As Tendas de Educação Popular em Saúde são espaços de construção compartilhada de conhecimento e saberes, nos quais são realizadas rodas de conversa, oficinas, intervenções e vivências artísticas, além de práticas integrativas populares de cuidado à saúde, sob a perspectiva freiriana É válido citar, ainda, que também são realizados atendimentos médicos nestes espaços, a fim de avaliar a situação de saúde das pessoas que constroem ou visitam as tendas e providenciar cuidados para elas. No entanto, a interação da odontologia ou de profissionais dessa área com a educação popular e, em específico, com as tendas, é incipiente, devido a resistência da prática odontológica em permanecer dentro dos padrões de modelos de saúde ultrapassados. Diante disso, este trabalho tem o objetivo de sistematizar a experiência de estudantes de graduação do curso de odontologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) na 11ª Tenda de Educação Popular em Saúde na 22ª Feira da Reforma Agrária, esta que aconteceu na cidade de Maceió, Alagoas, em 2023. Para isto, realizou-se uma sistematização de experiência, viabilizada através de um resgate de vivências nesse espaço. Vê-se, na odontologia, o protagonismo de atividades técnicas, enquanto se encontra dificuldade em desenvolver processos de promoção da saúde e educação fora dos moldes convencionais nos quais o conhecimento científico prevalece e é repassado à comunidade sem considerar sua autonomia e especificidades. Por isso, há um distanciamento entre esta área da saúde e a educação popular, visto que esta última apresenta princípios opostos, pois é pautada na troca de saberes entre educador e educando, de forma equânime e horizontalizada. Este paradigma foi rompido nesta 11ª Tenda de Educação Popular em Saúde, pois dois estudantes de Odontologia fizeram-se presentes durante toda a edição do evento, conversando com os feirantes, assentados e acampados do Movimento Sem Terra (MST), bem como com visitantes da feira e outros colaboradores da tenda. Também foram realizadas avaliações da situação da saúde bucal, levantamento do índice de necessidades odontológicas e encaminhamentos possíveis para atendimento na clínica odontológica da Faculdade de Odontologia da UFAL. Além disso, os estudantes participaram ativamente das rodas de conversas e outras atividades multidisciplinares. Essa nova configuração na tenda causou surpresa para quem já construía esse espaço, bem como para os feirantes, os quais nunca viram a oferta desse tipo de serviço ou conversaram com algum profissional ou estudante da área durante as feiras da reforma agrária. Entre as atividades realizadas, esteve a conscientização sobre o câncer de boca e os fatores de risco, de forma individualizada, para proporcionar momentos de escuta. Mas, é interessante comentar que apesar dos esforços para aproximar a odontologia da educação popular, dois estudantes representam uma pequena fração do quantitativo de discentes do curso e muito ainda é necessário fazer para transformar a lógica do cuidado e o fazer em saúde aplicados na odontologia, com o objetivo de trabalhar em conjunto e construir caminhos para a conquista de direitos a partir da autonomia e da valorização dos saberes populares.