Introdução: São José de Ubá, segundo dados do IBGE, é o segundo menor município do estado do Rio de Janeiro, tendo uma população de 7.070 habitantes (censo 2022), uma área territorial de 249,688 km².O Município possui mais de 60% de seu território por zona rural, sendo um dos maiores produtores de tomate salada do Brasil e o 2º maior produtor do Estado do Rio de Janeiro com uma produção anual média de 07 milhões de caixas de 23 kg. Essa realidade faz com que grande parte da população se dedique ao trabalho nas lavouras na maior parte do ano. A plantação de tomate remete muitos esforços, devido a fragilidade dessa fruta ás condições do solo, clima e uma extrema sensibilidade as pragas, o que torna esse trabalho muito exaustivo e arriscado, principalmente pelo uso desordenado de agrotóxicos. O Brasil é um dos países que mais utiliza agrotóxicos no mundo nas suas lavouras e plantações. Através de visitas domiciliares os Agentes comunitários de saúde conseguem chegar a um nível de vínculo forte e estabelecido com os usuários, portanto conhecer e saber identificar fatores de risco, vulnerabilidades e danos a saúde se torna crucial para a efetividade do cuidado. Objetivos: Desenvolver a habilidade dos ACS em reconhecer o conceito de risco e perigo, bem como discutir os principais riscos à saúde da população e as diversas formas de avaliar e priorizar as ações por meio das vigilâncias. Descrição: A concepção deste relato surgiu a partir de uma constatação crítica de uma necessidade local, trazida durante o Curso do “Programa Saúde com Agente”. Metodologicamente, este curso veio de uma parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Conasems e o Ministério da Saúde, formando uma imensa rede de profissionais atuando na ponta dos serviços de saúde, onde atuei como preceptora do curso. No contexto de um dos encontros presenciais, discutimos sobre os Determinantes Sociais de Saúde e Fatores de Risco, ao exemplificar a gama de doenças que mais assolam nossos munícipes, destacamos a significância da qualidade nas visitas domiciliares. Apresentei a concepção de olhar holístico e como através da obtenção desses conhecimentos e da aplicação dessa visão macro, podem salvar vidas. Por conseguinte, as questões sobre os agricultores e as contaminações de solo, ar e água pelo uso indevido de agrotóxico, foram lançadas a mesa. Por se tratar de um assunto que é comum a todos os ACS’s, independe das peculiaridades de cada território, pois mesmo o ACS que não possui área em zona rural, sua população também é colocada em risco, visto a extensão das possibilidades de contaminação advindo das lavouras. Os conteúdos teóricos demonstraram possibilidades de inserção e atuação do ACE no campo da precaução, prevenção e recuperação de situações de riscos de degradação ambiental, o trabalho em conjunto desses profissionais vem se mostrando cada vez produtivo, atuando como partes que se complementam. Foi apresentado aos ACS a Ficha de Notificação Compulsória, que geralmente fica em posse dos médicos ou da enfermagem, contudo conhece-la e entender que colher e lançar os dados nos Sistemas de Notificação, faz com que possamos enxergar a situação de saúde do município para que decisões possam ser tomadas a nível micro e macrorregional. A notificação das intoxicações por agrotóxicos é obrigatória e deve ser feita semanalmente. A partir de então foram lançadas as seguintes questões: Verificar se existe atividade de risco ambiental em seu território, tais como uso de agrotóxicos, queimadas, desmatamentos, falta de acesso a saneamento básico, morros com risco de desabamento, casas construídas em locais de risco ou outro; A partir da identificação do local do risco ambiental, identifique se existem pessoas em situação de vulnerabilidade ambiental. Explique por que você entende que há uma situação de vulnerabilidade ambiental: ao que a pessoa está vulnerável e por quê? Qual seria pelo menos uma atividade que você ACS poderia planejar e executar para auxiliar as pessoas em vulnerabilidade? Resultados: Com a explanação das questões supracitadas, as respostas foram avaliadas por grupos de ACS que fazem divisa entre seus territórios e planejada uma ação a partir dos fatores de risco e vulnerabilidades encontrados em comum entre os grupos formados. Com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde, os ACS que a trabalham na zona rural realizaram uma tarde de visita nas lavouras durante o período da safra, contando com a presença da equipe do Núcleo de Assistência a Saúde da Família ( NASF). Realizaram a distribuição de folhetos informativos sobre Intoxicação por Agrotóxico, alertando sobre os sinais e sintomas mais comuns,entrega de alguns materiais de Proteção Individual, palestra com a Psicóloga sobre dispensação adequada das embalagens dos agrotóxicos usados e um café com roda de conversa dentro dos barracos construídos pelos próprios produtores. Os ACS que não possuíam território em zona rural, a ação foi realizada nas escolas, abordando o mesmo tema, porém com cuidados na higienização de alimentos, etc. Considerações finais: A atuação dos profissionais da assistência a saúde, com ênfase na atenção básica, são essenciais para as ações de saúde e notificação de doenças e agravos decorrentes da exposição aos agrotóxicos. Sobre tanto, participar da oportunidade onde profissionais que antes sem qualquer tipo de formação teórica, que por consequência sem espaço de fala. Agora, profissionais empoderados, realizando uma ação em saúde desde a identificação do risco, planejamento até a promoção das atividades, sendo assim protagonista do cuidado, culminou numa experiência exitosa. Agentes Comunitários de Saúde que antes tinham metas de quantidade de visitas a serem alcançadas, agendamentos de consultas, acompanhamento de equipe, distribuição de folder nos eventos. Hoje são Agentes Comunitários de Saúde que participam do processo de territorialização e mapeamento da área de atuação da equipe, identificando grupos, famílias e indivíduos expostos a riscos de intoxicação por agrotóxicos, inclusive aqueles relativos ao trabalho, a exemplo de agricultores(as) familiares; realizam busca ativa de casos e alertam a equipe da Unidade Básica de Saúde da necessidade de notificação dos casos suspeitos de intoxicação no Sinan; alertam aos aplicadores de agrotóxicos sobre a importância do uso de equipamentos de proteção individual (EPI), conforme recomendações do rótulo e bula do produto; conversam com as comunidades sobre os riscos da presença de populações vulneráveis nos locais de aplicação de agrotóxicos, especialmente durante a aplicação.