Tratamento odontológico em pacientes com a doença de Parkinson
Apresentação: Doença de Parkinson é uma enfermidade degenerativa, progressiva e crônica, que afeta o sistema nervoso central. Ocorre devido a diminuição na produção do neurotransmissor dopamina, que é a substância que auxilia na transmissão de mensagens entre as células nervosas e o cérebro. Este trabalho fruto de uma revisão de literatura, tem como objetivo abordar os aspectos do paciente com Parkinson diante do tratamento odontológico.
Desenvolvimento: A dopamina é de extrema importância para o organismo, pois ajuda o corpo a realizar os movimentos voluntários. Na sua falta, o controle motor é afetado, causando bradicinesia (dificuldade em realizar movimentos voluntários), tremores nas mãos, lábios e língua, desequilíbrio, rigidez nas articulações e na musculatura orofacial, desconforto na Articulação Temporomandibular (ATM), fratura dental, trauma dos tecidos moles, deslocamento de restaurações, afeta o sono e promove alterações intestinais. Hoje, mesmo com vários estudos, e com o diagnóstico clínico apontando para fatores genéticos, ambientais e até mesmo o envelhecimento, ainda essa enfermidade segue sendo considerada uma doença idiopática. A diminuição desse neurotransmissor, requer diagnostico de um neurologista, que normalmente, feita pela ressonância magnética e tomografia do cérebro. Após esse diagnostico, o paciente com Parkinson vai lidar com impactos tanto na saúde oral, quanto nos possíveis tratamentos odontológicos. Portanto, esses pacientes necessitam um pouco mais de atenção, pois com os avanços da doença e por consequente perda motora, vai cada vez mais, aumentando a dificuldade na mastigação, deglutição e na higienização. Também é comum alterações como a sialorreia (excesso de saliva na boca, devido a hiperatividade das glândulas salivares), ardor bucal, bruxismo, carie e alterações gengivais como a gengivite, em decorrência as dificuldades na higienização e no uso do fio dental, que com a perda motora, se torna um real desafio a ser feito pelo próprio paciente. O tratamento também é um fator que compromete a saúde bucal, onde que é utilizado medicamentos promotores da dopamina, antidepressivos e outros fármacos que visam melhorar a cognição. O tratamento medicamentoso mais comum utilizado é o Levodopa, que segundo a literatura no início do tratamento 80% dos pacientes alcançam melhorias em termos dos sintomas, ele que é o percursor da dopamina, que quando absorvida no duodeno, é transportada pela corrente sanguínea até o cérebro onde é convertida em dopamina. Com esse tratamento, tem sido notado pelos estudos uma diminuição do fluxo salivar do paciente (xerostomia), influenciando negativamente, tendo em conta a crucial e indispensável função desempenhada pela saliva na saúde oral.
Resultados:
Com essa revisão, esperamos contribuir positivamente no âmbito odontológico, visando um atendimento cada vez mais confortável, empático e eficaz. Trazendo métodos viáveis, como aferir sempre a pressão do paciente, uma detalhada anamnese e exame físico, melhorar acessibilidade dos consultórios, investindo em rampas para entrada e saída, facilitando a locomoção desses pacientes dentro do consultório, estudando e aprimorando técnicas para imobilizar a boca do paciente durante o procedimento, como a utilização de mantenedores de abertura bucal, pois isso diminui o esforço do paciente durante o procedimento, ressalta também, a importância da aspiração efetiva da cavidade oral, pois com isso, diminui o risco de disfagia (dificuldade na deglutição) e broncoaspiração (algo indesejado é aspirado pelas vias aéreas), minimizando assim as chances de acidentes, ficar atento sempre ao emocional do paciente, que pode ficar meio abalado presenciando a sua incapacidade de controlar os próprios movimentos, por isso é interessante um atendimento cauteloso e atencioso, para que o paciente se sinta acolhido, e estimulado a se aderir ao plano de tratamento proposto pelo dentista, Também é recomendado realizar um plano de tratamento odontológico individualizado considerando o estágio atual e a progressão da doença. Nesses casos, ainda não há comprovação cientifica da eficácia da escova elétrica em comparação com a manual, entretanto, permitem uma higienização mais confortável, por terem cerdas menores e cabeça pequena, podendo assim alcançar locais de difícil higienização perante a dificuldade motora, mas o uso ou não dessa escova elétrica vai sempre depender do cirurgião dentista que está acompanhando o quadro paciente, pois o uso incorretamente desse instrumento de higienização poderá causar danos na região da gengiva.
Segundo a OMS (organização mundial da saúde), existem aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo com doença de Parkinson, o que representa 1% da população mundial, prevalecendo em pessoas a partir de 65 anos e 6% aos 85 anos, e com a previsão de termos o dobro desses números até 2040. No brasil estima –se mais de 200 mil casos de pessoas com doença de Parkinson. Com isso, se torna cada vez mais necessário estudos e preparativos para receber os desafios dessa enfermidade e adotar a melhor conduta possível, visando sempre a manutenção da saúde bucal desses pacientes.
Considerações finais
A doença de Parkinson (DP) é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, superada apenas pelo Alzheimer. Com isso, se torna um assunto relevante, não só pelo neurologista, mas também pelos outros vários profissionais da saúde que podem vir a se encontrar com esses pacientes durante a carreira profissional. Torna-se fundamental, um olhar diferenciado e um conhecimento interdisciplinar dessas enfermidades, por parte do dentista, junto de uma anamnese bem detalhada, visando conhecer as limitações do paciente, medicamentos em uso, historia medica, entre outras informações relevantes, são de extrema importância, quando se refere ao paciente parkinsoniano, a capacidade de reconhecer possíveis características do paciente portador dessa doença, as possíveis intercorrências diante das limitações, as supostas interações medicamentosas, isso tudo favorecendo um bom planejamento e um atendimento confortável e seguro. Neste mesmo sentido, seria interessante a familiarização do aluno de odontologia com esses temas, durante a graduação, através de palestras, congressos, como presente caso, ou até mesmo implementar na matriz curricular na formação, temas relacionados a esta enfermidade, dando ênfase a forma de abordar pacientes portadores dessa e de outras doenças parecidas. Formação mais humanizada, abordando o paciente com um todo, e não focando assim só na queixa principal, seguindo nas normas do SUS. A prevenção aliada a preparação dos familiares ou cuidadores para higienização oral da pessoa com Parkinson e consultas regulares ao Cirurgião dentista, são métodos fundamentais para garantir a saúde bucal de pacientes com essa doença neurodegenerativas, que mesmo não tendo cura, pode ser tratada com os diversos medicamentos de reposição de dopamina, com hábitos benéficos como prática de atividade física, fisioterapia e acompanhamento nutricional. Dentro desse cenário, só será possível alcançar e manter uma boa saúde oral do paciente, se o dentista, o próprio paciente e o possível cuidador, se unirem em prol desse mesmo objetivo.