APRESENTAÇÃO: A territorialização consiste no passo inicial para o trabalho das Equipes de Saúde da Família (ESF). Esse processo compreende demarcar áreas, descrever as características ambientais e populacionais, identificar equipamentos sociais e de saúde das microáreas de atuação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Uma das ferramentas de territorialização trata-se da produção de mapas inteligentes. Apesar da importância da territorialização em saúde, permanece as dificuldades das equipes em realizar esse processo de modo que a construção dos mapas sejam capazes de aproximar as equipes de saúde do território e que o planejamento das ações em saúde estejam de acordo as reais necessidades da comunidade. Em 2022, o Ministério da Saúde (MS) lançou o Programa Saúde com Agente, criado com vistas a fortalecer a Política de Atenção Básica do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da formação técnica de ACS e Agentes de Combate as Endemias (ACE). Uma dos módulos consistiu no reconhecimento do território, tendo como atividade produto, a entrega de um mapa da microárea de atuação do ACS e a identificação de um equipamento social relevante para o setor saúde dentro do território, sendo a tutoria do curso, responsável por auxiliar nesse processo. Nesse sentido, o objetivo deste estudo é relatar a construção desses mapas durante o curso técnico Saúde com Agente. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de um relato de experiência descritivo, produzido a partir das vivencias da tutora de ACS, acerca do processo de construção e reflexão de mapas inteligentes do território, realizados na cidade de Mombaça, Ceará. Participaram 50 ACS durante o curso técnico Saúde Com Agente no ano de 2022. As interações entre tutoria e discentes ocorreu especialmente online através do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do curso e do aplicativo whatsApp. RESULTADOS: No contexto da Atenção Primária a Saúde (APS), o território ganha a perspectiva de um cotidiano em que pessoas vivem, interagem e se relacionam entre si e com os serviços de saúde. Nesse sentido, apresenta especificidades loco regionais, em uma dinâmica sócio-histórica, com condicionantes e determinantes em saúde que perpassam por diversas dimensões estruturais. O espaço passa a ser considerado, além da estrutura física, levando em consideração o perfil epidemiológico, social, cultural e demográfico, estando sempre em movimento. Para estabelecer uma melhor compreensão do território, utiliza-se o processo de territorialização e a partir deles, deve ocorrer o planejamento das ações e ofertados, adequados ao perfil e as necessidades identificadas. O mapa inteligente é um instrumento que nasce através do mapa do territorial, com o acréscimo de informações geográficas, sobre o ambiente, aspectos sociais e de saúde, que passam a ser utilizados pela equipe para identificação das necessidades epidemiológicas, para que consiga retratar a realidade espacial e as dinâmicas que envolvem os processos de saúde-doença. Nesse sentido, também busca-se compreender a distribuição dos domicílios, evidenciando as situações de maior risco. Durante o curso Saúde com Agente, uma das disciplinas trazia os conceitos de território, terrritorialização, o reconhecimento da situação epidemiológica das famílias e como deve ocorrer a abordagem no domicilio. Como atividade produto, os ACS foram instigados a construir um mapa inteligente de seus territórios, levando-os a refletir sobre as situações de vulnerabilidade e as potencialidades dos mesmos. Além disso, eles deveriam identificar um equipamento social presente na comunidade e descrever qual a importância para os serviços de saúde. Para a construção dos mapas, inicialmente, foi mostrado um tutorial de como construir mapas através da ferramenta online Google Maps. Este dispositivo permitiu a fotografia em tempo real das áreas de atuação destes profissionais, através de satélites, estando presente o nome das ruas e pontos geográficos de destaque como igrejas e comércios. Posteriormente, os participantes criaram legendas e sinalizaram nos mapas, condições importantes de saúde, como lagos, ambientes sem saneamento, moradores com condições crônicas de saúde, crianças menores de dois anos, entre outras necessidades. Alguns ACS utilizaram a ferramenta Photoshop, para desenhar de forma digital sobre as imagens. Aqueles que tinham maiores dificuldades no manejo de ferramentas online realizaram as demarcações através de desenhos à mão. A mais, os ACS identificaram e fotografaram equipamentos sociais presentes no território, descrevendo a sua importância para o cotidiano dos serviços. Entre esses equipamentos foram escolhidas Igrejas, escolas, praças, Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e outros, no qual o serviço de saúde também programa ações como grupos de atividade educativa. Refletir sobre esses equipamentos foi importante para identificar parcerias interssetoriais para ações futuras extramuros, na intenção de aproximar, cada vez mais, os serviços da população. O produto final das atividades foi anexado ao Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). A partir dessas contribuições foram desencadeadas nos fóruns da atividade, as seguintes questões: quais os problemas de saúde mais presentes no território? Qual o perfil epidemiológico e demográfico dos usuários? Quais famílias necessitam de mais atenção? Quais ações os ACS podem realizar, de acordo com as necessidades da população? Quais os equipamentos e serviços presentes no território são importantes para a saúde da população? Além disso, os ACS trouxeram postaram as suas percepções em relação a construção dos mapas, mostrando que apesar dos ACS conviverem diariamente com a população, essa atividade permitiu que esses profissionais pudessem refletir sobre as condições e necessidades do território além dos programas do MS. A visualização da realidade levou os ACS a perceber sobre as fragilidades e potencialidades presentes nas comunidade, além de identificar as demandas em saúde, proporcionando ações de planejamento estratégico mais adequado ao perfil populacional. Além disso, o ultimo mapa dos territórios havia sido construído no ultimo período de avaliação externa do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), no ano 2018, com todas as microáreas, não permitindo ao ACS refletir com mais profundidade, os aspectos de sua microárea. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A construção do mapa inteligente foi o ponto de partida para levar os profissionais a pensar sobre os territórios além dos dados que são solicitados mensalmente. Após o período de pandemia, em que houve um afastamento físico dos territórios, os ACS passaram a perceber a importância de sua presença física nos lares, com destaque para a identificação das necessidades e potencialidades da população, a fim de realizar ações e serviços adequados à realidade de suas localidades. Porém, permanece o desafio de tornar a discussão constante das informações presentes nos mapas, buscando compreender os determinantes e condicionantes de saúde atrelado aos impactos saúde da população.