Trata-se de um relato de experiência das atividades desenvolvidas durante o Estágio Local de Vivências no SUS - ELV SUS, da Universidade Federal da Bahia - UFBA, que aconteceu no período de 01 a 09 de março de 2024, na cidade de Vitória da Conquista/BA. O ELV-SUS surgiu em 1999 como iniciativa dos estudantes de medicina da UFBA e tem como público alvo os alunos ingressantes no curso de medicina, não se limitando exclusivamente a este público, sendo permitida a participação de alunos de todos os períodos do curso. O intuito do estágio é permitir aos recém ingressos o contato com os níveis de assistência do Sistema Único de Saúde e fomentar assim discussões e uma visão crítico-reflexiva do Sistema Único de Saúde(SUS) para desmistificar os conceitos, princípios e diretrizes, além de permitir uma melhor formação política para a defesa desse sistema. As atividades de planejamento do programa começam no semestre anterior ao seu início, com reuniões e capacitações entre os alunos que já participaram do estágio como estagiários e optam por voluntariar-se para retornar como monitores. As 10 vagas de monitor são preenchidas por aqueles que demonstram engajamento e participação ativa nas reuniões do projeto. Depois da fase de planejamento são abertas as inscrições para o público alvo, que através de um formulário on-line manifestam interesse em participar da iniciativa, participaram das atividades no semestre vigente um total de 36 alunos, dos quais 26 atuaram como estagiários e 10 como monitores. Esse número reflete o engajamento e a participação significativa dos estudantes no programa, evidenciando seu interesse em contribuir para o fortalecimento do SUS. Os custos como transporte e alimentação ficam a cargo da universidade e os alunos se alojam em salas de forma coletiva. No projeto são programadas atividades de visitas de campo, visitas ao Movimento Sem Terra, rodas de conversas, dinâmicas de grupo e momentos de lazer.Na versão do ano de 2024, no início das atividades de campo, os estudantes tiveram a oportunidade de visitar as instalações do MST Canguçu. Durante essa visita, foi promovida uma roda de conversa com as lideranças do movimento, seguida por uma exploração do território. Com isso, os participantes puderam explorar conceitos de saúde ampliada, compreender o funcionamento do MST, conhecer métodos de produção agrícola e dialogar com moradores locais sobre as necessidades de saúde da comunidade e escutar sobre oque eles acham que é ter saúde. No segundo e terceiro dia de atividades os alunos foram divididos em dois grupos, onde um dos grupos foi para a zona rural e o outro permaneceu na zona urbana, alternando os locais de visitas nos dois dias. Na ocasião foram realizadas por parte dos alunos diversas atividades a depender do fluxo das unidades visitadas no dia, na zona rural os alunos foram divididos em duplas e foram acompanhados pequenos procedimentos como aferição de pressão, consultas de triagem, houve participação em reunião do conselho local de saúde, visitas domiciliares conhecendo o território e as suas peculiaridades com os ACS, dentre outras atividades. Nessa atividade em específico o intuito era acompanhar os profissionais e atividades nas Unidades de Saúde da Família e assim poder observar pontos críticos e potencialidades desses locais. Na zona urbana, os estagiários, acompanhados pelos monitores, visitaram o Centro Municipal de Atenção Especializada (CEMAE). Essa unidade de saúde concentra uma variedade de serviços especializados, como consultas, exames e tratamentos em diversas áreas médicas, centralizando os cuidados de saúde de nível secundário em um único local para melhor atender à comunidade. Já no quarto dia de atividades os alunos não foram para o campo e foram realizadas no alojamento rodas de conversas sobre “Machismo e violência à mulher” e “Masculinidade tóxica”, nessa atividade mulheres e homens foram separados como forma de otimizar as discussões e que os alunos se sentissem mais à vontade para falar sobre os temas propostos. Em contraponto, no quinto dia os alunos visitaram os equipamentos da rede de atenção psicossocial de Vitória da Conquista, sendo eles o CAPS II, CAPS AD e a ala psiquiátrica do Hospital Crescêncio Silveira. Os gestores dos CAPS explicaram um pouco do funcionamento do serviço, na ocasião um dos usuários atendidos declamou um poema para os presentes e no hospital uma das representantes da gestão do local e uma das internas de psiquiatria explicou o funcionamento daquele serviço. No último dia, os participantes visitaram na parte da manhã a Maternidade do Hospital Geral Esaú Matos onde foi possível conhecer um pouco mais sobre o funcionamento da rede de cuidado materno-infantil da cidade e na parte da tarde visitaram as instalações da base do SAMU do município, onde foi realizada uma roda de conversa com a enfermeira gerente do serviço que explicou o funcionamento do SAMU e sanou as dúvidas levantadas pelos presentes. O ELV-SUS é um estágio amplamente consolidado no curso de medicina da UFBA e a edição de 2024 foi a 44ª. Pela percepção dos alunos participantes e organizadores a experiência foi extremamente satisfatória, uma vez que através das discussões e atividades em grupo que aconteciam na noite após as visitas foi percebida uma postura crítico-reflexiva por parte dos alunos e muitos alunos relataram nos momentos iniciais do estágio não conhecer o SUS e no decorrer dos dias foi demonstrado maior conhecimentos dos princípios e diretrizes do SUS. As atividades foram proveitosas por permitir aos alunos a desmistificação e quebra de paradigma em relação a movimentos marginalizados socialmente como o MST, ainda muitos dos participantes através das discussões conseguiram refletir sobre o consumo consciente e o uso de agrotóxicos. Foi permitido aos alunos contemplar a importância de se defender um financiamento maior à Atenção Primária à Saúde, além da necessidade da existência de uma gestão efetiva para a resolução de problemas, além disso foi percebido pelos alunos os problemas enfrentados pelos diversos profissionais neste nível de atenção. Ainda como resultado percebido nas discussões, foi observado uma postura mais crítica em relação à RAPS e mais humanizada em relação ao paciente em situação de sofrimento mental. Foi observado também um maior entendimento sobre a rede materno-infantil, assim como a rede assistencial especializada, o funcionamento do SAMU e demais equipamentos. Conclui-se que a experiência foi proveitosa uma vez que parte dos alunos que participaram pela primeira vez manifestaram interesse em retornar como monitores na edição subsequente. Vale a reflexão que estágios como esse fortalecem o tripé universitário e contribuem para uma formação humanística e crítico-reflexiva dos discentes envolvidos e iniciativas como essa precisam ser replicadas, financiadas e incentivadas nas universidades brasileiras. Além disso, é importante ressaltar que iniciativas como essa desempenham um papel fundamental na valorização do SUS e no aprimoramento do entendimento sobre sua funcionalidade desde os primeiros semestres da graduação em medicina. Esses estágios proporcionam uma oportunidade única para os futuros profissionais da saúde se familiarizarem com o sistema que irão integrar e entenderem sua importância para a saúde pública no país, em busca de cada dia melhor esse sistema tão magnífico mas que ainda contém falhas.