HUMANIZAÇÃO NA FORMAÇÃO MÉDICA: REFLEXÕES E IMPACTOS DE UMA VISITA A UMA INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS NO ESPÍRITO SANTO

  • Author
  • Juliana Ferrari Khouri
  • Co-authors
  • Lucas Destefani Natali , Lyvia do Prado Pacheco , Maria Carolina Fitaroni de Moraes , ?Isadora Dufrayer Fânzeres Monteiro Fortes , Luiza de Oliveira Fortunato , ?Isabella Modanese Norbim Mattos Teixeira , Pillar Pariz
  • Abstract
  •  

    Apresentação: O envelhecimento populacional é um fenômeno global que reflete o aumento na expectativa de vida e a diminuição das taxas de natalidade, reconfigurando a pirâmide etária da sociedade moderna. À medida que a população mundial envelhece, os desafios para os sistemas de saúde e assistência social se tornam mais complexos, exigindo uma adaptação significativa às necessidades específicas dessa faixa etária. Uma das respostas a esses desafios são as instituições de longa permanência para idosos (ILPIs), que desempenham um papel crucial no cuidado a indivíduos idosos, especialmente aqueles em situação de desamparo. As vulnerabilidades enfrentadas pelos idosos em ILPIs são multifacetadas e profundas, o que abrange aspectos físicos, emocionais, sociais e econômicos.  Fisicamente, muitos idosos apresentam múltiplas condições crônicas que requerem cuidados médicos contínuos e monitoramento constante, além de assistência para realizar atividades básicas da vida diária. Emocionalmente, a realidade do isolamento social é palpável, com muitos idosos experimentando solidão e depressão devido à falta de interações significativas e ao distanciamento de seus círculos sociais habituais. Socialmente, eles frequentemente enfrentam o estigma associado ao envelhecimento, o que pode resultar em marginalização. Economicamente, os idosos em ILPIs muitas vezes subsistem com recursos financeiros limitados, o que dificulta o acesso a cuidados de saúde de qualidade, a medicamentos necessários e a atividades recreativas. Nesse sentido, as ILPIs são fundamentais não apenas para garantir a segurança física e o cuidado médico dos idosos, mas também para proporcionar interação social e atividades que contribuem para a manutenção de sua qualidade de vida. Assim, esse contexto evidencia que o papel dos profissionais de saúde é de suma importância. A formação médica deve, portanto, incluir um forte componente de humanização, preparando os estudantes para enfrentar não apenas os desafios clínicos, mas também para compreender e responder às complexidades emocionais e sociais dos cuidados aos idosos. É neste contexto que se insere a experiência relatada neste trabalho, a qual teve por objetivo relatar a realização de uma ação voluntária em uma ILPI no Espírito Santo conduzida por acadêmicos de medicina. O objetivo principal deste relato é descrever o impacto desta ação na humanização da formação médica, destacando como essa experiência é fundamental para o desenvolvimento de profissionais capacitados para oferecer cuidados sensíveis e respeitosos, atendendo de forma integral às necessidades dos idosos. Desenvolvimento do trabalho: Essa ação foi uma iniciativa de um grupo voluntário de estudantes de medicina, parte de um projeto de voluntariado de uma instituição de ensino superior, que organiza diversas atividades com o objetivo de trazer benefícios tangíveis para a comunidade, ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento de habilidades interpessoais e profissionais entre os acadêmicos, inalcançáveis quando apenas com a teoria. Durante o período de preparação para a visita, os estudantes engajaram-se ativamente na arrecadação de itens essenciais, que foram identificados como prioritários em reunião prévia com a ILP, garantindo que as doações atendessem às necessidades reais dos idosos residentes. Os itens indicados foram fraldas geriátricas no tamanho XG, shampoos, condicionadores e sabonetes líquidos, visando melhorar a qualidade dos cuidados pessoais oferecidos aos idosos. Além de itens físicos, também foram arrecadados recursos em dinheiro, que também foram utilizados para a compra de itens essenciais. No dia da visita, os voluntários organizaram uma série de atividades recreativas, projetadas para envolver os idosos de maneira inclusiva e respeitosa. Foram realizados bingos com prêmios, sessões de pintura, além de momentos musicais, que ofereceram oportunidades para dança e canto, atividades que se mostraram particularmente populares entre os idosos. Esses momentos de lazer foram intercalados com conversas individuais e em grupo, nas quais os voluntários puderam ouvir as histórias, preocupações e desejos dos idosos, proporcionando uma interação rica e empática. A visita findou com um tour pelos espaços pessoais e coletivos da instituição, em que os acadêmicos puderam conhecer e se encantar por espaços preparados por cada morador com seus pertences pessoais, de forma a deixar o seu local mais acolhedor.  Os estudantes puderam apreciar a individualidade e o cuidado que cada um traz para seu ambiente. Resultados: A visita ao asilo resultou no aprimoramento de competências essenciais à prática médica. Os estudantes tiveram a oportunidade de exercitar e aprimorar habilidades interpessoais críticas, como empatia, escuta ativa e comunicação efetiva. Ao interagir diretamente com os idosos, aprenderam a importância de ajustar suas abordagens comunicativas para melhor atender às necessidades de um público que pode apresentar limitações auditivas, cognitivas ou emocionais. Essas interações enfatizaram a necessidade de paciência e respeito pela autonomia e dignidade do paciente, elementos fundamentais para uma prática médica humanizada. Os futuros médicos foram expostos a uma visão integral do paciente, entendendo que o cuidado médico vai além do tratamento de doenças. A observação direta das condições de vida e dos desafios enfrentados pelos idosos permitiu aos estudantes perceberem a importância de considerar os aspectos sociais, emocionais e ambientais que influenciam a saúde, para implementar planos de cuidado eficazes. A experiência também destacou a vulnerabilidade dos idosos, muitas vezes agravada por condições crônicas e a dependência de cuidados contínuos. Os estudantes reconheceram a importância de adotar práticas que priorizem o conforto e a qualidade de vida dos idosos, além de entenderem que medidas preventivas e intervenções adaptadas são essenciais para essa população. Considerações finais: Esta ação voluntária proporcionou uma vivência fundamental para a qualificação de profissionais para atuação em diversos cenários que estarão presentes durante o exercício da profissão, seja em ambientes públicos de saúde, seja em hospitais e consultórios particulares, uma vez que o aprimoramento da empatia é o pilar para o aperfeiçoamento da relação médico-paciente. Destacou-se a relevância da humanização na formação médica, essencial para a preparação de futuros médicos capazes de atender às demandas complexas de uma população envelhecida, permitindo a ampliação do olhar para o cuidado com as pessoas idosas ao identificar carências a serem supridas que vão muito além de uma intervenção superficial. A visita foi transformadora, impactando positivamente na formação de uma visão cada vez mais integral e multifacetada. Espera-se que tais iniciativas inspirem a continuidade da integração entre ensino médico e práticas comunitárias, cultivando profissionais que valorizam igualmente a ciência e a sensibilidade no cuidado ao paciente. A atividade serviu também como um lembrete poderoso de que a medicina, em sua essência, é um ato de serviço, um tipo de linguagem de amor focada na ação.

  • Keywords
  • Medicina, Idosos, Asilo, Voluntário.
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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