As Conferências e os Conselhos de Saúde foram regulamentados na década de 90 garantindo a voz da sociedade. Na 17ª Conferência Nacional de Saúde (CNS) realizada em 2023, cujo tema era “Garantir Direitos e Defender o SUS, a Vida e a Democracia”, na fase preparatória, construíram-se também as Conferências Livres (CL) que trouxeram temas mais periféricos, inovadores e até polêmicos. Foram realizadas 99 CL que mostraram uma forma de trazer temas e propostas emergentes que não cabiam na estrutura das conferências municipais e estaduais de saúde. As CL seguiram regras para que pudessem ter suas propostas incorporadas na etapa nacional: ser de âmbito nacional abrangendo pelo menos nove Unidades da Federação em três regiões geográficas do País; ser organizada por: entidades e movimentos populares e sociais com agenda de debate e ação na defesa dos direitos sociais, da democracia e da participação popular; ter como objetivo debater o tema da 17ª CNS e seus eixos temáticos. Este trabalho é uma análise da CL74 - Cannabis Medicinal, como parte da pesquisa Saúde e democracia: estudos integrados sobre participação social nas Conferências Nacionais de Saúde que tem por objetivo analisar a participação social no processo da 16ª e da 17ª Conferências Nacionais de Saúde em dimensões que permitam sistematizar evidências da relevância do processo participativo nas etapas e atividades que a compõem. Essa pesquisa conta com instituições de diferentes regiões do Brasil, apresentamos aqui as produções vinculadas ao grupo de pesquisa Afetações (IFRS campus Alvorada) que conta com bolsista CNPq-AF, e dialogou com outros grupos de pesquisa atuantes no campus com pesquisas sobre cannabis. A CL74 - Cannabis Medicinal nos apresenta a diretriz sobre a descriminalização da pessoa usuária/paciente, a reparação histórica através de investimento para o acesso e normatização do cultivo doméstico e associativo de Cannabis Sativa. Para a análise utilizamos entrevistas, o relatório de propostas e o relatório final da CN, entretanto o resultado dessa análise é feita em forma de podcast, entendendo que as conferências são um instrumento de cidadania, sendo importante que as informações produzidas circulem em diferentes camadas sociais. Portanto, com o propósito de popularizar e democratizar o conhecimento científico, concebemos a produção do Podcast. A Saúde que temos e a saúde que queremos. A escolha do formato se deve por ele se caracterizar como uma maneira/estratégia de comunicação de fácil circulação e que tem sido muito utilizada na atualidade, comunicando diferentes gêneros. O podcast Saúde que temos e a saúde que queremos. O podcast terá seus episódios em formato de narrativa não-ficcional que abordaram temas relevantes na 17° CNS, resultado de análise da pesquisa já mencionada. Para o formato podcast, além dos dados da pesquisa e interferência dos pesquisadores/narradores a partir de referencial teórico, vamos ter convidados que sejam referência no tema no podcast. A estrutura dos episódios será: 1) análise dos dados da pesquisa e escolha de fragmentos que devem incorporar o podcast; 2) criação de roteiro; 3) escolha de convidados; 4) gravação; 5) edição; 6) distribuição em plataformas de youtube, spotify e rádios comunitárias. A escolha destes meios de comunicação se ancora na realidade da comunidade de Alvorada e região metropolitana, que são cidades ditas dormitório, cujos moradores realizam pequenas viagens cotidianas no trajeto de casa para o trabalho e vice-versa, e têm por hábito acessar mídias de entretenimento e informações. Para Milton Santos, o espaço é um conjunto indissociável de sistemas de objetos e de sistemas de ações. Com base nessa ideia e nas noções de técnica e de tempo, de razão e de emoção, propõe a construção de um sistema de pensamento que busca entender o espaço geográfico. O podcast Saúde que temos e a saúde que queremos visa construir uma série de episódios que estabeleça relação entre informações da 17ª CNS e questões periféricas, de discriminação de direitos, popularizando esse conhecimento. Episódio piloto Cannabis Medicinal - mitos, tabus e verdades em relação a maconha. A partir de reuniões sistemáticas, definimos pelo tema da Cannabis Medicinal, por dialogar com estudos já desenvolvidos no IFRS Alvorada. A partir das entrevistas realizadas na 17ªCNS, foi selecionada uma entrevista para a produção do podcast piloto; outros serão produzidos na sequência. Os participantes do grupo leram a transcrição da entrevista e construíram categorias que emergiram do texto. Essas categorias seriam usadas para a construção do podcast. No segundo momento, reunimos a equipe da pesquisa, com um professor técnico em áudio para termos uma maior compreensão de métodos para deixar nosso produto mais interessante ao público. Nessa mesma reunião, esteve presente um dos organizadores das CNS que contribuiu com ferramentas teóricas e exemplos de outros Estados brasileiros que também trabalham com mídias para atrair o público. Decidimos construir categorias que nos ajudariam a polir a construção do podcast. Apresentamos algumas categorias que emergiram da entrevista escolhida: A trajetória na participação, proibicionismo, propostas das conferências, meio ambiente, reparação histórica com o povo negro e tal, saberes/conhecimentos sobre o SUS x ministro da saúde, Conferências, Conselhos, SBEC, Movimentos Sociais da Cannabis, políticas públicas, envolvimentos com o Governo, Questão racial sobre a legalização da Cannabis, remédios e outros produtos já legalizados com Cannabis, Farmácia Viva. Após aprofundar as análises e sistematizá-las, a bolsista responsável pelo projeto iria preparar um piloto e apresentar à equipe; consolidamos que o trabalho teria a entrevista como base, mas que faríamos uma narrativa costurando conceitos e problematizando questões não citadas pelo entrevistado. Uma primeira versão piloto do podcast, com duração de 6 minutos, foi apresentada na reunião do grupo. Após a apresentação, as pesquisadoras decidiram que deveriam ser incorporados ao podcast o conceito de Farmácias Vivas, assim como deveriam ser incorporados os textos sobre a legislação vigente e sobre a descriminalização da pessoa usuária e/ou paciente. Também ficou decidido realizar um aprofundamento na abordagem sobre a reparação histórica do uso da Cannabis, através de investimento para o acesso e normatização do cultivo doméstico e associativo de Cannabis Sativa. Pensar a descriminalização é pensar a liberação para as comunidades periféricas, que em sua maioria é o povo preto, a ter acesso a essa medicação. Aqui apontamos para a reparação histórica dos direitos secularmente negados à população negra, com o significado de dar prioridade a quem traz uma bagagem de negações, invisibilidades e crueldades por parte do colonizador, que só muda de roupagem no decorrer dos séculos e refina discursos de igualdade para todos. Nesse sentido, dialogamos com as produções de Costa, Bitencourt e Reale que discorrem sobre o racismo como fator de criminalização do uso da cannabis. A descriminalização e a construção de Farmácias Vivas nas comunidades mais vulneráveis representam uma ação decolonial, proporcionando a essas comunidades, autonomia em seus tratamentos, minimizando gastos públicos, em atendimentos de longa espera nas UBS. Considerações Finais: As reflexões expostas nos motivaram a construir esse podcast e os demais episódios na sequência, na perspectiva de atingirmos o maior número de pessoas, provocá-las a pensar sobre seus direitos e que se sintam convidadas a participar das próximas CS. Entendemos que o espaço das CL dá voz à população e tensiona as trocas de temáticas nevrálgicos da nossa sociedade. Além disso, buscamos popularizar a comunicação científica, usando outras linguagens e meios de divulgação que sejam acessíveis a diferentes grupos sociais.