O Ecomapa surgiu na década de 1970, utilizado pela assistente social Ann Hartman como ferramenta para entender as relações e conexões dos sujeitos ou das famílias com o território onde estão inseridas. Desde então, é adaptado e utilizado na área da saúde, sobretudo, na Atenção Básica, cuja dinâmica de trabalho demanda a compreensão da realidade local, suas potencialidades e entraves para o planejamento e cuidado em saúde. O ecomapa comunitário é uma adaptação para o contexto relacional da comunidade com as redes sociais de apoio num determinado momento. Assim, para a Saúde Coletiva, demonstra-se que o ecomapa comunitário contribui como atividade formativa para o planejamento de ações setoriais, intersetoriais e na atenção integral à saúde das populações. Este relato descreve a construção do ecomapa comunitário como atividade formativa na graduação em Saúde Coletiva.
Através do componente curricular “Práticas Integradas em Saúde Coletiva II” da graduação em Saúde Coletiva na Universidade Federal da Bahia, em parceria com as Ocupações Quilombo Manoel Faustino e Paraíso e Conjunto Habitacional Paraguari II, localizados no Subúrbio Ferroviário de Salvador-Bahia, foram realizados dois ecomapas comunitários com o objetivo de realizar uma análise da situação da rede socioassistencial. Foram realizadas discussões em sala de aula, observações e diálogos com as comunidades que aconteceram entre agosto e dezembro de 2023. Diante disso, foram identificados equipamentos sociais e a compreensão dos tipos de relações estabelecidas (ou não) entre estes e as comunidades. Para a interpretação visual, estabeleceu-se que as comunidades estariam representadas no centro dos ecomapas, sendo orbitadas pelos equipamentos existentes.
Ambas as comunidades, destacaram a existência (ou não) de relações com serviços de saúde, escola, creche, Centro de Referência de Assistência Social, Conselho Tutelar, instituições de ensino e pesquisa, parque florestal municipal e Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB). As relações foram representadas por uma variedade de linhas, que informam o quanto as ligações são fortes, fracas, estressantes ou inexistentes. As particularidades existentes permitiram a criação de outras linhas para demonstrar os aspectos relacionais.
Os ecomapas comunitários apresentaram em comum grande parte dos equipamentos sociais, que justifica-se pela proximidade das comunidades e pelo contexto sócio-histórico destes territórios nas lutas pelo direito à moradia. Observa-se em ambos os territórios relações fortes com o MSTB, com o parque florestal municipal e instituições de ensino e pesquisa. Os serviços de saúde, educação e assistencial foram visualizados nas relações com entraves ou inexistentes. Nota-se uma complexidade de fatores de contexto que interferem nas situações das relações, sendo elas: distância dos serviços públicos, falta de acesso ao transporte público, ausência de serviços territoriais de saúde e educação, além da vulnerabilidade, estigmas e preconceitos sociais e raciais.
Ademais, a baixa cobertura dos serviços ou equipes incompletas prejudicam o suprimento das demandas dos territórios e impactam na situação de saúde. A construção e interpretação gráfica das relações não constitui um trabalho simples e deve-se considerar as modificações e atualizações dos ecomapas comunitários frente a dimensão temporal das relações, políticas e dos atores envolvidos, ou seja; os ecomapas se modificam a cada transformação ocorrida nos territórios.