APRESENTAÇÃO: O presente estudo relata a experiência de acadêmicos do curso de Saúde Coletiva (SC) da Universidade do Estado do Pará (UEPA) diante dos desafios de captações de doadores de sangue na contemporaneidade para contribuir na estruturação dos serviços de saúde que dependem do sangue e seus hemoderivados, utilizando-se da Metodologia da Problematização (MP) associado ao arco de Maguerez, apresentado no componente curricular Fundamentos de Saúde Coletiva. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: O processo construção da metodologia ocorreu após análise reflexiva de problemas da realidade por meio de tarefas que implicam observação, reflexão e tomada de decisão, associado ao uso do Arco de Maguerez, uma vez que este proporciona uma das melhores formas de intervenção à realidade. A sensibilização para escolha do tema ocorreu após um rico processo de reflexão, que envolveu docente e alunos de graduação, desenvolvido em aula expositiva no curso de Saúde Coletiva em um dos seus eixos temáticos, sobre determinação social em saúde, grupo com subtema “Serviço Social”. Esse estudo iniciou a partir da observação das necessidades do incentivo a comunidade sobre a importância da doação de sangue, da desmitificação de estigmas e preconceitos, além da necessidade do cuidado com a saúde para tornar-se potencial doador. O processo de ensino-aprendizado foi desenvolvido durante uma visita à Fundação Hemopa, no qual os acadêmicos foram recepcionados pela equipe de profissionais responsáveis pelo setor de captação de doadores, composta essencialmente por profissionais do Serviço Social, que elucidaram o processo realizado no ato da doação, esclarecendo quanto ao fomento de parcerias, á importância da doação no campo universitário e a elaboração estratégica de conteúdo para a educação em saúde. Na visita foi apresentado ao grupo com é realizada a triagem dos doadores, após iniciou-se a visita interna coordenada pela assistente social, que apresentou todo o processo da doação, os desafios e sanou as dúvidas apresentadas pelo grupo. Uma das acadêmicas foi designada a realizar o processo pelo qual um doador deve passar antes da doação. Nesse primeiro momento foi realizada uma síntese da situação inicial, para identificar os fatores condicionantes do problema detectado, onde buscou-se esclarecer os pontos críticos associados à problemática, nos quais evidenciou-se: 1°.: A falta de esclarecimentos da população, que geram inseguranças, estigmas e preconceitos, diminuindo assim a quantidades de doadores sensibilizados, apesar das inúmeras ações realizada pela equipe multidisciplinar que promove serviços contínuos de captação e capacitação de parceiros; 2°.: A grande demanda de bolsas de sangue solicitada pelos hospitais de todo Estado, públicos e privados; 3°.: O déficit na qualidade de saúde da população, principalmente, na fase intermediária que compreende a fase jovem do ser humano, o principal fator desafiador para as estratégias de captação de doadores, pois muitas das vezes, essas pessoas chegam ao hemocentro e quando passam pela triagem mostram-se inaptos a doação. Em seguida foi apresentada os resultados da visita em sala para a turma, juntamente com a proposta de intervenção que consistia em organizar uma caravana de doação de sangue dos alunos. Da apresentação até o dia da realização da Caravana foram dias de mobilização, com apoio da coordenação do curso, que interveio junto a instituição de ensino para autorizar o convite aos alunos de outras turmas. As divulgações ocorreram via redes sociais, grupos em aplicativos de mensagens, convites presenciais aos alunos de outros cursos e de outros campus da universidade, para aderirem ao movimento. Durante a mobilização no campus II, que sedia os cursos da área da saúde, foi possível perceber o desconhecimento dos universitários quanto ao processo de doação, o medo e tabus que ainda permeiam nesse ato, os estigmas enraizados pela desinformação que levam muitos a recusa da doação. Além disso, o que ficou bastante evidente nesse contexto foi as negativas por adesão as tatuagens e colocação de piercing, fatores que demandam espera de um ano para que a pessoa volte a estar apta a doar, acarretou em um número significativo de universitários a recusa. RESULTADOS: Como resultado da intervenção, ocorreu na data de 14 de junho de 2023, dia mundial do doador de sangue, a I Caravana de doação de sangue do Curso de Saúde Coletiva, com 21 candidatos voluntários a doação, entre eles, servidores, professores e alunos, que se inscreveram via google forms. O transporte foi cedido pela fundação Hemopa, a qual possui veículo especialmente para essa finalidade. Ao chegamos na instituição os candidatos foram encaminhados para realização do processo, cadastramento e triagem. Apenas 17 dos candidatos estavam aptos a realização da doação e desse quantitativo, apenas 4 fizeram o cadastramento de medula óssea. No decorre das mobilizações foram feitos esclarecimentos do processo de cadastramento de medula óssea e sua importância para quem espera por um doador, quanto a esse tema os candidatos se mostraram satisfeitos e sensibilizados, porém, ao chegar no hemocentro não foi apresentado a eles essa opção, apenas quando manifestada pelo doador o desejo do cadastramento, era realizado. A falta de encorajamento pela equipe técnica fez com que muito voluntários deixassem de doar medula. Desse modo ocorre a reflexão sobre as razões das questões colocadas anteriormente e como propor possíveis soluções as deficiências na qualidade das circunstâncias exibidas. A atividade, portanto, cumpriu seu objetivo de desenvolver ação extensionista por meio da sensibilização de acadêmicos na realização de doação de sangue com a finalidade de divulgar e desmitificar preconceitos, anseios em torno da doação e agregar informações necessárias para nortear o plano de cuidado com a saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Desenvolver a construção do Arco de Maguerez na atividade curricular possibilitou a observação e a reflexão em torno dos desafios diante das captações de doadores de sangue na contemporaneidade, sobretudo, por meio do empoderamento e compromisso social, que oportunizou mobilizar e contribuir efetivamente na estruturação dos serviços de saúde que dependem do sangue e seus hemoderivados. Além de fomentar o cuidado com a saúde pessoal como forma de contribuir para o cuidado com a saúde da coletividade, permitiu compreender que a saúde vai muito mais além de apresentar algum sinal ou sintoma, de ter contato com algum agente etiológico, mas que a pessoa precisa de uma série de fatores e condições para que se possa ter saúde. A Saúde Coletiva é uma ciência integral, colaborativa e interdisciplinar, que pretende, por meio da educação em saúde diminuir a resistência da população em doar sangue voluntariamente, de forma rotineira, contribuindo para a mudança de mentalidade por meio da percepção de que alguém, a cada minuto, poderá estar precisando de nosso sangue. Essas vivências são enriquecedoras para nós enquanto futuros profissionais da saúde, pois nos permite compreender o território e a sociedade a qual estamos inseridos profissionalmente, para que possamos ter êxodo no planejamento, nas ações educativas, nas organizações desses serviços para além da visão biomédica, perpassando ao entendimento as questões das ciências sociais envoltas nesse processo.