PRÁTICAS DE ACADÊMICOS DE SAÚDE COLETIVA EM UMA AÇÃO DE EXTENSÃO NA COMUNIDADE QUILOMBOLA PITIMANDEUA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

  • Author
  • Maria Eduarda dos Santos Barbosa
  • Co-authors
  • Xerxes Bosco Moura Guimarães , Elaiane Silva de Sousa , Adria Marcelle da Silva Lucena , Lindsayn Lorena de Souza Soares , Claudia do Socorro carvalho Miranda
  • Abstract
  • Apresentação: Os direitos básicos acerca da educação e saúde são cruciais na emancipação da cidadania de um indivíduo em sociedade. Atendendo a isso, os projetos de extensão em comunidades quilombolas e povos tradicionais desempenham um papel crucial como ferramenta na preservação da cultura, no desenvolvimento sustentável e na proteção dos direitos dessas famílias, onde se criam trocas de conhecimento entre as comunidades e abrem portas para diálogos com premissas baseadas nas ideias de Paulo Freire onde o pedagogo explica que “não há saberes mais ou saberes menos, há saberes diferentes” (1968). Dessa forma, é fundamental citar o processo de aprendizagem durante esses projetos por meio da mutualidade de saberes que podem se inter-relacionar na educação, socioeconomia e saúde. Conforme os preceitos do etnoconhecimento, que tem como concepção a promoção de subjetividades culturais entre os povos originários e sociedade predominante e o impacto da colonização na construção social dos saberes, tradições (cultura) passados de geração a geração nas comunidades tradicionais, aprendidos com a vida cotidiana e a interação direta com o meio que os cerca e seus fenômenos naturais (NASCIMENTO, 2013). Entretanto, apesar de todos os avanços para as comunidades tradicionais no quesito a direitos e cidadania, ainda é perceptível, no presente, empecilhos enfrentados pelas famílias quilombolas no acesso a serviço e a cuidados de saúde, ainda dependentes das zonas urbanas. Assim, é importante pontuar que a promoção em saúde por meio da educação em saúde, é uma das ferramentas cuja finalidade é minimizar as iniquidades de saúde a essa população, de modo a garantir o processo de integralidade na assistência, da equidade e da universalidade, que devem ser mantidas em todas as experiências de promoção e prevenção a saúde. Por isso, esse relato de experiência tem por objetivo apresentar a comunidade científica sobre a complexidade do processo de assistência e educação em saúde direcionada aos povos tradicionais vivenciados pelos discentes de saúde coletiva na promoção do cuidado a comunidade quilombola de Pitimandeua. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um Estudo Descritivo com enfoque qualitativo, do tipo Relato de Experiência, delineado por acadêmicos de Saúde Coletiva por meio de Ação de Extensão em Saúde, na comunidade quilombola Menino Jesus de Pitimandeua no município de Inhangapi no Estado do Pará efetuado na data de 30 de novembro de 2023. A ação de extensão dispôs de uma equipe multiprofissional formada por médicos, biomédicos, sanitaristas, psicólogos e sociólogos, além dos estudantes das respectivas áreas da saúde e afins. Também, a realização de extensão em saúde contou com a participação conjunta dos líderes da comunidade, que concederam à equipe espaços físicos para a efetuação das dinâmicas com os residentes de Pitimandeua. As atividades de saúde em Inhangapi começaram pelo acolhimento, por meio da triagem com os pacientes, aonde foram perguntados as variáveis nome, idade, sexo e a autodeclaração. Após o preenchimento das fichas, o paciente relatava qual atendimento estava procurando e antes de seu encaminhamento era feita a verificação da pressão arterial pelos acadêmicos presentes. Nesse primeiro contato, a realização do processo de triagem com os usuários foi elaborada por alunos de Saúde Coletiva do 4° período, em seguida após todo o preenchimento dos dados e aferido a pressão arterial os pacientes eram encaminhados para o atendimento médico ou psicológico. Por conseguinte, para a realização das testagens rápidas definidas em protocolos específicos. Nesse modo, durante o período de ação de extensão em saúde, os serviços ofertados para a comunidade de Inhangapi foram os de aferição arterial, testes rápidos para HIV, sífilis, COVID-19, todos os serviços sendo realizados no centro comunitário da comunidade. Outra atividade realizada na comunidade quilombola foi a educação em saúde bucal com as crianças na Escola E.M.E.F Pitimandeua da educação infantil e ensino fundamental 1. Como ferramenta lúdica, foram utilizados uma boca de jacaré feita de papelão e copos descartáveis que simulavam os dentes, para a partir dessa dinâmica, ensinar como se ter uma escovação adequada para prevenção de riscos. Os discentes ensinaram de forma coletiva na sala de aula com as crianças, posteriormente, de forma individual, cada criança foi chamada para replicar o que foi exposto na educação bucal. Ao final, os alunos ganharam um kit de higiene bucal. Por fim, houve visitas domiciliares aos moradores, com intuito de instruí-los a respeito de doenças mais recorrentes da região norte – sendo as leishmaniose visceral e tegumentar e sobre a doença de chagas, mediante uma conversa dos discentes com os moradores da região acerca dos meio de identificação e medidas de prevenção da doença. Resultados: As dinâmicas e medidas que a ação de extensão elaborou são alternativas de cuidado para as comunidades remotas. Tais atividades resultaram em uma grande participação e presença dos habitantes. No processo de saúde bucal infantil, houve empecilhos iniciais acerca da elaboração de uma ação que se adaptasse a todas as faixas etárias por se tratar de uma turma unificada mista de crianças de 2 anos a 7 anos. A ação preparada na escola foi desenvolvida com 9 alunos e 2 professores presentes na sala de aula. Com a realização da ação foi possível observar que as crianças aprenderam como fazer a higienização correta da região bucal de maneira recreativa, tornando-se algo eficiente e proveitoso para todos os envolvidos. Assim, foi possível orientar que as crianças passassem aos seus responsáveis o que foi aprendido com os alunos de saúde coletiva e assim conseguir promover uma ação em saúde mais ampla. Acerca disso, a promoção a saúde bucal foi de extrema importância para o coletivo e individual. Durante a triagem, foi observado a dificuldade dos usuários ao termo “autodeclaração”, pois muitos deles não sabiam o seu significado. Com isso, foi possível, por meio da comunicação mútua, esclarecer aos usuários a questão da importância da autodeclaração e sua definição. Grande parte das pessoas presentes na ação de extensão estavam com diversas demandas aos serviços médicos, sendo em sua maioria mulheres com crianças pequenas. Considerações finais: As práticas e benefícios que a Ação de Extensão resultou aos acadêmicos são notáveis. O contato com a comunidade remanescente proporcionou um amplo olhar as problemáticas sociais e de saúde, percebendo seus determinantes e condicionantes sociais e como isso reflete na saúde por meio do contexto em que os usuários estão inseridos. A abordagem de educação em saúde utilizada durante o processo possibilitou provocar uma reflexão na realidade de comunidades quilombolas e como a inserção do cuidado integral com base nas diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) é essencial para cumprir com os direitos básicos propostos para essas famílias e, também, à formação de profissionais com uma compreensão humanizada, holística e sensibilizada às iniquidades em saúde.

  • Keywords
  • Ação de Extensão; Comunidade Quilombola; Educação em Saúde
  • Subject Area
  • EIXO 1 – Educação
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