A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) é a causa mais comum de infertilidade em mulheres, manifestando-se frequentemente na adolescência. Estima-se que no Brasil, 6 a 10% das mulheres são acometidas pela SOP. Hirsutismo, presença de acne ou alopecia androgênica são manifestações comuns da doença, embora estas possam variar. O presente relato de experiência foca na abordagem de um caso de SOP em uma adolescente cuja apresentação clínica principal esteve além da fisiopatologia da doença.
Objetiva-se relatar a experiência de Acadêmicos de Medicina de uma Universidade Federal localizada no interior do Rio Grande do Sul, durante as atividades práticas do componente curricular de Saúde da Mulher I, realizadas no primeiro semestre de 2024 no Ambulatório de Saúde da Mulher.
Relatando a experiência, uma adolescente procurou o Ambulatório de Saúde da Mulher com queixas indicativas e relacionadas à SOP, que incluíam irregularidades menstruais e acne. Ela compartilhou sua frustração com as mudanças em sua aparência física, como o aumento de pelos faciais e o aumento de peso, afetando sua autoestima. Após avaliação, anticoncepcionais foram prescritos, além disso, foram realizadas orientações sobre a adoção de hábitos mais saudáveis, tais como: prática de exercícios físicos e a importância de uma alimentação balanceada, fundamentais para a melhora dos sintomas relatados. O acolhimento baseado no cuidado médico foi ofertado, sendo esclarecidas dúvidas que preocupam a paciente e transmitindo informações sobre a SOP, destacando a importância do autocuidado.
A fim de refletir acerca do cuidado, ficou evidente que a SOP é uma condição clínica que vai além dos sintomas físicos, cumprindo ao médico considerar e acolher, inclusive, os aspectos emocionais e sociais envolvidos, sendo a escuta ativa e empática atreladas ao conhecimento técnico, essenciais para estabelecer o cuidado de forma integral, centrado no paciente e suas particularidades. Desse modo, ao permitir a expressão dos sentimentos da paciente sobre os sintomas da SOP, foi possível construir uma conexão mais profunda e demonstrar empatia por parte do profissional de saúde. Esta experiência reforçou ainda mais a importância de considerar os aspectos biopsicossociais da condição, de modo que se destaca a necessidade de uma abordagem completa no cuidado médico. Reconhece-se, pois, o caráter primordial do ouvir atento e solidário para proporcionar um atendimento integral. Ademais, evidenciou-se a necessidade de um conhecimento mais aprofundado sobre as ramificações emocionais da SOP prévio à experiência. Logo, há espaço para aprimorar a integração de abordagens multidisciplinares e as habilidades de escuta e empatia, visando a melhoria contínua do cuidado médico.
Portanto, a abordagem médica com foco nos aspectos biopsicossociais do paciente é fundamental para atender suas necessidades particulares, além de representar um cuidado pertinente à realidade vivenciada por aquele indivíduo. Desse modo, por meio do diálogo e da escuta qualificada, além da empatia com relação às queixas relatadas pela adolescente, tornou-se possível a construção de um ambiente acolhedor para que seus sentimentos fossem externalizados e, assim, realizar um cuidado direcionado para além da patologia, possibilitando uma melhor relação médico-paciente.