Apresentação: O SARS-CoV-2 é um vírus que causa a doença conhecida como COVID-19. Após o surgimento do primeiro caso em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China, a doença gerou uma emergência de saúde pública global. Em junho de 2020, havia mais de 6,4 milhões de casos confirmados e 385.000 mortes em todo o mundo. A COVID-19, uma doença respiratória aguda causada pelo novo coronavírus, inicialmente se espalhou pela China e, posteriormente, atingiu outros países. No início do ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a situação como uma emergência de saúde pública. Os sinais clínicos da doença incluem febre, tosse, fadiga, sintomas gastrointestinais e dificuldade respiratória. Desde sua descoberta, muitos pacientes infectados pelo novo coronavírus desenvolveram a síndrome respiratória aguda grave, necessitando de internação em unidades de terapia intensiva (UTI). Dessa forma, a pandemia se revelou um grande desafio para os sistemas de saúde globais, devido à elevada demanda por leitos de UTI e profissionais de enfermagem. No Brasil, as desigualdades sociais e de saúde foram determinantes para que certas regiões do país, devido à escassez de leitos de UTI e recursos humanos, apresentassem taxas de mortalidade superiores à média nacional. No Sistema Único de Saúde (SUS), mais de 72% das regiões possuíam um número de leitos inferior ao recomendado pelas autoridades sanitárias, resultando em superlotação e sobrecarga dos sistemas de saúde locais. A disseminação espacial do novo coronavírus no país está diretamente associada à cobertura da rede de atenção à saúde e ao arsenal médico-assistencial disponível nessas regiões. Os pacientes com infecção causada pelo coronavírus necessitam de uma assistência de enfermagem qualificada, pois o manejo da COVID-19 é desafiador nas UTIs. Entre as terapias utilizadas pelos pacientes, destacam-se a ventilação mecânica invasiva, a realização da manobra prona, além da prevenção e tratamento do delírio, todos desafios significativos para a equipe de enfermagem. As experiências de enfermeiros na China e na Itália mostraram que um dos maiores desafios na assistência aos pacientes com COVID-19 foi a organização de equipes treinadas e capacitadas, o dimensionamento de pessoal, o gerenciamento de insumos e equipamentos, e a atenção à saúde mental desses profissionais. A pandemia de COVID-19 representa, até o presente momento, o maior desafio em saúde do século XXI. No Brasil, a pandemia exacerbou problemas estruturais presentes em nosso sistema de saúde, como a falta de investimentos em pesquisa, o déficit de profissionais qualificados nos serviços de saúde e a desarticulação entre os níveis de atenção à saúde. No cuidado aos pacientes críticos, há uma demanda crescente por enfermeiros qualificados para atuar em serviços de terapia intensiva. Um estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo e pela Universidade Federal de Santa Catarina evidenciou que os profissionais de UTIs devem dominar a linguagem tecnológica específica e prestar uma assistência integral e segura. Os maiores entraves no processo de qualificação dos enfermeiros intensivistas são a ausência de programas de educação permanente nas instituições, a falta de tempo para se qualificar, o cansaço e estresse, e a dificuldade de conciliar atividades educativas com as demandas de trabalho. Estas dificuldades, já presentes, foram acentuadas pela pandemia. A prática de enfermagem em terapia intensiva ocorre em um contexto em que os pacientes apresentam elevado grau de complexidade e alta dependência dos profissionais de enfermagem. É uma prática com uma dinâmica própria no processo de cuidar, altamente instrumentalizada e baseada no uso de tecnologias leves, medianas e avançadas. Assim, os profissionais enfrentam constante desgaste físico e mental, tornando fundamental a compreensão e melhoria das dinâmicas de trabalho. Assim, o objetivo deste trabalho é relatar a atuação do enfermeiro em uma unidade de terapia intensiva para adultos com COVID-19 em um hospital público de referência no Norte do país. Descrição de Experiência: O agravamento dos casos de COVID-19 durante a pandemia gerou uma sobrecarga nos hospitais, com o aumento drástico no número de pacientes críticos, exigindo uma rápida ampliação da capacidade das UTIs. Isso resultou em jornadas exaustivas para os profissionais de saúde como um todo e, consequentemente, uma constante necessidade de priorização dos cuidados. A escassez de equipamentos essenciais como ventiladores mecânicos e Equipamentos de Proteção Individual (EPI) foi um agravante na dificuldade para a prestação de cuidados adequados e seguros. Além disso, trabalhar diretamente com pacientes infectados aumentou significativamente o risco de contaminação para os trabalhadores que estavam na linha de frente de combate ao vírus. O uso adequado de EPIs, embora essencial, tornou-se uma tarefa desafiadora e desgastante, especialmente durante longos turnos. Falando enquanto profissional que vivenciou esse árduo processo, o medo de contrair o vírus e transmitir para a minha família foi um fator determinante para agravamento de sintomas de ansiedade e o estresse, o que pude perceber também entre meus colegas profissionais de saúde. Os protocolos de tratamento e prevenção da COVID-19 mudavam frequentemente à medida que novas informações e pesquisas surgiam e adaptar-se rapidamente a essas mudanças era crucial para garantir a eficácia dos cuidados aos pacientes internados, principalmente aos casos graves, mas exigia ainda mais dos profissionais já sobrecarregados. Para isso, foi necessário participar de treinamentos contínuos sobre os novos protocolos de atendimento e uso de equipamentos específicos para COVID-19. Além disso, lidar com um número elevado de óbitos diariamente gerou um impacto emocional profundo, aumentando a sensação de impotência e tristeza enquanto trabalhadora da saúde. Com as restrições de visitação, o papel do enfermeiro como ponto de contato entre pacientes e suas famílias se intensificou, exigindo habilidades de comunicação empática e suporte emocional. Efeitos percebidos decorrentes da experiência: A fim de evidenciar os procedimentos eficientes que fizeram a diferença durante esse período, destaco os seguintes: participar de sessões de debriefing com colegas permitiu compartilhar experiências e emoções, proporcionando apoio emocional e redução do estresse. Buscar suporte psicológico profissional foi essencial para lidar com o impacto emocional e manter a resiliência durante os momentos difíceis. Manter uma comunicação clara e frequente com toda a equipe multidisciplinar garantiu a coordenação eficiente dos cuidados e a implementação de novos protocolos. Criar um ambiente de suporte mútuo e colaboração entre os colegas foi fundamental para enfrentar os desafios diários e manter a moral elevada. Manter as famílias informadas sobre a condição dos pacientes através de chamadas de vídeo e telefonemas ajudou a aliviar a ansiedade e proporcionou suporte emocional. Importante destacar também a importância de demonstrar empatia e compaixão, tanto com os pacientes quanto com os colegas, o que foi crucial para criar um ambiente de cuidado e suporte. Considerações Finais: A atuação como enfermeiro na UTI durante a pandemia de COVID-19 foi uma experiência desafiadora e transformadora. Enfrentar a sobrecarga de trabalho, o risco constante de contaminação e o impacto emocional exigiu resiliência, adaptação rápida e um forte espírito de equipe. Através do suporte mútuo, capacitação contínua e práticas de autocuidado, consegui superar os desafios e proporcionar cuidados de qualidade aos pacientes críticos. Essa experiência reforçou a importância da empatia, da comunicação e do trabalho colaborativo na enfermagem, valores que continuarão a guiar minha prática profissional.