uma média de oito dias antes de serem transferidos para então serem submetidos à cirurgia. Durante a hospitalização, a maior parte deles não teve acompanhante. A partir das narrativas dos participantes construímos as categorias temáticas: Reações ao diagnóstico de fratura e à necessidade de internação para aguardar pela cirurgia; Emoções antes e após ciência da data da transferência para realização do procedimento cirúrgico; A espera e suas implicações; Relações sociais durante o internamento; (Des)conhecimento sobre o procedimento cirúrgico traumatológico; Percepção sobre o processo de transferência e a assistência recebida. Concluímos que a espera no hospital provoca uma sensação de aprisionamento sendo o agendamento da transferência visto como uma libertação e a cirurgia como uma chance de recuperar a autonomia e retomar a vida interrompida, apesar das incertezas sobre a recuperação e possíveis sequelas. Notamos que a melhor abordagem – manter o paciente no hospital ou permitir que espere em casa – depende do equilíbrio entre a rapidez no agendamento da cirurgia e o impacto do ambiente hospitalar versus o conforto do lar. O estudo identificou fases psicológicas pelas quais os usuários passam durante a espera e sugere a necessidade de pesquisas futuras para aprofundar essa teorização com o objetivo de ajudar profissionais de saúde a compreender e abordar melhor esses sujeitos. A pesquisa também aponta a importância da psicologia nesse pré-operatório, oferecendo um espaço de acolhimento e escuta. Há poucos estudos sobre o impacto das filas de espera, sobretudo sobre a espera em ambiente hospitalar, tornando esta pesquisa relevante para a construção do conhecimento da psicologia hospitalar, assistência e gestão em saúde.