Apresentação: Este estudo expõe um relato de experiência a partir da metodologia World Café, com a temática Atenção à Saúde da População Trans, desenvolvida durante um Congresso Internacional de Enfermagem, realizado na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2023. A metodologia World Café é uma estratégia pedagógica do tipo metodologia ativa, na qual os diálogos são promovidos a partir de determinada questão-problema; dessa forma, reflete-se, propõe-se e discute-se soluções para os problemas encontrados na questão apresentada, de maneira leve e descontraída, a partir de uma mesa de café. Nesse sentido, as soluções são desenvolvidas de forma colaborativa, dentro de um espaço acolhedor e receptivo, no qual as soluções podem ser elaboradas de forma criativa e tranquila. Sobre a temática abordada na experiência, há de se considerar que as pessoas trans percorrem árduos caminhos para obterem seus direitos em saúde respeitados, inclusive os direitos sexuais e reprodutivos, além de direitos básicos, como o respeito ao nome social e ao acolhimento nos serviços de saúde, sem discriminação ou preconceito. Nessa perspectiva, as demandas em saúde das pessoas trans podem relacionar-se aos mais diversos aspectos, tais como a hormonização cruzada; planejamento reprodutivo; educação em saúde sobre práticas sexuais seguras; dentre outros. Além disso, os atendimentos discriminatórios são barreiras para atividades cotidianas como ir ao banheiro, ou ações de saúde, como a internação em um setor inerente ao gênero. Assim, a atenção em saúde de pessoas trans está relacionada não só aos serviços ofertados pelos espaços de saúde, mas também ao respeito às pessoas e ao seu gênero, como seres humanos. Este estudo objetivou refletir sobre a atenção à saúde da população trans, a partir da metodologia World Café. Desenvolvimento do trabalho: A experiência foi realizada durante um Congresso Internacional de Enfermagem, em uma tarde do mês de setembro de 2023, totalizando a carga horária de 03 horas. A fim de propiciar um ambiente acolhedor, optou-se por realizar a atividade em um terraço, no qual foram distribuídas, em círculos, cinco mesas e cadeiras, onde cada mesa constava uma questão disparadora. Ao centro, uma grande mesa, contendo café, sucos, bolos, biscoitos, pães, e outras comidinhas, para que, durante a realização do World Café, as pessoas participantes se sentissem à vontade para apreciar o lanche. A metodologia foi implementada às pessoas participantes do referido Congresso, entre discentes de graduação e pós-graduação, e docentes. A experiência foi realizada em etapas, iniciando com a apresentação das pessoas facilitadoras do evento, seguido da exposição da proposta, com explicação da dinâmica do World Café, possibilitando que as pessoas participantes se sentissem à vontade para lanchar durante a experiência, obtendo assim, um ambiente leve e informal. A seguir, explicou-se brevemente sobre transexualidade, diversidade, e saúde da população trans. Após esse momento inicial, as pessoas participantes foram divididas em cinco grupos homogêneos, de forma que cada grupo integrou uma mesa diferente. Uma pessoa de cada grupo foi eleita anfitriã da sua mesa, que é a pessoa responsável por acolher as pessoas participantes, e estimular as discussões, a fim de surgirem as propostas de solução. Cada mesa continha uma questão-problema relacionada à saúde da população trans, abrangendo reflexões sobre gestação de homens trans; discriminação no acolhimento às pessoas trans em unidades de saúde; internação de pessoas trans em enfermaria diferente do seu gênero; e aspectos relacionados ao atendimento ginecológico. Assim, as pessoas de cada grupo refletiam e discutiam sobre a questão apresentada, de forma a trazer soluções para o problema, cujas contribuições eram escritas em folhas de papel branco, disponíveis nas mesas. A cada quinze minutos, os grupos trocavam de mesa, porém as pessoas anfitriãs de cada mesa permaneciam nos seus grupos. Assim, com exceção das pessoas anfitriãs, todas as pessoas participantes discutiram todas as questões-problema apresentadas. As pessoas facilitadoras da proposta percorriam as mesas, a fim de incentivar o raciocínio crítico e desenvolver novas soluções, além de incentivar o diálogo entre as pessoas participantes. As tomadas de decisão foram realizadas em conjunto, assim, foi possível verificar as ideias divergentes, contudo, as pessoas precisaram chegar a um consenso comum. Ao fim de todas as rodadas, os grupos reuniram-se em um único debate, de forma a discutir a soluções propostas e a experiência do World Café. Resultados: A experiência proporcionada pela metodologia World Café permitiu debater as soluções para as questões apresentadas em um espaço colaborativo, de forma a aprimorar o conhecimento das pessoas participantes sobre atenção à saúde da população trans. Foram expostas soluções, tais como a capacitação dos profissionais de saúde quanto acolhimento de pessoas trans, e o respeito ao nome social. Discutiu-se, também, sobre a melhor forma de encaminhar uma pessoa trans para a enfermaria (de acordo com o gênero? Em um quarto privativo?). Observou-se que algumas questões-problema poderiam culminar em uma discussão mais complexa, porém, as pessoas participantes encontravam-se descontraídas e empenhadas em obter as melhores resoluções. Percebeu-se que as pessoas participantes se sentiram desafiadas, e ao mesmo tempo comprometidas em encontrar as melhores soluções para as questões-problema apresentadas. Considerações finais: A experiência trouxe reflexões sobre a atenção à saúde da população trans, a partir da metodologia World Café. Perante os resultados observados, considerou-se que a metodologia aplicada na experiência foi relevante para a discussão de uma temática tão importante, no que compete a atenção à saúde da população trans, em um ambiente descontraído e propício para o raciocínio crítico e para a elaboração de novas propostas resolutivas. O espaço convidativo do World Café deixou a discussão mais acolhedora, de forma a incentivar o debate das questões-problema. Nesse contexto, foi possível perceber que a metodologia World Café estimulou a discussão e o compromisso das pessoas participantes perante as soluções apresentadas, tais como intervenções referentes ao respeito ao nome social e à identidade de gênero; além de propostas de capacitação para profissionais de saúde sobre saúde da população trans. Além disso, foi possível estimular a percepção e o olhar holístico para a saúde da população trans, diante do fato de ser uma população estigmatizada e que carece de atenção em saúde. Assim, a experiência apresentada estimulou a reflexão crítica, resultando em sugestões plausíveis para a qualificação no acolhimento e na saúde das pessoas trans nos espaços de saúde, demonstrando ser uma estratégia pedagógica inovadora, a ser aplicada em outros espaços de ensino.
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