O Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas é uma modalidade de dispositivo da rede de saúde mental do Sistema Único de Saúde. Sua função é oferecer atendimento especializado a pessoas que sofrem com problemas relacionados ao uso abusivo de álcool e outras drogas. Esses centros fornecem uma variedade de serviços, incluindo avaliação clínica, tratamento psicoterapêutico, apoio social, grupos de suporte e encaminhamento para outros serviços quando necessário. A experiência aqui descrita versa sobre o período do meu estágio obrigatório de psicologia em um CAPSad II, revelando a dimensão e vulnerabilidade de um homem jovem (que darei o nome fictício de Vitor) de 36 anos em situação de rua no território da zona oeste do RJ. Vitor comparece espontaneamente no CAPSad solicitando ajuda para algumas demandas e aguarda o atendimento da profissional designada para ser sua referência. Chamo Vitor na recepção da unidade para atendimento individual no consultório, porém na abordagem identifico que ele se apresentava quieto e lentificado, quase não ouvia sua voz e ao chegar mais próximo ouço sua voz baixa e tremula dizendo: “não consigo levantar, estou em crise. Tenho Parkinson e vou demorar uma hora para me mexer”. Consigo uma cadeira de rodas e com sua ajuda consigo transportá-lo para o consultório. No atendimento Vitor menciona que faz uso de substância e está em situação de rua há 04 meses, pois saiu da comunidade terapêutica onde estava abrigado e a motivação para comparecer no CAPS foi o roubo de sua mochila com a identidade e o cartão de banco. Ele portava um frasco de vidro com poucos comprimidos para uso contínuo do Parkinson e uma pasta danificada, que depositava uma xerox da sua certidão de nascimento, prescrição dos medicamentos e laudo do neurologista com o diagnóstico de Parkinson. Naquele momento tentando ouvi-lo, mas percebendo todo o contexto de vulnerabilidade e invisibilidade que Vitor se encontrava, uma angústia tomou conta de mim, pensamentos de como era possível haver uma pessoa em situação de rua naquela condição? como ficar paralisado por uma hora, de três em três horas em um território extremamente violento? entre outros fatores como clima e alimentação. É tomado como encaminhamento a solicitação da segunda via da identidade, a oferta de almoço, bem como seu retorno ao CAPS no dia seguinte. Na manhã seguinte peço ao médico a renovação da receita e com Vitor vou a clínica da família, para realizar o cadastro temporário e retirar as medicações controladas. A premissa que me permitiu ter essa iniciativa estava baseada na humanização em saúde, na garantia de direitos, bem como na construção do cuidado ampliado e em rede. Ainda, conseguimos construir de forma interdisciplinar com a assistência social o seu acolhimento no abrigo no território próximo numa parceria de corresponsabilidade.