Apresentação: O Curso de Formação em Vivências em Práticas Integrativas e Populares de Saúde” constitui uma das ações promovidas pelo Programa de Extensão e Pesquisa ‘’Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica’’ (PINAB). Essa formação foi desenvolvida entre fevereiro e maio de 2024, com práticas educativas e de participação social no território da comunidade Boa Esperança, em João Pessoa-PB, no contexto de área adscrita à Unidade de Saúde da Família (USF) Vila Saúde, a qual mantém parceria com o PINAB desde a origem de ambos em 2007. O Curso teve como objetivo fomentar o conhecimento e oportunizar vivências da população local às práticas integrativas e complementares em saúde (PICS) e práticas populares de cuidado, na perspectiva de se estabelecer um espaço de aprendizagem mútua na ótica da educação popular em saúde e de ampliação do cuidado nesse território. A organização do curso de formação foi feita com participação de lideranças comunitárias, que auxiliaram na definição do melhor local e horário propício.
Desenvolvimento: No espaço de tempo citado, foram promovidos 7 encontros, todas as quintas-feiras às 14h30min, no salão comunitário da Igreja São Pedro, o qual constitui espaço propício, nesse território, para acolhimento dessa atividade, tendo estrutura adequada e acesso favorável para a população local. Embora a condução do curso fosse acompanhada por uma equipe de extensionistas do PINAB, com a participação e acompanhamento de uma educadora popular da comunidade, cada encontro semanal tinha seu facilitador, dentre pessoas escolhidas pela equipe que tinham conhecimento e habilidade para mediar as aulas. Cada aula era mediada através de uma vivência com a prática enfocada, de maneira que as pessoas participassem experienciando a mesma, e depois repercutindo seus sentimentos, percepções, aprendizados, inquietações e questões de problematização evocadas pelas vivências. Ao todo, foram trabalhadas com os participantes as seguintes vivências: dança circular, fitoterapia popular, fitoterapia científica, terapia comunitária, alimentação saudável, meditação e arteterapia (oficina de bonecas abayomi). Todas as vivências incluíram momentos teóricos, inicialmente, para depois dar início à prática em si; em meditação, o médico de família responsável trabalhou temáticas teóricas como consciência corporal, origens biológicas e históricas da ansiedade e seus agravantes sociais, para dar início à prática de meditação e o estímulo à autorreflexão; na vivência de dança circular, a também médica de família e professora universitária estimulou uma conversa de apresentação entre os participantes, contextualizando essa prática, para então dançar 5 músicas diferentes, cada uma de diferentes países e culturas, o que propiciou o diálogo rico sobre os diversos povos e suas tradições, por meio da movimentação rítmica; em arteterapia, trabalhou-se uma oficina de bonecas ‘’abayomi’’, as quais foram criadas na década de 1980 no Maranhão, tornando-se um dispositivo para a valorização das heranças de matriz africana e de enriquecimento da autoestima das pessoas pretas participantes do grupo, trazendo à tona elementos da infância; nas vivências de fitoterapia, lideranças comunitárias dissertaram sobre o uso e criação de xaropes caseiros, e estudantes convidados sobre cuidados básicos com o uso de plantas medicinais - degustando os lambedores e diferentes chás, incluindo plantas comuns à região e presentes nos quintais da comunidade. Na terapia comunitária, a psicóloga e terapeuta ocupacional convidada promoveu uma sessão com os participantes, estimulando o diálogo e a troca de conhecimento. Por fim, na experiência de alimentação e nutrição, um estudante de nutrição promoveu uma roda de conversa sobre o aproveitamento integral de alimentos, compartilhando receitas e tradições familiares para com os participantes, o que ofereceu uma abastada e educativa roda de conversa, também trabalhando temas como soberania alimentar e acesso aos alimentos. Além disso, ao final de cada sessão, foram enviados materiais de estudo no grupo on-line, os quais serviam como aprofundamento acerca da temática semanal, para os participantes que tivessem curiosidade. Considerando a diversidade de formações e de leitura e de escrita das pessoas participantes, incluiam-se tanto materiais escritos como materiais em vídeo, para as pessoas com dificuldades de leitura.
Efeitos percebidos: os participantes do grupo relataram melhor desenvolvimento pessoal, abertura de curiosidade sobre mais questões em torno de olhar crítico para sua realidade, bem como para questões pessoais e, também, a melhora de sentimentos de solidão e ansiedade, de modo a assinalar que o curso acabou possibilitando a conformação de vínculos e de redes de apoio social entre os participantes. Isso reflete-se como um interessante efeito positivo não só para a comunidade, mas também para os projetos de extensão popular já existentes e futuros nesse território, pois o convívio semanal promovido pelo curso em destaque propiciou uma afinidade entre os participantes da região, fazendo com que esses tenham maior facilidade tanto em permanecer em grupos existentes, como em participar e divulgar e novas ações. Adicionando-se a isso, os participantes e os extensionistas sentiram uma abertura maior para a pesquisa de temas novos, os quais foram aprendidos com os mediadores convidados, variando desde elementos populares de saúde, a partir das vivências em fitoterapia, até as tradições históricas dos diferentes povos trabalhados na vivência de dança circular. Ademais, os estudantes de graduação envolvidos, de odontologia e medicina, relataram uma mudança de perspectivas acerca do cuidado em saúde, compreendendo na prática a concepção de educação popular em saúde e sua contribuição na construção de espaços de formação e de territórios saudáveis.
Considerações finais: a educação popular em saúde contempla um conjunto de referenciais e metodologias que envidam ao estímulo à promoção de saúde entre as comunidades e diferentes territórios, por meio da participação ativa dos coletivos sociais e do empoderamento dos usuários. Dessa maneira, o curso de formação em tela trabalhou nos moldes dessa abordagem ao promover a partilha de saberes, a valorização da cultura popular e da história de cada participante, a consciência corporal e mental e, também, ao estimular a criticidade de suas respectivas realidades sociais, a partir de conhecimentos próprios da comunidade. Destaca-se, sobretudo, o sucesso do curso como espaço de ensino e de aprendizagem direcionado ao estímulo e ao cultivo do cuidado integral à saúde no território e de envolvimento propositivo e participativo da população na gestão de seu cuidado e no desenvolvimento de práticas integrais que colaborem com a situação de saúde local.