A carta aqui escrita é um jogo entre tempo e memória (entre futuro e o passado), em um campo de possibilidades, de um vir a ser, na qual descrevemos os desejos da categoria da enfermagem, apresentados em forma de uma utopia, num vir a ser possível de conquistas ensejadas. A carta escrita em 5 de dezembro de 2055, por uma enfermeira já aposentada, em um presente de conquistas e refletindo sobre as lutas de sua categoria. Na carta a enfermeira, reflete sobre desafios que a enfermagem enfrentava na pandemia como: falta de Equipamento de Proteção Individual (EPI), jornadas extensas, falta de respeito por parte dos pacientes, estrutura física precária, ritmo de trabalho estressante, número inadequado de profissionais, falta de estrutura física, salário de fome, medos dentre tantas situações desafiadoras. Como acessar memorias advindas do sofrimento em decorrência das colegas de profissão que perderam a vida devido a Covid-19. Mas, em contrapartida a carta, também ressalva conquistas como: Aposentadoria com piso salarial definido, a tão sonhada 30 horas semanais, eliminamos de uma vez por todas o fantasma do ensino a distância na enfermagem, instituímos a lei de proteção à mulher trabalhadora, que protege todas nós de qualquer manifestação de violência, assedio e um órgão fiscalizador das instituições hospitalares, a fim de garantir a saúde das trabalhadoras. Além disso, reconquistamos nossa aposentadoria especial. Assim a carta é um convite a reflexão sobre a necessidade de rupturas com as condições desumanizadas e descuidada que historicamente tem. Marcado as relações de trabalho, em favor de novos modos de produzir esse trabalho centrado, principalmente no respeito,reconhecinento e responsabilizaoes que sejam produtoras de novos modos de ser, pensar e agir em enfermagem. A carta da colega nos indica quem nossa luta precisava ser maior que a atuação em nossos setores, nosso hospital, nosso estado é uma luta que impõe novas formas de relações de trabalho, de valorização dos processos de cuidar em nossa sociedade, donde se inclui o trabslho majoritariamente feminino, no qual se inclui todas as categorias da enfermagem. Cabe, ressaltar que, apesar da aparente utópia vislumbrada pela colega, a mesma deve ser entendida como uma utopia ativa, como uma semente de esperança de que há conquistas possíveis por meio da potência transformadora e coletiva. Constituído-se assim num imperativo movimento em memória das colegas vítimas da Covid-19, sejam honradas e que a realidade e condições do país que mais deixou morrer enfermeiros no mundo devido a essa doença sejam modificadas. Diferente dos minutos de silêncio mencionados nesta carta, calculados pelo número de vítimas, hoje no Brasil, seria preciso mais de 650 minutos, ou seja, mais de dez horas de silêncio para honrar todas as(os) profissionais de enfermagem que perderam suas vidas durante a pandemia. Então, esta carta é dedicada à memória de tantas profissionais de saúde, que na missão de cuidar do outro, morreram em campo de batalha, na solidária e incansável luta que travaram para a recuperação da saúde dos outros.