Com a maior biodiversidade do mundo, e apenas 0,4% de sua flora investigada, o Brasil tem a utilização medicinal de plantas por aproximadamente 82% de sua população, seja a partir de conhecimentos tradicionais, como de quilombolas e indígenas, seja pelo conhecimento popular, e recentemente orientada também pelo SUS desde a década de 80 e regulamentada pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC/2006), em consonância com a Organização Mundial da Saúde. A popularização da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) vem contribuindo para a promoção da fitoterapia em todo o mundo, sendo esta uma prática que incentiva a participação social, a solidariedade e o desenvolvimento comunitário. Com o objetivo de aproximar a comunidade à teia complexa de conhecimentos e ações relacionadas às PICs, desenvolve-se a partir de 2023, vinculado ao programa de extensão SUStentaPICS da Escola de Enfermagem e de Saúde Coletiva da UFRGS, o Jardim de Cura baseado na Medicina Tradicional Chinesa. Trata-se de um espaço de abordagem transdisciplinar e intercultural relacionada ao uso medicinal de plantas com vistas em promover a divulgação e o reconhecimento de tais Práticas, bem como o exercício cidadão de autonomia no cuidado à saúde. A MTC reconhece o indivíduo em sua dimensão global, corpo, mente e espírito. O Jardim é estruturado no formato de um octógono, onde cada parte representa órgãos/vísceras da MTC, e contém plantas energeticamente associadas ao elemento: Sul, fogo, coração e pericárdio, manjericão; Sudoeste, terra, baço-pâncreas, mil folhas, erva doce, alecrim e melissa; Oeste, metal, pulmão e intestino grosso, capim limão, sálvia, alecrim; Noroeste, metal, intestino grosso, tomilho, tanchagem, salsinha e alecrim; Norte, água, bexiga e rim, cebolinha, capuchinha e alecrim; Nordeste, terra, estômago, mil folhas, salsinha e alecrim; Leste, madeira, fígado, alfazema, alecrim e hortelã; Sudeste, madeira, vesícula biliar, alfazema, dente de leão, alecrim e hortelã. Conta com a participação de docentes, técnicos administrativos, herboristas, estudantes de graduação, mestrado e doutorado, e comunidade externa. Localizado no campus saúde da universidade e adota práticas de cultivo orgânico. A adubação dos canteiros é realizada por meio de acréscimo de matéria orgânica com esterco curtido e composto orgânico obtidos em parceria com a faculdade de Agronomia; milheto, folhas, grama e serragem para adubação verde, que também contribuem para o controle de espécies vegetais espontâneas. O controle de fungos, pulgões e cochonilhas é feito com aspersão de solução de alho e pimenta; tenta-se controlar as formigas cortadeiras com uso de folhas e solução de mamona, projeta-se ainda o aumento da biodiversidade no entorno para substituir o ataque das cortadeiras às medicinais. Além de um espaço para a comunidade acadêmica estar em contato com as plantas promovendo autocuidado, também se constitui como um ambiente de aprendizagem tendo recebido em sua inauguração professores e estudantes da faculdade de Educação, estudantes dos cursos de Filosofia e Artes Visuais, e membros da comunidade externa; nesse ano foram realizadas aulas sobre PICS para turmas de “Arte saúde e educação” e para o núcleo de Enfermagem vinculado à Residência Multiprofissional em Saúde e do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.