Apresentação: A enfermagem é marcada pela diversidade de áreas de atuação e pela multiplicidade de competências exigidas dos profissionais. No entanto, a participação masculina em algumas especialidades ainda enfrenta barreiras significativas. Historicamente, a enfermagem foi predominantemente feminina, o que moldou as expectativas culturais e sociais em torno do papel dos enfermeiros. Com o tempo, a presença de homens na enfermagem tem aumentado, mas a aceitação desses profissionais em áreas tradicionalmente femininas, como a saúde da mulher, ainda encontra resistência. O exame citopatológico, também conhecido como Papanicolau, é um procedimento essencial na prevenção e detecção precoce do câncer do colo do útero, e embora seja uma prática rotineira na atenção primária à saúde, a coleta deste exame por enfermeiros do sexo masculino apresenta menor aceitabilidade. Uma pesquisa realizada em 2018 com 50 mulheres atendidas em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) mostrou que apenas 20% das participantes se sentiriam confortáveis em realizar o exame citopatológico com um profissional do sexo masculino. Esse resultado corrobora o relato de muitos outros estudos, que identificam a presença de enfermeiros homens como um fator inibitório para a realização do exame.
Objetivos: Relatar a experiência de acadêmicos de enfermagem, evidenciando as barreiras enfrentadas e as percepções das pacientes em relação à presença masculina durante práticas voltadas a saúde da mulher.
Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, tipo relato de experiência, de acadêmicos do 6º período do curso de bacharelado em enfermagem de um interior do estado do amazonas, que foi baseado em observações e vivências durante o estágio em uma UBS na disciplina de saúde da mulher. Foram coletados dados qualitativos por meio de anotações de campo e reflexões diárias, focando nas interações entre o estudante de enfermagem masculino e as pacientes durante o processo de coleta do exame citopatológico, comparando com as estudantes de enfermagem do sexo feminino.
Resultados: Durante o estágio, foi observado que uma proporção significativa de pacientes demonstrou desconforto e até recusou o atendimento ao saber que o exame seria realizado por uma pessoa do sexo masculino, enquanto com as estudantes do sexo feminino, as pacientes realizavam sem demonstrar rejeição. As reações variaram desde recusa direta até manifestações sutis de desconforto. Entre os principais fatores que influenciam essa rejeição, destacam-se: vergonha, ansiedade, medo e insegurança. Esta resistência também pode ser atribuída a fatores como estereótipos de gênero, tabus culturais e questões de privacidade, que influenciam tanto a percepção dos pacientes quanto a dinâmica das interações profissionais.
Conclusão: Portanto, os desafios enfrentados por enfermeiros do sexo masculino na coleta do exame citopatológico, enfatizam a necessidade de sensibilização e treinamento específico para lidar com as particularidades desse contexto, logo, implementação de estratégias que promovam a confiança e o conforto das pacientes é crucial para superar as barreiras culturais e sociais, garantindo um atendimento de qualidade, humanizado e respeitoso.