Apresentação
A saúde mental de estudantes universitários e o uso de substâncias psicoativas (SPA) constituem um campo de crescente relevância nas pesquisas atuais. O manejo inadequado dessas condições pode acarretar complicações severas, enquanto o uso de psicotrópicos como mecanismo de enfrentamento das pressões acadêmicas eleva o risco de dependência e outros agravos à saúde.
As SPA, compostos químicos capazes de alterar comportamento, humor e cognição, representam um problema de saúde pública de magnitude considerável, devido aos seus impactos negativos na saúde individual e coletiva. O aumento do consumo dessas substâncias nos últimos anos, especialmente entre jovens, é uma preocupação global, agravada pela escassez de acesso ao tratamento.
O ingresso no ensino superior, apesar de ser uma conquista relevante, pode ser um período desafiador para muitos estudantes, levando ao aumento do uso de psicoativos como forma de lidar com o estresse e a socialização. No curso de medicina, notoriamente exigente, os estudantes são frequentemente expostos a situações estressantes, o que pode culminar no uso indiscriminado dessas substâncias.
Depressão e outras questões de saúde mental estão intimamente ligadas à rotina intensa dos estudantes, que enfrentam uma gama de desafios acadêmicos e pessoais. A busca por apoio psicológico ou psiquiátrico é comum entre os estudantes de medicina (EM), evidenciando a necessidade de intervenções que promovam a saúde mental nesse grupo.
Desenvolvimento do Trabalho
A pesquisa, realizada em maio de 2024, adotou o protocolo de Scoping Review do Joanna Briggs Institute (JBI), combinando abordagens qualitativas e quantitativas para mapear a literatura disponível e identificar lacunas de conhecimento na área de interesse. Os critérios de inclusão e exclusão foram aplicados a artigos publicados entre 2019 e 2024, indexados em bases de dados específicas e disponíveis em acesso aberto, culminando na seleção de estudos relevantes para a investigação. A estratégia de busca, adaptada ao modelo do JBI, abrangeu a população-alvo de estudantes de medicina, o uso de psicotrópicos e os fatores associados.
Esta revisão, de caráter qualitativo e exploratório-descritivo, partiu de questões norteadoras sobre a prevalência e os fatores associados ao uso de psicotrópicos entre estudantes de medicina. A escolha pelo método de Scoping Review visou explorar os conceitos basilares do tema, delineando sua extensão, amplitude e natureza, além de identificar lacunas na literatura. O protocolo do JBI, com suas múltiplas fases, desde a formulação da questão de pesquisa até a síntese e apresentação dos dados, proporcionou uma visão abrangente das questões em estudo.
Resultados
Pesquisas recentes revelaram uma alta prevalência do uso de SPA entre EM, incluindo álcool, ansiolíticos, sedativos, hipnóticos, cannabis e tabaco. Fatores como automedicação, prescrição médica excessiva e pressão acadêmica foram associados a um risco aumentado de uso dessas substâncias. Concomitantemente, sono adequado e atividade física regular emergiram como fatores protetores para a saúde mental desses estudantes.
Considerações Finais
As pesquisas analisadas evidenciam uma incidência significativa do uso de SPA entre EM, representando um desafio contínuo e premente que requer atenção imediata. A alta prevalência do consumo de álcool, ansiolíticos, sedativos, hipnóticos, cannabis e tabaco, especialmente em grupos vulneráveis como mulheres e estudantes com baixo desempenho acadêmico, ressalta a necessidade de intervenções direcionadas. A prática da automedicação, identificada em vários estudos, aumenta a complexidade do problema, exigindo estratégias educativas e de conscientização para mitigar o uso indiscriminado de psicotrópicos.
Diante desse panorama, é imperativo que as instituições de ensino superior (IES) desenvolvam e implementem programas abrangentes de apoio à saúde mental, contemplando ações preventivas e tratamentos adequados. As iniciativas educativas devem ressaltar os riscos associados ao consumo de substâncias e incentivar a promoção de hábitos saudáveis, como sono regular e atividade física, reconhecidos como fatores protetores contra transtornos mentais.
Nesse contexto, estudos futuros devem explorar longitudinalmente as tendências de consumo de SPA ao longo do curso de medicina, avaliando a efetividade das intervenções implementadas. É crucial investigar as disparidades de gênero e outros determinantes sociais que influenciam o uso de substâncias, a fim de embasar o desenvolvimento de abordagens mais específicas e eficazes.
Em resumo, a saúde mental EM é uma questão multifacetada que requer uma abordagem abrangente, incluindo políticas institucionais, educação continuada, suporte psicológico e psiquiátrico, bem como a promoção de um ambiente acadêmico saudável. A implementação de medidas preventivas e a estímulo de uma cultura de saúde mental positiva podem contribuir significativamente para a redução do uso de SPA e para o bem-estar.