A situação de saúde dos indígenas no Brasil é uma questão complexa e desafiadora. Ao longo dos anos, os povos indígenas enfrentam diversos desafios relacionados à saúde, resultantes de fatores sociais, psicológicos, culturais e históricos. Os itinerários de saúde são trajetórias que as pessoas percorrem em busca de cuidados e tratamentos para suas condições de saúde, seja na própria comunidade ou nos aparatos de saúde. No contexto dos povos indígenas, esses itinerários podem ser complexos, pois envolvem não apenas a busca por cuidados biomédicos e psicossociais, mas também a incorporação de práticas e conhecimentos tradicionais. Com isso, este trabalho objetiva evidenciar a experiência dos primeiros passos de construção de uma pesquisa, sobre itinerários e práticas de cuidado traçados por integrantes de comunidade indígena na região fronteira oeste do Rio Grande do Sul, nas suas situações de saúde e adoecimento. Tratando-se assim de um relato de experiência, que é uma forma de conhecimento que se transmite com aporte científico, ao encontro do que sinaliza Paulo Freire, da experiência como uma forma legítima de conhecimento. Deste modo, a necessidade deste estudo partiu de uma estudante indígena, no curso de Medicina da Universidade Federal do Pampa. E para alcançar o objetivo do estudo, que ainda está em construção, pautou-se que as integrantes fossem prioritariamente mulheres, dado ao processo histórico que envolve o protagonismo da mulher indígena. Também, optou-se em adotar uma abordagem culturalmente sensível, reconhecendo e respeitando as práticas de cura tradicionais, os sistemas de crenças e os papéis dos líderes espirituais na comunidade. Além disso, foi considerada a participação comunitária como fundamental, envolvendo ativamente os membros indígenas neste processo de construção. A partir destas considerações, por meio de uma das integrantes da construção desta pesquisa e que também pertence à comunidade Indígena local, foi organizado um encontro com os indígenas que integram a comunidade. No encontro, primeiramente ocorreram as apresentações dos membros do grupo, seguidas das apresentações dos indígenas presentes. Em seguida, foi detalhada a proposta do projeto, se fazia sentido à comunidade e solicitada a permissão para comporem junto na formulação do mesmo. Por fim, a comunidade acolheu, falou da importância desta iniciativa e já começou referindo a importância da identidade indígena, os desafios e preconceitos enfrentados por esta população, bem como sobre seus direitos. Encaminhou-se primeiramente, pela realização de um evento na praça central, que evidencia a cultura na sua diversidade e a retomada de uma horta com plantas medicinais. Por fim, entende-se que a pesquisa é construída enquanto se caminha e pode ser uma voz do povo indígena também no campo da saúde.