Apresentação: Segundo a Organização Mundial de Saúde o câncer de mama é a doença mais incidente em mulheres no mundo, com aproximadamente 2,3 milhões de casos novos em 2020, sendo considerado uma das principais causas de óbito nessa população. Essa neoplasia no tecido mamário decorre de um crescimento anormal e da multiplicação exacerbada de células anormais que desenvolvem o tumor, podendo ser desencadeado por múltiplas causas ligadas às questões hormonais, fatores genéticos, ambientais, comportamentais e estilo de vida. Dentre os principais fatores de risco para o câncer de mama pode-se ressaltar histórico familiar de neoplasias, obesidade, tabagismo, etilismo, sedentarismo, curto prazo de amamentação e primeira gravidez após 30 anos. No contexto da Atenção Primária à Saúde torna-se fundamental ações de orientações educativas, suporte e prevenção de todos as neoplasias malignas, principalmente no tocante ao câncer de mama nas mulheres pela sua relevância epidemiológica na saúde pública brasileira, além disso, as Estratégias de Saúde da Família é considerada a porta prioritária dessas usuárias o que possibilita o diagnóstico e tratamento precoce através do encaminhamento para os demais níveis de complexidade. Diante disso, as campanhas de educação em saúde, como o movimento Outubro Rosa, é um dos momentos cruciais de promoção à saúde dessas usuárias devido a ampla mobilização dos profissionais e da comunidade nesse período, levando para essa população atividades educativas, triagem e exames preventivos em diversas unidades de saúde. Desse modo, este presente estudo tem como objetivo relatar a experiência de acadêmicos de Enfermagem na promoção de educação em saúde acerca do câncer de mama desenvolvido na campanha Outubro Rosa em uma Estratégia de Saúde da Família no interior da Bahia. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um relato de experiência sobre a campanha do Outubro Rosa, realizado na Estratégia de Saúde da Família (ESF) em um município do sudoeste baiano. Essa unidade conta com atendimentos médicos, consultas de enfermagem, assistência de saúde bucal, imunização e dispensa de medicamentos para a população de usuários(as) daquele território, disponibilizando de ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde baseados nos princípios de universalidade, integralidade e equidade assim como proposto pelo Sistema Único de Saúde. A prática educativa em saúde foi realizada por acadêmicos de Enfermagem como atividade proposta pela disciplina de Enfermagem em Saúde Coletiva I no período de outubro de 2022. Dentre as atividades realizadas, destaca-se a caracterização e ornamentação da unidade como instrumento de ambientalizar o cuidado e construir vínculos com as usuárias. Utilizou-se também do recurso de sala de espera, propondo um diálogo acessível e inclusivo sobre o câncer de mama, as manifestações clínicas, fatores de risco, diagnóstico e tratamento da doença, esse momento contou com o apoio de materiais anatômicos fornecidos pela universidade para auxiliar nas demonstrações, além do sorteio de brindes para as participantes, doados por empresas da região. Como cuidados de Enfermagem foram realizadas aferição de pressão arterial, mensuração da glicemia capilar e antropometria. Para essa atividade, houve ainda preparo prático dos discentes pela universidade, além do levantamento de materiais necessários, como luvas de procedimento, álcool gel, esfigmomanômetro, estetoscópio, balança antropométrica e fita métrica. Como proposta final teve uma dança coletiva ao ritmo do forró regional no pátio externo da unidade com as mulheres participantes, estimulando a prática de exercícios físicos, hábitos e estilo de vida saudável. Resultados: Durante a realização das atividades extramuros foi evidenciada a adesão do público feminino nas discussões sobre seu autocuidado, na consulta e acolhimento de Enfermagem e nas propostas lúdicas sobre saúde da mulher desempenhadas pelos acadêmicos na Unidade. Essa participação das mulheres nos serviços de saúde é uma pauta que versa questões socioculturais e de gênero, uma vez que historicamente o trabalho de cuidado ficou delegado a elas e essa condição determina suas percepções do seu próprio processo de saúde-doença, influenciando assim na busca constante da rede de atenção à saúde. A atividade de educação em saúde foi uma ferramenta primordial de diálogo e construção de vínculos com as mulheres presentes na atividade, onde os acadêmicos compartilharam sobre a patologia, fatores de risco, prevenção e tratamento do câncer de mama, além de ter espaços para socialização de vivências e dúvidas dessas usuárias, com objetivo de demonstrar a Estratégia de Saúde da Família como um espaço de acolhimento, configurando-se como frente de prevenção e detecção precoce do câncer de mama. As potencialidades da educação em saúde na comunidade são inúmeras e possibilita um cuidado multidisciplinar na assistência aos usuários de modo participativo, utilizando-se de diversos recursos ofertados pela unidade de saúde, auxiliando na promoção da qualidade de vida dessas usuárias. Essa oportunidade educativa foi de extrema relevância para construção do currículo acadêmico-profissional dos estudantes, uma vez que as participantes demonstraram interesse e indagações durante o processo dialógico da atividade compartilhando suas vulnerabilidades e possibilitando aos acadêmicos a construção de um raciocínio crítico para a realidade dessas mulheres. Na abordagem educativa, ocorreram momentos de ênfase aos serviços ofertados à saúde da mulher pelo Sistema Único de Saúde (SUS) que auxilia tanto na prevenção, tratamento e recuperação do câncer mamário, fazendo parte de uma conquista histórica das mulheres que antes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher os cuidados restringiam-se às questões reprodutivas e maternas e após esse marco legal as mulheres são compreendidas em todas as suas dimensões, como cidadãs diversas e plenas em seus direitos. Com propósito de acolher as mulheres, os acadêmicos ainda se atentaram para uma linguagem contextualizada, didática e inclusiva que contemplasse a realidade social daquele grupo e assim possibilitasse um processo de aprendizagem significativa. Nesses momentos de educação popular em saúde é preciso fomentar a valorização dos saberes e acumulação de experiência dos envolvidos, tornando-os agentes de problematização da sua própria realidade e atores do seu processo de aprendizagem nos ambientes de saúde de forma crítica e consciente. Considerações finais: Portanto, o presente relato corrobora com a necessidade de ampliação e fortalecimento de atividades educativas para a promoção da saúde da mulher em ambientes escolares, comunitários, corporativos e não institucionais, dentre outros espaços que possibilitem uma atenção integral às mulheres. Como apontamentos dessa experiência, ressalta-se ainda que é fundamental o investimento em estratégias de cuidado à saúde da mulher com objetivo de reduzir e/ou prevenir a mortalidade causadas pelo câncer de mama no Brasil, surgindo assim como instrumentos prioritários o exame clínico das mamas e as mamografias. Considera-se que a atividade educativa de mobilização sobre o câncer de mama gerou contribuições significativas para a comunidade de mulheres que estiveram presentes, pois houve um despertamento para as questões de saúde e elucidações importantes sobre os aspectos clínicos, epidemiológicos e preventivos do câncer mamário. A experiência dos acadêmicos possibilitou o aperfeiçoamento das habilidades de comunicação, responsabilidade social e olhar crítico para as pautas de gênero e saúde que interferem na assistência integral e humanizada às mulheres. Nesse contexto, práticas extramuros como essas atividades desenvolvem competências dos acadêmicos de Enfermagem que vão para além das oportunidades vivenciadas na sala de aula, sendo crucial que esses espaços sejam encarados como formativos pelas universidades. Como resultados desse estudo, espera-se que haja um amplo fortalecimento das práticas em saúde da mulher, com políticas públicas que garantam o direito social, político e sanitário dessa população, contemplando as necessidades individuais e coletivas das mulheres em seus diversos contextos.