Empoderamento e Autonomia na Perspectiva de Paulo Freire

  • Author
  • Camila Trindade Coelho
  • Co-authors
  • Virgínia Aparecida de Faria Sousa , Janaína da Silva Flôr , Ivonete Teresinha Schulter Buss Heidemann , Michelle Kuntz Durand , Kamila Soares Maciel , Sabado Gomes Dabó , Sara Ester Paes
  • Abstract
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    Ao que se refere ao Empoderamento e Autonomia, abordamos os conceitos mediante a perspectiva de Paulo Freire e autores que trabalham esta temática, como a teórica Joice Berth que define Empoderamento como um instrumento      de luta social. Este estudo é parte da discussão realizada na disciplina: Fundamentos Teóricos e filosóficos do pensamento de Paulo Freire: Itinerário de Pesquisa e prática, realizada no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina. Por meio de roda de conversa mediada por três mulheres discentes com  professoras e colegas, dialogou-se sobre conceitos freireanos. Refletiu-se sobre as concepções de Freire, operados enquanto teoria, possibilitando conscientização crítica, e construção do saber, principalmente na promoção da saúde, por exemplo, ao pensar as relações que se alinham na esfera dos serviços de saúde, assim como, as populações que se encontram em vulnerabilidade. Paulo Freire apresenta o empoderamento, como uma forma de interação social, de construção das suas vivências e experiências. Essas interações possibilitam transformar as relações sociais. A pedagogia libertadora Freireana, propõe a autonomia e emancipação dos sujeitos, como proposta inicial buscava a alfabetização de jovens e adultos, mas seu referencial teórico metodológico contribui com a  promoção da saúde. Esta proposta pedagógica libertadora e problematizadora está para além da educação, vista também como uma maneira de ler o mundo, transformando-a pela ação consciente.

    O processo que engloba a ação-reflexão-ação, mobiliza as pessoas a aprenderem, identificando a necessidade de uma ação efetiva, cultural, política e social, seja superando as contradições, bem como, as situações limites. A relação entre educação em saúde e a pedagogia libertadora, parte sempre de um diálogo horizontal entre profissionais e usuários, na construção da emancipação dos sujeitos e compreensão do processo saúde-doença, de forma individual e coletiva.

      Para tal, tornando o sujeito que está inserido neste processo, o agente de transformação da sua realidade, podendo então sair de suas amarras, participando ativamente do pensar e agir. A relação entre profissionais de saúde e usuários, ocorre de forma horizontal, sem hierarquia de saberes, mas com o reconhecimento de que os saberes são diferentes e complementares. O conceito de empoderamento, ou, no seu original em inglês, empowerment, está relacionado à definição de autonomia, destacando-se assim a capacidade de indivíduos e grupos decidirem sobre questões que lhes dizem respeito, tais como: política, economia, saúde, cultura, entre outros aspectos de ordem social e individual, permitindo que o indivíduo ao fortalecer o pensamento crítico, realize mudanças junto à coletividade, ou seja, uma questão que ocorre quando se entende o lugar no qual se ocupa, como membros de uma sociedade democrática.

    Posto isso, fica evidente que o conceito de empoderamento, intimamente ligado à noção de autonomia, desempenha um papel relevante na capacidade dos indivíduos e grupos de influenciarem as questões que afetam suas vidas. Ao compreenderem e exercerem essa autonomia, as pessoas ultrapassam suas limitações individuais, tornando-se agentes de mudança e promovendo a construção de uma sociedade mais democrática e inclusiva. Essa consciência de si não apenas beneficia o próprio indivíduo, mas também contribui para uma transformação política, social e cultural coletiva, na qual o compartilhamento de saberes e espaços é valorizado e incentivado. Assim, a busca pela autonomia é não apenas uma jornada individual, mas sim um processo coletivo de empoderamento.

    O conceito de empoderamento, nos dias atuais, tem sido ligada a estética, sendo parte do processo  de autonomia das mulheres, sobretudo, mulheres negras, quando exaltam seus cabelos crespos-cacheados, sua identidade e cultura advinda de África. Com a colonização esses aspectos foram apagados e silenciados pela hegemonia branca européia, bem como, as mulheres não negras ao assumir seu empoderamento, seja adentrando os movimentos feministas, e/ou almejando direitos iguais aos dos homens, todas buscam equidade para uma emancipação, mediante ao patriarcado.

