Esta pesquisa visa entender as concepções e práticas de cuidado da perspectiva de pessoas em situação de rua e qualificar a relação com as políticas públicas. O sujeito de que trata a pesquisa teve diversar designações na história de acordo com processo sociais pois tais como clochard, homeless, sem-abrigo, sem-teto, sem-domicílio fixo, morador de rua, pessoa em situação de rua, etc. que trouxeram visibilidade como também estigmas. Por exemplo, como na classificação anglo-saxã — homeless — e francesa — sans domicile fixe —, a definição é em função da não existência de moradia.
Desde 2009, o governo federal passou denominar essa população relacionada a viver na rua “população em situação de rua”, entendido como “grupo populacional heterogêneo, que possui em comum a pobreza extrema, os vínculos familiares fragilizados ou rompidos e a inexistência de moradia convencional regular. Essa população se caracteriza, ainda, pela utilização de logradouros públicos (praças, jardins, canteiros, marquises, viadutos) e áreas degradadas (prédios abandonados, ruínas, carcaças de veículos) como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou permanente, bem como unidades de serviços de acolhimento para pernoite temporário ou moradia provisória”.
Essa etnografia teve como ambiência Novo Hamburgo/RS, cidade da região metropolitana de Porto Alegre, e baseou-se em encontros com as interlocutoras e os interlocutores, realizados em espaços públicos e em transportes coletivos, durante 3 anos. No contexto de 215 pessoas em situação de rua mapeados em censo da Universidade Feevale, foram possíveis 58 encontros com pessoas em situação de rua, desses apresento a etnografia de 10 protagonistas do cuidado.
Na pesquisa diz uso dos métodos etnográfico e cartográfico e das técnicas de observação participante, observação flutuante, entrevista aberta e desenho, busquei recolher falas e imagens, relacionando seus itinerários e movimentos pelas ruas da cidade às suas noções de cuidado e autocuidado, considerando suas relações entre as pessoas e com serviços públicos especializados no atendimento à população em situação de rua.
Como conclusão o cuidar de si e dos outros no contexto da vida precária na rua é premissa, pois quem se insere no coletivo é protegido por ele e quem fere as relações estabelecidas pelos códigos de conduta de prestação e contraprestação são repreendidos com agressão, negação de “apoio”, ou seja, dinheiro, alimentos, bebida, droga e proteção. Considera, ainda, um conjunto de técnicas e táticas que se transformam no tempo, integrando as redes sociais, as lógicas de poder e os processos de subjetivação, incorporando saberes e práticas de diferentes procedências.
O dilema que perpassou as falas das interlocutoras e dos interlocutores da pesquisa foi saber que aparentemente haveria lugares para aonde ir quando sentisse dor ou sofrimento gerando uma necessidade de recuperação, contudo eram impedidos, por uma série de fatores conjunturais e outros fatores ligados diretamente à singularidade de quem vive na rua. Percebe-se como fundamental a intervenção dos serviços especializados como o Consultório na Rua e da Abordagem Social, por meio de seus profissionais, teria o papel de mediar a relação entre pessoas em situação de rua e os serviços públicos.