Apresentação: Esta pesquisa foi realizada em 2023, na disciplina de Seminários Integrados que compõe o currículo de graduação em Medicina da Universidade Estácio de Sá. Até 1990, a Organização Mundial da Saúde ratificava a inclusão da homossexualidade na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. Essa expressão da patologização histórica da homossexualidade, contribuiu significativamente para o estigma e a marginalização desse grupo. Além disso, historicamente, a abordagem da saúde da mulher concentra-se no enfoque reprodutivo. Os profissionais de saúde ainda não estão adequadamente preparados para atender usuárias que se relacionam com mulheres. Isso prejudica o acolhimento e reconhecimento das especificidades do cuidado individual, dificultando vínculo, continuidade do cuidado e a resolubilidade da atenção. Este trabalho buscou compreender se a invisibilidade de outros aspectos da sexualidade das mulheres sáficas as priva de um atendimento adequado e eficiente, perpetuando a alienação social de pessoas LGBT. Desenvolvimento do trabalho: A pesquisa foi realizada entre estudantes de graduação de medicina do estado do Rio de Janeiro, por meio de um questionário estruturado, a partir de um grupo de rede social de alunas. A amostra 104 respondentes foi captada por meio do método “bola de neve”. O questionário abordou o perfil socioeconômico e os temas: vida e saúde sexual, acesso a informação e conhecimento, atendimento médico e acolhimento em consultas relacionadas à saúde sexual. Resultados: A maior parte das entrevistadas não utiliza nenhum método contraceptivo, conforme esperado, nem formas de proteção em relação às ISTs, ainda que muitas delas tivessem relatado a presença de sintomas que podem ser relacionados às ISTs, nos últimos 12 meses. A maioria dos profissionais não buscou saber a orientação sexual das mulheres, no momento da consulta. Apesar disso, muitas receberam orientações contraceptivas, e entre as que explicitaram que faziam sexo com mulheres, foram raras as orientações recebidas sobre a necessidade de prevenção ISTs. Essa falha na qualidade e propriedade dos atendimentos pode estar relacionada à premissa de que, com base na sua orientação sexual, prevalece a visão focada na saúde reprodutiva. Tanto as entrevistadas quanto os profissionais de saúde negligenciam a possibilidade de relacionamentos sáficos como possível exposição de risco, o que vem sendo apontado em diversos estudos. Confrontadas com essas circunstâncias, muitas das entrevistadas consideraram que o profissional não estava apto a atendê-las. No espaço para que as respondentes pudessem relatar aspectos que identificavam como relevantes a respeito das suas experiências de atendimento, diversos relatos evidenciaram preconceito, demonstrando de forma explícita o despreparo dos serviços de saúde para acolher essa população. Considerações finais: As lacunas apontadas nesse estudo indicam que aspectos da sexualidade e a exposição a ISTs precisam ser abordados durante os atendimentos e nos processos de divulgação em saúde pública. A valorização de diálogos informados e informativos, implementação de práticas inclusivas nos serviços de saúde, bem como na formação dos profissionais de saúde, precisam contemplar a diversidade. Somente por meio desses esforços, será possível garantir que todos tenham acesso pleno à saúde sexual.