    Logo, quando refletimos acerca de questões históricas entendemos de acordo  que o direito das mulheres chegou de maneira tardia, originando gerações inferiorizadas, suscetíveis a riscos e situações de vulnerabilidade, refletindo um padrão de dominação masculina, enfrentamentos para        a autonomia pessoal e tencionando as desigualdades. Ademais, este sentimento de inferiorização, foi marcado pelo colonialismo, racismo e machismo. Identificando as questões de gênero, classe social e raça, relevantes ao fomentar esta discussão, pessoas negras de acordo com diversas literaturas não tiveram espaço de fala no período escravista  refletindo na conjuntura da população negra, pensamentos como não ter valor como sujeito que destoa do “universal” que é o ser branco e masculino.

    A partir de uma consciência crítica, bem como, adquirida na universidade é possível observar uma mudança estética desde aceitação de cabelos afros e cultura negra, através de teóricos, intelectuais e lideranças negras que foram invisibilizadas pelas mídias hegemônicas.

    Logo, ocorrendo, por meio do empoderamento e autonomia uma consciência sendo fortalecida nos escritos como de Paulo Freire que nutre e ampara, as pesquisas, trabalhos e estudos acadêmicos. Assim, o empoderamento de modo que transforme e amplie o pensamento através deste conceito, para além da estética, um instrumento de luta social, trazendo discussões importantes do que é poder, na perspectiva freireana.

    Paulo Freire faz essa explicação em Pedagogia da Autonomia, evidenciando que através do empoderamento e autonomia se propõe relações horizontais e não verticais, discutindo as relações de poder, questionando as lógicas  verticalizadas, bem como, a questão da imagem e estética.

    O empoderamento e autonomia é estimulado por fatores externos, mas a resposta interna é a principal, uma vez que se obtém, o sujeito desperta internamente abrangendo o seu grupo, o ambiente que está inserido, refletindo em mudanças pessoais, que se amplia em uma coletividade, sendo fortalecida ao se pensar em caminhos para emancipação coletiva - emancipação social, estão imbricadas quando se empodera, contribuindo com o processo de empoderamento da sua comunidade.

    Desta forma, promovendo o empoderamento das populações, a ação educativa que permite estimular a consciência crítica e a autonomia, exigindo uma escuta atenta e comunicação dialógica, envolvendo a ação - reflexão - ação. A prática educativa, capacita as pessoas a atravessar os obstáculos e a buscarem o enfrentamento das situações vividas e estimulando-as a uma nova compreensão da realidade, como o conceito de gênero por exemplo que nos leva a reflexão de rejeitar a imposição do determinismo biológico sobre o ser “mulher” e ser “homem”. Para além, desta dicotomia utilizar o conceito gênero, dentro     de um caráter social contemplando também a população trans que é marginalizada na estrutura social brasileira.

     

    Esses princípios encontram-se com as concepções defendidas por Freire, os quais amparam a Promoção da Saúde. Assim sendo, a atenção em saúde deve ser modificada transcendendo o cuidado do corpo, para além da doença e do biológico, resultando na emancipação e autonomia em torno da vida. A autonomia se refere as pessoas como protagonistas de suas ações e práxis, estimulando o seu encorajamento, sendo  necessária a inserção das questões de gênero, classe e raça nas políticas públicas  e no processo de trabalho dos profissionais de saúde.

     

    Para esse fim, a ampliação do conceito de saúde engloba fatores                         relacionados à alimentação, informação, educação, cultura, trabalho, renda e acesso a bens. Ademais, elucida a perspectiva de determinantes sociais relacionadas com à vulnerabilidade, contrapondo o modelo unicamente biológico para o desenvolvimento e a manutenção da caracterização do processo saúde-doença, é imprescindível abordar as implicações das populações negras, indígenas, LGBTQIAPN+ e outros grupos dissidentes.

     

  • Keywords
  • Empoderamento, Autonomia, Promoção da Saúde, Racismo, Machismo, Gênero, Vulnerabilidade
  • Subject Area
  • EIXO 6 – Direito à Saúde e Relações Étnico-Raciais, de Classe, Gênero e Sexualidade
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