São consideradas como psicoativas as substâncias que detém o potencial de influir no funcionamento do Sistema Nervoso Central, como o álcool, o ópio, o café, a maconha, a cocaína e os benzodiazepínicos. Relacionados a elas, socialmente, emergem discursos patologizantes e proibicionistas acerca do consumo e do uso abusivo delas, assim como dos seus impactos. Então, questiona-se: quais são os motivos que levam os sujeitos a usarem ou a abusarem de substâncias psicoativas? Perante isso, este estudo objetiva conhecer quais os fatores que podem propiciar o consumo e o uso abusivo de substâncias psicoativas. Assim sendo, buscou-se refletir criticamente sobre os marcadores históricos relacionados às substâncias psicoativas, assim como abordar quais os fatores que atualmente são considerados como potenciais motivadores do consumo e do uso abusivo de substâncias psicoativas. Para isso, realizou-se uma pesquisa bibliográfica não sistemática de abordagem qualitativa, por meio dos descritores “saúde mental”, “substâncias psicoativas” e “psicologia” nas plataformas Lilacs e SciElO, buscando por estudos publicados entre 2014 e 2024 que contemplassem a vigente temática. A construção das categorias se deu a partir da análise de conteúdos dos artigos baseados na metodologia proposta por Bardin. Obteve-se, então, que as substâncias psicoativas estão presentes na história humana desde o seu primórdio, sendo consumidas por diversas motivações, como as culturais, sociais e até mesmo religiosas. No entanto, por volta dos séculos XIX e XX, houve um grande desenvolvimento industrial que repercutiu tanto em ampla produção e consumo de substâncias psicoativas como em pesquisas médicas e científicas relacionadas à saúde e à produtividade das pessoas. Frente a isso, além da classificação pelo Estado de tais substâncias como lícitas ou ilícitas, foram elaboradas políticas de proibicionismo, as quais culpabilizavam e patologizavam o sujeito, negando a realidade multideterminada que envolve o consumo e o uso abusivo. Apesar de, atualmente, haver amplos debates e evoluções acerca de tais condutas, tal ideologia ainda é pulsante no meio sociocultural. Nesse viés, tornam-se míopes as compreensões acerca dos motivos que levam ao uso e ao consumo de substâncias psicoativas. Buscando trazer maior nitidez a este debate, entende-se que o consumo e o uso abusivo de substâncias psicoativas podem ter diferentes repercussões sobre o sujeito, em que, no primeiro, consome-se de maneira pontual, não havendo a noção de dependência e nem consequências à saúde física, mental ou social, enquanto, no segundo, observa-se o contrário. Assim, adota-se uma concepção etiológica multideterminada, abrindo espaço para a compreensão de que diversos fatores podem, ou não, contribuir com esse fenômeno. Dentre eles, estão: os problemas socioeconômicos, os transtornos mentais, o histórico familiar de uso de substâncias psicoativas e as questões de cunho sócio emocional. Assim sendo, conclui-se que traçar um percurso linear de causa e consequência sobre os fatores que levam ao consumo de substâncias psicoativas é negar a complexidade de fenômenos pertinentes a essa temática. Além disso, ideologias proibicionistas e de patologização não contribuem no auxílio às pessoas que enfrentam as consequências relacionadas ao consumo abusivo de tais substâncias, apenas as revitimizam, ampliando a problemática e reduzindo as possibilidades de assistência.