Introdução: Os acidentes ofídicos representam um relevante problema de saúde pública no Brasil, especialmente nas regiões rurais e menos desenvolvidas, onde a interação entre seres humanos e serpentes peçonhentas é mais frequente. Entre os diversos tipos de envenenamentos ofídicos, os botrópicos, causados por serpentes do gênero Bothrops, são os mais prevalentes no país. Esses acidentes podem levar a complicações graves se não tratados adequadamente, incluindo hemorragias, necroses e, em casos severos, a morte. A compreensão do impacto dos acidentes ofídicos em gestantes é crucial para o desenvolvimento de políticas públicas eficazes e para a implementação de medidas preventivas e de tratamento adequadas. Este estudo visa descrever o perfil epidemiológico dos acidentes ofídicos botrópicos em gestantes no Brasil, utilizando dados de notificações compulsórias registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e no banco de dados do DATASUS, buscando identificar padrões e vulnerabilidades específicas que possam orientar intervenções futuras. Métodos: Estudo transversal, descritivo e retrospectivo baseado em dados de notificações compulsórias de Acidentes por Animais Peçonhentos, focando em envenenamentos botrópicos em gestantes. Os dados foram obtidos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e do banco de dados do DATASUS. Resultados: Entre 2007 e 2019, foram registrados 1.335 casos de acidentes ofídicos botrópicos em gestantes no Brasil. A maior prevalência ocorreu nos anos de 2007, 2009 e 2019, com destaque para a Região Norte, que registrou 720 casos. O segundo trimestre gestacional foi o mais afetado, com 606 notificações. Mulheres adultas jovens (faixa etária de 20 a 34 anos) representaram a maioria dos casos (752). O estudo identificou uma vulnerabilidade significativa entre gestantes autodeclaradas pardas, com 663 registros. Foram registradas 1.127 picadas nos membros inferiores, e 466 vítimas receberam atendimento médico em tempo hábil. Esse atendimento precoce contribuiu para que 683 casos fossem classificados como leves e 1.143 evoluíssem para cura. A maior prevalência na Região Norte pode estar relacionada à alta biodiversidade de serpentes e às condições socioeconômicas e geográficas que dificultam o acesso rápido ao atendimento médico. A alta incidência de picadas nos membros inferiores indica a importância de campanhas educativas sobre prevenção e primeiros socorros em áreas rurais e de alta incidência de serpentes. A administração eficaz da soroterapia demonstra a importância de uma resposta rápida e adequada aos acidentes ofídicos. No entanto, as limitações na completude das informações do banco de dados indicam a necessidade de melhorias nos sistemas de notificação e registro, o que pode contribuir para um melhor entendimento e gestão desses eventos. Considerações finais: Apesar da baixa frequência, os acidentes ofídicos em gestantes revelam um cenário preocupante, com altas taxas de incidência de ataques por serpentes botrópicas. É crucial melhorar a coleta e a qualidade dos dados, bem como desenvolver estratégias de saúde pública que abordem as desigualdades sociais e regionais. A educação e a capacitação em primeiros socorros são fundamentais para reduzir a morbimortalidade associada a esses acidentes.