A experiência descrita nasce do grupo de trabalho do Centro de Estudos do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira (IMAS Juliano Moreira). Nos encontros, foram discutidas diversas lacunas nas formações dos profissionais da rede e a que damos destaque aqui é dos que atuam na rede de atenção primária à saúde (APS) do território onde está situada a referida instituição psiquiátrica, uma vez que seu entorno há expressivos dispositivos de saúde mental, presença de residências terapêuticas e usuários da saúde mental. Realizamos reuniões com a apoiadora da clínica da família para articularmos capacitações visando um aperfeiçoamento do atendimento a pessoa com sofrimento mental e assim, qualificar a assistência a essa população. Foram realizados diversos encontros e reuniões para a elaboração dos conteúdos pertinentes a essa capacitação. As temáticas foram divididas em quatro eixos/ módulos abordando assuntos que permeiam o cuidado vivenciado pela atenção primária. 1. síndromes, classificação de risco em saúde mental, abordagem de pacientes suicidas, abuso sexual, intoxicação por substâncias e medicamentos disponíveis nas redes do Sistema Único de Saúde; 2. técnicas de escuta, incluindo aspectos como quem escuta e como escuta, além do acolhimento; 3. estratégias de cuidado com os profissionais de saúde, incluindo a discussão sobre os efeitos da violência contextual sobre esses profissionais, comunicação não violenta e feedback; 4. políticas integrativas, abordando tanto a teoria quanto a prática. Posteriormente, foi estabelecida uma agenda com a gerente da unidade selecionada para desenvolver uma programação viável, visando à implementação efetiva das capacitações. A capacitação abrangeu todos os profissionais de diversas categorias, incluindo enfermeiros, médicos, dentista, técnicos de enfermagem, farmacêutico e, predominantemente, agentes comunitários de saúde. Durante esse processo, foi possível identificar a marcante vulnerabilidade social presente na comunidade, evidenciada por acontecimentos adversos e pela fragilidade do cotidiano. Essa experiência ressaltou a sobrecarga enfrentada pelos profissionais da atenção primária em diferentes frentes de atuação, a falta de habilidade e preparo dos profissionais para lidar com a diversidade do território e com as demandas relacionadas à saúde mental, bem como as histórias de vida dos usuários atendidos, que muitas vezes geram certa angústia aos trabalhadores. Dessa forma, é possível inferir que os profissionais da atenção primária carecem de capacitações alinhadas ao seu processo de trabalho. As políticas públicas relacionadas à saúde não devem se basear apenas em indicadores de qualidade, mas sim enfatizar, por meio de ações concretas no território, a importância do cuidado, da escuta e do acolhimento de qualidade, além do investimento/ financiamento em equipes interdisciplinares de apoio, o que atualmente foi denominado de equipe e-multi, visando explorar suas potencialidades de modo ampliado e qualificado.