O crescente aumento da população em situação de rua está intimamente ligado ao agravamento das desigualdades sociais. Embora essa população represente uma parcela menor da sociedade, ela demanda cuidados e atenções específicos. Neste contexto, foi realizada uma pesquisa qualitativa em 2021 no município de São Paulo, utilizando uma abordagem de cartografia sentimental. O objetivo principal da pesquisa foi dar visibilidade às produções de vida das mulheres que vivem nas ruas na região central da cidade. A pesquisadora envolvida atuou no território como redutora de danos, desenvolvendo a pesquisa a partir dos encontros diretos com essas mulheres. A metodologia de "escrevivência" empregada nos diários de campo permitiu a construção de mapas cartográficos e narrativas que expressam essas vivências de forma detalhada e sensível. A análise cartográfica revelou várias temáticas importantes: as "redomas (in)visíveis" que cercam as individualidades, protegendo e, ao mesmo tempo, (in)visibilizando determinados corpos; a sede de viver em meio à "necropolítica" que atravessa e condiciona as existências; a "redução de danos" como uma estratégia essencial de cuidado; e as múltiplas possibilidades de "mulheridades", ou seja, os diversos modos de ser mulher que emergem nessas circunstâncias. Os conceitos de "redomas", "necropolítica" e "(in)visíveis" são apresentados como ferramentas analíticas para compreender os modos de vida das mulheres em situação de rua e para a composição dos mapas resultantes da pesquisa. Esses conceitos permitem um olhar mais profundo e detalhado sobre as dinâmicas de proteção, invisibilização, controle e resistência que permeiam as vidas dessas mulheres. A pesquisa, assim, não só visibiliza essas existências, mas também contribui para uma compreensão mais ampla e complexa das questões que envolvem a vida nas ruas e as estratégias de sobrevivência e resistência das mulheres que ali vivem.