A Constituição Federal de 1988 deu origem ao Sistema Único de Saúde (SUS), representando uma mudança significativa na concepção da Atenção à Saúde no Brasil. Anteriormente, essa abordagem era baseada em princípios assistencialistas e curativos, centrados na doença, que nem sequer era considerada como parte da vida. Com a criação do SUS, o conceito de saúde foi ampliado para além da mera ausência de doença, estabelecendo uma conexão entre saúde e condição de vida. O SUS é dividido em três níveis de atenção: Primária, Secundária e Terciária. Embora todos sejam igualmente importantes, neste trabalho, vamos focar na Atenção Primária, composta pela Estratégia Saúde da Família (ESF) e as Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Destacamos a relevância da atuação da psicologia nesse contexto, tanto para a saúde dos usuários quanto para a formação de estudantes-estagiários(as), bem como para profissionais de outras áreas da saúde. A Atenção Primária no SUS é reconhecida como a principal porta de entrada e organizadora dos serviços de saúde, coordenando, integrando e oferecendo atendimento aos usuários com corresponsabilização e resolutividade. Nesse contexto, é essencial desenvolver novos métodos de atenção, tratamento e apoio para sujeitos em sofrimento psíquico, considerando seu contexto de vida e comunidade. Além disso, é necessário superar a visão hegemônica que limita o papel de psicólogas/os à prática clínica individual, baseada no modelo biomédico, podendo olhar também para a equipe multiprofissional, problematizando, fornecendo matriciamento, consultas conjuntas, visitas domiciliares, grupos de apoio, participação no Programa Saúde na Escola (PSE), entre outros dispositivos, alinhando-se aos princípios do SUS e trabalhando junto às comunidades.
Essa iniciativa visa a contribuir para a formação integral dos estudantes de psicologia, preparando-os para atuar em saúde pública de acordo com as diretrizes nacionais. Além de apoiar a política pública de saúde vigente, fortalece uma vertente da psicologia social crítica, que questiona as opressões, violências e desigualdades vividas pelas comunidades latino-americanas, buscando seu empoderamento. O relato de experiência desse estágio destaca a importância da prática na formação dos estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Baseado nas vivências dos estagiários em uma UBS e diante de poucas produções na área, o texto apresenta estratégias de promoção de saúde mental na Atenção Primária
Os resultados destacam a relevância de diferentes dispositivos para fortalecer os laços sociais e contribuir para o bem-estar dos usuários. Reflexões são feitas sobre a atenção à saúde mental na Atenção Primária e a importância de integrar o saber profissional aos saberes de usuário-as, promovendo sua autonomia em relação ao cuidado em saúde. É fundamental que a formação profissional em psicologia esteja também voltada para o SUS e incorpore um posicionamento ético-político, capacitando os profissionais para uma atuação crítica e contextualizada. Em conclusão, é crucial refletir sobre a formação dos estudantes de psicologia e como eles lidarão com a demanda crescente por estratégias de atenção básica em saúde. A experiência de estágio nesse espaço não só enriquece a formação dos futuros profissionais, mas também os conecta diretamente com a complexa realidade da saúde do nosso país.